|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Presidenciável investe nas frases de efeito
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Há muitos modos de definir o
que é populismo. Tudo varia
conforme se esteja falando de
um modelo político, de um período histórico, estilo de comportamento pessoal, de uma
determinada visão da economia... Na sabatina de ontem,
Anthony Garotinho foi populista em várias acepções do termo -ainda que, naturalmente,
recuse a qualificação.
É tipicamente populista, por
exemplo, falar em aumento do
salário mínimo do jeito que Garotinho fez. A proposta, "indutora de crescimento", já tem data para acontecer: 1º de maio de
2003.
No início do encontro, Garotinho expôs os principais pontos de seu programa. Tive dificuldade em entender quais
eram, e nem o próprio Garotinho parecia vislumbrá-los com
grande clareza de detalhes. Falou em reorientar os rumos do
modelo atual, que privilegia o
sistema financeiro; defendeu
políticas de redistribuição de
renda; disse que a inserção do
Brasil no mundo globalizado
deve ser soberana, com o país
assumindo seu papel de líder
na América do Sul, e que, resumindo, medidas como essas...
Medidas? Eram prioridades
genéricas, cujas dificuldades de
implementação não são abordadas num discurso populista.
Pois é típico do populismo tratar todos os tipos de platéia do
mesmo jeito, supondo que o raciocínio mais simplório será
sempre o de maior sucesso.
Inconfundível, aliás, o ar frio
de satisfação com que encerrava suas frases de efeito, como a
entender-se com os assessores
que o olhavam da platéia.
Perguntado se, afinal, o atual
governo elevava os juros por
prazer, Garotinho sugere que
tudo se deve a uma opção deliberada em favor do sistema financeiro. Afirmou que, contra
isso, irá taxar os lucros dos bancos (esqueceu-se de falar do ganho dos investidores). Também disse que, numa negociação com o FMI, não aceitaria "a
redução do limite de nossas reservas". Mas a redução não foi
pleiteada pelo próprio Brasil?
Garotinho embrulhou-se: "Tenho minhas dúvidas!" E, na dúvida, entrou na onda de criticar
a imprensa; mas o que parecia
maligno em Ciro Gomes assumiu aqui versão mais bufa.
Texto Anterior: Até que ponto a mídia é tendenciosa nas eleições presidenciais? Próximo Texto: Frases Índice
|