São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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ANÁLISE

Presidenciável investe nas frases de efeito

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Há muitos modos de definir o que é populismo. Tudo varia conforme se esteja falando de um modelo político, de um período histórico, estilo de comportamento pessoal, de uma determinada visão da economia... Na sabatina de ontem, Anthony Garotinho foi populista em várias acepções do termo -ainda que, naturalmente, recuse a qualificação.
É tipicamente populista, por exemplo, falar em aumento do salário mínimo do jeito que Garotinho fez. A proposta, "indutora de crescimento", já tem data para acontecer: 1º de maio de 2003.
No início do encontro, Garotinho expôs os principais pontos de seu programa. Tive dificuldade em entender quais eram, e nem o próprio Garotinho parecia vislumbrá-los com grande clareza de detalhes. Falou em reorientar os rumos do modelo atual, que privilegia o sistema financeiro; defendeu políticas de redistribuição de renda; disse que a inserção do Brasil no mundo globalizado deve ser soberana, com o país assumindo seu papel de líder na América do Sul, e que, resumindo, medidas como essas...
Medidas? Eram prioridades genéricas, cujas dificuldades de implementação não são abordadas num discurso populista. Pois é típico do populismo tratar todos os tipos de platéia do mesmo jeito, supondo que o raciocínio mais simplório será sempre o de maior sucesso.
Inconfundível, aliás, o ar frio de satisfação com que encerrava suas frases de efeito, como a entender-se com os assessores que o olhavam da platéia.
Perguntado se, afinal, o atual governo elevava os juros por prazer, Garotinho sugere que tudo se deve a uma opção deliberada em favor do sistema financeiro. Afirmou que, contra isso, irá taxar os lucros dos bancos (esqueceu-se de falar do ganho dos investidores). Também disse que, numa negociação com o FMI, não aceitaria "a redução do limite de nossas reservas". Mas a redução não foi pleiteada pelo próprio Brasil? Garotinho embrulhou-se: "Tenho minhas dúvidas!" E, na dúvida, entrou na onda de criticar a imprensa; mas o que parecia maligno em Ciro Gomes assumiu aqui versão mais bufa.


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