|
Texto Anterior | Índice
POLÍTICA DA IMAGEM
A proposta é bater
RENATA LO PRETE
A acreditar no que anunciam os tucanos, mudou o
tom da campanha eleitoral. Resolvido, avaliam, o problema com
o "mentiroso" e "desequilibrado"
Ciro Gomes, a conversa com Lula
será outra."Vamos debater, sem
ataques", afirmou Nizan Guanaes em evento recente. Afinal, o
petista é, na definição do publicitário, um sujeito "bacana".
O debate tem como centro a
questão do emprego e será, de
acordo com o site de José Serra na
internet, "civilizado".
O candidato promete criar oito
milhões de postos de trabalho. Segundo sua propaganda, "mostra
na ponta do lápis" como fazê-lo.
O tucano cutuca Lula por "fugir
ao debate", já que o petista "promete dez milhões" de vagas e
"não mostra" como criá-las.
A primeira observação a fazer
sobre a anunciada nova era da
campanha é que não se trata de
debate. Esse pressupõe alguma
dose de racionalidade, o que não
combina com os bordões do horário eleitoral gratuito.
Apresentada com a lábia de
Gugu Liberato, a mágica dos oito
milhões parece mais simples de
ser alcançada do que a ajuda a
necessitados oferecida no programa dominical do animador.
No setor de turismo, por exemplo, serão 850 mil novos empregos, porque "a idéia é aumentar o
número de turistas de cinco milhões para nove milhões por ano".
Faz lembrar o slogan com o qual,
em março, Serra criticava promessas de adversários: "se fosse
fácil, alguém teria feito".
Os tucanos não são os únicos
responsáveis pelo pseudodebate
em curso. Em resposta à provocação dos dez milhões, o PT tem se
limitado a observar que nunca
prometeu nada. Apenas registrou
em documentos que "o país precisa criar" essas vagas.
De fato foram esses os termos
usados, mas alguém poderia perguntar por que acenar com o número se não havia intenção de se
comprometer com ele.
Central nas preocupações do
eleitor, emprego é, na estratégia
tucana, o "gancho" com que se
procura estabelecer a idéia da falta de preparo do petista para lidar com essa e outras questões, ou
seja, para exercer a Presidência.
É contra essa percepção, manifestada por parte do eleitorado
em pesquisas à disposição de todas as campanhas, que Duda
Mendonça vem vacinando Lula
sem parar nos programas do horário gratuito. É agarrado a ela
que Nizan Guanaes buscará "desconstruí-lo", para usar o termo da
marquetagem.
Se não for suficiente, há ainda a
tática, utilizada com tanto sucesso contra Ciro, de resgatar frases
infelizes do adversário.
O desafio parece maior do que o
anterior. A imagem de Lula é
mais consolidada e, portanto,
menos sujeita à erosão que a do
candidato da Frente Trabalhista.
Mas, diante da eficiência demonstrada contra Ciro, não convém duvidar da capacidade ofensiva dos tucanos.
"Lula: ou ele esconde o que pensa ou não sabe o que diz." Levado
ao ar pela primeira vez na noite
de sábado, esse comercial trabalha a um só tempo as questões do
"despreparo" e do "lobo em pele
de cordeiro".
A contundência do slogan deixa
claro que não se deve dar um tostão pela promessa de uma campanha "sem ataques" e baseada
em "debates". A mesma ladainha
foi ouvida pouco antes do tiroteio
vigente no horário gratuito.
No momento, Lula se dispõe a
seguir "propositivo" na televisão,
ignorando os disparos de Serra.
Até quando permanecerá assim?
Tudo depende das pesquisas. Se
alguma delas indicar sangue na
água, também ele deixará de ser
civilizado.
A repórter RENATA LO PRETE escreve
às segundas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Collor sempre visitava a cidade Índice
|