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"Não devo a ninguém", diz ex-assessor de Mercadante
Apontado como quem levou dinheiro para comprar o dossiê, Hamilton Lacerda foi indiciado
Apesar de não estar filiado ao
partido, pré-candidato do PT
à Prefeitura de São Caetano
afirma que ele continua
influenciando no diretório
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Apontado pela Polícia Federal como o homem que levou a
um hotel de São Paulo mala e
sacolas com R$ 1,16 milhão e
US$ 248,8 mil que seriam usados na compra de um dossiê
contra políticos do PSDB, o
coordenador de comunicação
da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) em
2006, Hamilton Lacerda, 42,
diz que "não deve nada para
ninguém".
"Resido no mesmo lugar [em
São Caetano do Sul], vivendo
muito bem com meus vizinhos,
com meus antigos eleitores,
uma relação super respeitosa,
porque as pessoas aqui sabem
quem eu sou e quem eu era, não
devo nada para ninguém e não
tem por que eu mudar de vida",
disse Lacerda, numa curta conversa pelo telefone celular na
última quarta-feira. Ele não
quis receber a reportagem.
Há um ano, o engenheiro eletrônico e ex-candidato a prefeito de São Caetano, um dos principais nomes do PT da cidade,
esteve duas vezes no hotel Ibis,
perto do aeroporto de Congonhas, onde estavam hospedados Gedimar Pereira Passos,
agente aposentado da PF que
atuava na equipe de inteligência da campanha à reeleição do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, e Valdebran Padilha, empreiteiro de Cuiabá. Ambos seriam presos, com o dinheiro, no
final da manhã do dia 15.
Às 8h51 de 13 de setembro,
Lacerda entrou no hotel carregando uma mala preta e uma
pasta. Saiu às 9h20 sem a mala.
Aos nove minutos da madrugada do dia 15, poucas horas antes
das prisões, Lacerda voltou ao
hotel com uma maleta na mão
direita e uma sacola na esquerda. Aos 47 minutos do mesmo
dia, deixou o hotel sem a sacola.
Lacerda foi indiciado pela PF
por suposta lavagem de dinheiro. Tanto à PF quanto à CPI dos
Sanguessugas, na Câmara, alegou que carregava panfletos de
campanha, computador pessoal e roupas para Passos. Foi
contestado duramente por deputados da CPI, mas manteve a
versão. Um ano depois, não
quer falar mais no assunto.
"Não estou filiado a nenhum
partido político. Você me localizou, estou vivo, com saúde,
curtindo meus filhos e tentando retomar minha vida, porque
foi uma situação muito complicada que eu vivi. O que eu tinha
pra falar, falei na Polícia Federal e na CPI", disse Lacerda.
"A Polícia Federal pediu indiciamento e esse troço está
entre a Procuradoria [da República] e a Justiça de Cuiabá, eu
não sei, entendeu? Agora, eu
estou com todos os meus direitos garantidos, os meus advogados não me deram nenhuma
notícia, está tudo ok, parado,
entendeu? Estou retomando
minha vida", repetiu Lacerda,
que diz tocar uma imobiliária
da família, a GH Lacerda Negócios Imobiliários, que funciona
num sobrado da rua Benito
Campoi, em São Caetano.
Militância
Lacerda afirmou à reportagem que não tem mais militância polícia nem faz "contatos
políticos" desde que pediu desfiliação do PT, após o início do
escândalo, no ano passado. Não
é o que dizem integrantes do
próprio partido. O arquiteto
João Moraes (PT), que foi vereador pelo partido entre 1982
e 1992, vê os dedos de Lacerda
por todo lugar na briga interna
do partido para a definição do
nome do pré-candidato a prefeito de São Caetano - Moraes
é um dos cotados. "Ele [Lacerda] continua, de alguma maneira, interferindo no PT, a nível
local, nível regional e a nível nacional", disse Moraes.
O ex-vereador disputa com
Jayme Tortorello (PT), irmão
do ex-prefeito petebista Luiz
Tortorello, morto em 2004, a
chance de disputar o cargo pelo
PT. Para Moraes, Lacerda apóia
Tortorello nos bastidores. A
mulher do ex-assessor de Mercadante, Maria Izabel, é vice-presidente do diretório municipal do PT. O ex-assessor de
Mercadante também é amigo
do presidente, Ricardo Rios,
que nega a atuação política de
Lacerda no partido. "Ele está
tocando a vida dele, e tocando
bem, dando aulas na faculdade
[Unicastelo], tocando a imobiliária do pai dele."
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