São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Novidades

O Jornal da Record de Boris Casoy, que há quase um mês faz de longe a melhor cobertura eletrônica do caso, anunciou ontem, em primeira manchete:
- Dois policiais militares são presos por suspeita de participar do assassinato dos moradores de rua em São Paulo.
Foi depois de um dia inteiro de especulação nos programas de televisão, locais e policiais, nas rádios e nos sites.
Desde a manhã se ouvia, como na Jovem Pan, que "novidades podem surgir".
A mesma expressão era usada pelo SPTV, mas, citando até o secretário de Segurança, para o telejornal o caminho era outro, não policiais:
- A polícia tem três suspeitos de terem cometido os crimes, dois são seguranças particulares no centro.
E tome o aviso de "novidades para as próximas horas".
 
No meio do caminho, "mais um". Da Band News:
- Jovem é detido após atacar mais um morador de rua.
Foi o destaque do policialesco Cidade Alerta:
- Com este, já são 20 os casos de moradores de rua atacados. Nove morreram.
E tome especulação, com as imagens de um Opala que teria sido usado pelos assassinos, nas primeiras mortes.
 
Até que chegou Boris Casoy e encerrou a especulação, com os PMs "chefes de um sistema de segurança clandestino".
Os dois, vale sublinhar, foram detidos anteontem.
E o secretário de Segurança, vale lembrar, afirmou semanas atrás que não eram policiais os assassinos.

ANARQUIA

Reprodução
A destruição virtual de uma denúncia da CBS de fraude no histórico militar de George Bush -destruição devida a um "levante" de blogs contra suas provas- mexeu com a mídia americana, que não trata de outra coisa. "A revolta dos blogs aponta o fim da dominação da velha mídia" foi o enunciado do site editor&publisher (ilustração acima) para resumir o que se vem escrevendo sobre o caso, "inclusive os colunistas". Já os editores da "velha mídia", ouvidos pelo site, resistem. Por exemplo, para o do "San Francisco Chronicle", "os blogs são moda e pode haver outra em seis meses".
Pode haver, mas o abalo de um ícone do telejornalismo como o "60 Minutes" da CBS é tratado como ponto de inflexão do "Washington Post" à Folha -esta na coluna de Nelson Ascher, na segunda passada. E o "New York Observer" fez reportagem ontem sobre a "debandada" de nomes como James Wolcott, da "Vanity Fair":
- É uma autobahn de gente se dirigindo à web.
Mas o editor do "Chicago Tribune" avisa:
- Você pode atingir uma anarquia de informação.
O debate chegou ao "publisher" do "New York Times", em palestra na segunda, numa universidade:
- É um fenômeno on-line, o levante dos blogs. Esses indivíduos publicam diários que oferecem a narrativa de seus pensamentos. Alguns são jornalistas, mas na vasta maioria são apenas pessoas com alguma coisa na cabeça. Enquanto alguns estão fazendo uma contribuição séria e pensada para nosso diálogo global, muitos -demais- simplesmente contribuem para a sensação de que nós estamos no meio de um vale-tudo.

ANARQUIA À BRASILEIRA

Reprodução
Por aqui, ainda estão distantes a anarquia e o vale-tudo dos blogs americanos. Em política, há poucos, em fase de afirmação. Em cultura, a "dominação" está próxima, com blogueiros como o citado escritor Nelson Ascher, o cineasta Carlos Reichenbach etc. etc.
O que grassa na web brasileira são os sites partidários e estatais, como o monstro de Gushiken. Alguns se dizem "agências" de notícias. O PT tem a sua, o PSDB também e agora é o PFL que passa a dar "notícias". É a "anarquia da informação", mas à moda brasileira.

Má notícia
"Acabou a TPC", anunciou o JN, comprando a piada de Lula da tensão pré-Copom. Antonio Palocci surgiu então para dizer que política econômica "não é feita só de boas notícias".
Mas bem que José Dirceu e o PT garantiram seu discursinho eleitoral, contra os juros.

Parece
A diretora do Ibope, ontem na CBN, dizia que Marta Suplicy apresenta "crescimento gradual e constante" e que José Serra "cresceu no início da campanha e parece estar se estabilizando". Segundo turno, portanto.
Ou não, pelo jeito que anda a intenção de voto em 2004.


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