São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

Texto Anterior | Índice

POLÍTICA DA IMAGEM

A proposta é bater

RENATA LO PRETE

A acreditar no que anunciam os tucanos, mudou o tom da campanha eleitoral. Resolvido, avaliam, o problema com o "mentiroso" e "desequilibrado" Ciro Gomes, a conversa com Lula será outra."Vamos debater, sem ataques", afirmou Nizan Guanaes em evento recente. Afinal, o petista é, na definição do publicitário, um sujeito "bacana".
O debate tem como centro a questão do emprego e será, de acordo com o site de José Serra na internet, "civilizado".
O candidato promete criar oito milhões de postos de trabalho. Segundo sua propaganda, "mostra na ponta do lápis" como fazê-lo. O tucano cutuca Lula por "fugir ao debate", já que o petista "promete dez milhões" de vagas e "não mostra" como criá-las.
A primeira observação a fazer sobre a anunciada nova era da campanha é que não se trata de debate. Esse pressupõe alguma dose de racionalidade, o que não combina com os bordões do horário eleitoral gratuito.
Apresentada com a lábia de Gugu Liberato, a mágica dos oito milhões parece mais simples de ser alcançada do que a ajuda a necessitados oferecida no programa dominical do animador.
No setor de turismo, por exemplo, serão 850 mil novos empregos, porque "a idéia é aumentar o número de turistas de cinco milhões para nove milhões por ano". Faz lembrar o slogan com o qual, em março, Serra criticava promessas de adversários: "se fosse fácil, alguém teria feito".
Os tucanos não são os únicos responsáveis pelo pseudodebate em curso. Em resposta à provocação dos dez milhões, o PT tem se limitado a observar que nunca prometeu nada. Apenas registrou em documentos que "o país precisa criar" essas vagas.
De fato foram esses os termos usados, mas alguém poderia perguntar por que acenar com o número se não havia intenção de se comprometer com ele.
Central nas preocupações do eleitor, emprego é, na estratégia tucana, o "gancho" com que se procura estabelecer a idéia da falta de preparo do petista para lidar com essa e outras questões, ou seja, para exercer a Presidência.
É contra essa percepção, manifestada por parte do eleitorado em pesquisas à disposição de todas as campanhas, que Duda Mendonça vem vacinando Lula sem parar nos programas do horário gratuito. É agarrado a ela que Nizan Guanaes buscará "desconstruí-lo", para usar o termo da marquetagem.
Se não for suficiente, há ainda a tática, utilizada com tanto sucesso contra Ciro, de resgatar frases infelizes do adversário.
O desafio parece maior do que o anterior. A imagem de Lula é mais consolidada e, portanto, menos sujeita à erosão que a do candidato da Frente Trabalhista. Mas, diante da eficiência demonstrada contra Ciro, não convém duvidar da capacidade ofensiva dos tucanos.
"Lula: ou ele esconde o que pensa ou não sabe o que diz." Levado ao ar pela primeira vez na noite de sábado, esse comercial trabalha a um só tempo as questões do "despreparo" e do "lobo em pele de cordeiro".
A contundência do slogan deixa claro que não se deve dar um tostão pela promessa de uma campanha "sem ataques" e baseada em "debates". A mesma ladainha foi ouvida pouco antes do tiroteio vigente no horário gratuito.
No momento, Lula se dispõe a seguir "propositivo" na televisão, ignorando os disparos de Serra. Até quando permanecerá assim? Tudo depende das pesquisas. Se alguma delas indicar sangue na água, também ele deixará de ser civilizado.


A repórter RENATA LO PRETE escreve às segundas-feiras nesta coluna.

Texto Anterior: Collor sempre visitava a cidade
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.