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GOVERNO
Visão de curto prazo prevaleceu, diz ministro do Desenvolvimento
Lafer atribui sua saída a
tucanos e empresários
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Celso Lafer atribui sua saída do
Ministério do Desenvolvimento,
sete meses após tê-lo assumido, a
uma visão de curto prazo do empresariado, de que faz parte, e do
PSDB, o seu partido político.
"O empresariado queria que eu
resolvesse os problemas de curto
prazo e capital de giro, sem perceber que eu trabalhava para lhes
dar condições de investimento e o
futuro", disse à Folha ontem, em
seu gabinete, enquanto assessores
empacotavam pertences.
Quanto ao PSDB, "alguns de
seus políticos também estavam
no curto prazo, sem perceberem
que eu trabalhava como ministro
do presidente, cujo objetivo não é
a popularidade imediata, mas sim
a retomada de sua credibilidade",
afirmou Lafer.
Como é seu hábito, o ministro
usou referências literárias para
ilustrar argumentos. Desta vez,
Machado de Assis serviu para reforçar sua teoria de que a principal fonte de seus problemas no
cargo foi de caráter simbólico:
"Até o merecimento merece um
pouco de rufo e de cartazes".
Na opinião de Lafer, os dois
grandes desafios que ele não venceu foram os da "sincronização
dos tempos e dos públicos".
Ou seja: a conciliação das expectativas dos políticos, dos agentes
produtivos e da opinião pública,
que trabalham com "tempos"
muito diversos entre si.
O tempo político é mais rápido
do que o econômico, e o da opinião pública, em busca de resultados visíveis, ainda mais rápido.
Parte da sua incapacidade para
vencer esses desafios, na avaliação
de Lafer, é a complexidade do Ministério do Desenvolvimento. "Eu
lidava com açúcar, álcool, café, regime automotivo, reestruturação
produtiva, Mercosul, OMC, reforma tributária", disse.
Em comparação, o público
identifica com muito mais facilidade o que fazem ministros de
outras áreas, como saúde e educação. "Até agricultura tem um foco
aglutinador, que são as safras."
Lafer admite que parte da responsabilidade pelo insucesso
diante de expectativas diversas de
públicos diversos é de sua própria
personalidade. "Recebi críticas
por ser tímido, intelectual, diplomata, não bater bumbo."
Por não ter recebido do empresariado "o apoio inequívoco de
que necessitava" para se defender
das críticas, Lafer, segundo sua
avaliação, se enfraqueceu muito.
"Meus conterrâneos e meus
correligionários se dedicavam à
tarefa de procurar substitutos."
Do ponto de vista técnico e político, o ministro afirma sua convicção de que estava "no caminho
certo" e diz esperar que seu sucessor dê sequência a ele.
"Procurei, com a convicção de
que só o mercado resolve o problema, elaborar e implementar
políticas públicas para lidar com
as falhas do mercado sem incidir
em falhas de governo", disse.
Sua lista de realizações inclui
medidas para ampliar o acesso de
micro, pequenas e médias empresas aos recursos do BNDES, reforço às linhas de crédito à exportação do BNDES, fortalecimento do
programa de apoio à produção
local de autopeças, lançamento
do programa de apoio ao investimento em petróleo e gás, medidas
para acelerar o desenvolvimento
da Amazônia Ocidental, criação
de linha de crédito para hotelaria.
Entre as iniciativas que não chegaram a decolar, a instalação de
foros de competitividade para
identificar os elos e os gargalos
das diversas cadeias produtivas.
Lafer, 57, diz que vai descansar
algum tempo, após um ano e
meio sem férias, e depois reassumir seu posto de professor titular
da Faculdade de Direito da USP.
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