São Paulo, Sexta-feira, 16 de Julho de 1999
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GOVERNO
Jader nem sequer foi consultado pelo presidente sobre a reforma
PMDB mantém sua cota, mas perde poder político

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso manteve o mesmo número de ministérios do PMDB, mas o partido saiu humilhado do episódio da reforma ministerial.
O presidente nacional do PMDB, senador Jader Barbalho (PA), não foi consultado por FHC a respeito da reforma, apenas informado da decisão presidencial.
O partido teve de aceitar a demissão de Renan Calheiros (Justiça) e a imposição do nome de Fernando Bezerra para o novo Ministério da Integração Nacional -que, na realidade, apenas substituiu a Secretaria de Políticas Regionais, já ocupada por um peemedebista, Ovídio de Ângelis.
Além disso, os peemedebistas devem perder a liderança do governo no Senado. O cargo era ocupado pelo senador Bezerra (PMDB-RN). Com a sua saída para o ministério, a vaga pode ser entregue para o senador José Roberto Arruda (PSDB-DF).
FHC comunicou suas intenções a dois dirigentes peemedebistas depois que já havia se decidido. O líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), estiveram com o presidente entre a noite de quarta e ontem de madrugada.
FHC disse que não tinha queixas contra Calheiros, mas que "circunstâncias políticas" o obrigavam a retirá-lo. Essas "circunstâncias" teriam sido criadas por "setores do PSDB", disse o presidente, segundo a Folha apurou.
Como o presidente não fez críticas diretas ao então ministro da Justiça, Vieira Lima e Michel Temer então perguntaram por que Calheiros não poderia permanecer em algum outro ministério.
FHC negou, dizendo que a permanência de Calheiros continuaria a gerar "conflitos".
O diálogo dos peemedebistas com o presidente foi constrangedor. FHC teria dito que estava até demitindo um amigo, Celso Lafer, mas que "política é assim mesmo".
Como prêmio de consolação, o PMDB soube que poderia escolher algum político goiano para nomear -pois o demitido Ovídio de Ângelis é de Goiás. Três cargos foram colocados à disposição: o Ministério da Cultura, o da Ciência e Tecnologia e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano.
O desdém do PMDB foi tamanho que ninguém da direção partidária quis tratar do assunto com o presidente. Coube ao ex-deputado federal Moreira Franco (PMDB-RJ) tratar do assunto.
Franco é secretário de Assuntos Legislativos no Palácio do Planalto. Tentou no final da manhã de ontem levar Calheiros para uma despedida com FHC. "Não dá", respondeu o ex-ministro.
Calheiros, que tinha a possibilidade remota de ocupar a liderança do governo no Senado, recusou essa hipótese. "Eu não me sentiria à vontade para defender o Pimenta da Veiga", disse.
Pimenta da Veiga, ministro das Comunicações, é um dos mais ferozes críticos da permanência do PMDB no governo.


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