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CONFLITO AGRÁRIO
Ministro afirma que fazenda cuja desapropriação foi anulada pelo tribunal não será vistoriada agora
Decisão do STF traz "prejuízo", diz Rossetto
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Reconhecendo que algumas regiões do país vivem conflitos "seriíssimos" no campo, o ministro
do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, classificou de "prejuízo muito importante" para a
reforma agrária a decisão do Supremo Tribunal Federal de anular
um decreto do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
O decreto permitiria a desapropriação de 13,2 mil hectares de
terras em São Gabriel (RS).
"Nossa expectativa era distinta,
mas decisões da Justiça são integralmente acolhidas. Evidentemente que isso traz um prejuízo
muito importante para o programa de assentamentos de reforma
agrária", disse Rossetto.
Segundo ele, o Incra não voltará, neste momento, a fazer vistoria na área, onde seria possível assentar 530 famílias. Rossetto não
comentou a declaração do presidente do STF, Maurício Corrêa,
de que existe "leniência" na contenção dos excessos no campo.
Evitando falar em previsão de
orçamento para sua pasta e comparar os números de invasões
deste ano com os de 2002, o ministro disse ainda que todas as
áreas acima de 15 módulos rurais
-unidade de área que varia de
acordo com a região- são passíveis de vistoria.
Para atender à necessidade de
aumento da capacidade operacional do ministério, Rossetto prevê
a contratação de 1.200 funcionários para o Incra no segundo semestre. Isso representaria aumento de 22,7% no quadro do órgão, com 5.300 servidores hoje.
"Nosso trabalho é no sentido de
que o conflito agrário não se
transforme em espaço de violência de nenhuma natureza. Temos
conflitos seriíssimos no país, especialmente em algumas regiões e
Estados," disse o ministro.
Segundo dados da Ouvidoria
Agrária, ligada ao ministério, foram 171 invasões de janeiro até este mês contra 103 em 2002. Do total, 55 foram em Pernambuco.
"Não faremos tudo. Faremos
muito, como nunca foi feito e com
qualidade nunca feita. Será um
modelo qualificado de reforma
agrária, capaz de ser gerador de
renda e de oferecer espaço de qualidade social", afirmou.
Mas, para esse modelo qualificado, o orçamento deste ano é
modesto: R$ 162 milhões autorizados, suficientes para assentar
7.200 famílias até o final do ano.
Para complementar esse dado,
o ministério lembra dos R$ 5,4 bilhões destinados ao Pronaf (financiamento que inclui verba para melhoria de assentamentos).
Para a meta de 60 mil famílias
assentadas até março de 2004, seria necessário R$ 1 bilhão, caso o
governo comprasse todas as
áreas. Rossetto afirma que vai trabalhar com terras públicas, devolutas e outras para reduzir esse
custo. O levantamento dessas
áreas está sendo finalizado.
Porém, para 2004, "teremos o
maior orçamento para reforma
agrária que o país já viu", diz o ministro, sem arriscar números.
Afirma que "não fala em meta
porque o governo está em momento de definição", se referindo
ao Plano Plurianual 2004-2007, a
ser enviado pelo governo ao Congresso até 29 deste mês.
Em entrevista concedida em seu
gabinete, Rossetto, por mais de
uma vez, reafirmou o pronunciamento de Lula, feito anteontem,
dizendo que a reforma agrária será em ambiente democrático e
construída com "respeito à Constituição e à legalidade".
Usando como base o cumprimento da lei, Rossetto diz: "Todas
as áreas acima de 15 módulos rurais são passíveis de avaliação
porque a Constituição exige respeito à função social".
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