São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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"Não devo a ninguém", diz ex-assessor de Mercadante

Apontado como quem levou dinheiro para comprar o dossiê, Hamilton Lacerda foi indiciado

Apesar de não estar filiado ao partido, pré-candidato do PT à Prefeitura de São Caetano afirma que ele continua influenciando no diretório

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Apontado pela Polícia Federal como o homem que levou a um hotel de São Paulo mala e sacolas com R$ 1,16 milhão e US$ 248,8 mil que seriam usados na compra de um dossiê contra políticos do PSDB, o coordenador de comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) em 2006, Hamilton Lacerda, 42, diz que "não deve nada para ninguém".
"Resido no mesmo lugar [em São Caetano do Sul], vivendo muito bem com meus vizinhos, com meus antigos eleitores, uma relação super respeitosa, porque as pessoas aqui sabem quem eu sou e quem eu era, não devo nada para ninguém e não tem por que eu mudar de vida", disse Lacerda, numa curta conversa pelo telefone celular na última quarta-feira. Ele não quis receber a reportagem.
Há um ano, o engenheiro eletrônico e ex-candidato a prefeito de São Caetano, um dos principais nomes do PT da cidade, esteve duas vezes no hotel Ibis, perto do aeroporto de Congonhas, onde estavam hospedados Gedimar Pereira Passos, agente aposentado da PF que atuava na equipe de inteligência da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e Valdebran Padilha, empreiteiro de Cuiabá. Ambos seriam presos, com o dinheiro, no final da manhã do dia 15.
Às 8h51 de 13 de setembro, Lacerda entrou no hotel carregando uma mala preta e uma pasta. Saiu às 9h20 sem a mala. Aos nove minutos da madrugada do dia 15, poucas horas antes das prisões, Lacerda voltou ao hotel com uma maleta na mão direita e uma sacola na esquerda. Aos 47 minutos do mesmo dia, deixou o hotel sem a sacola.
Lacerda foi indiciado pela PF por suposta lavagem de dinheiro. Tanto à PF quanto à CPI dos Sanguessugas, na Câmara, alegou que carregava panfletos de campanha, computador pessoal e roupas para Passos. Foi contestado duramente por deputados da CPI, mas manteve a versão. Um ano depois, não quer falar mais no assunto.
"Não estou filiado a nenhum partido político. Você me localizou, estou vivo, com saúde, curtindo meus filhos e tentando retomar minha vida, porque foi uma situação muito complicada que eu vivi. O que eu tinha pra falar, falei na Polícia Federal e na CPI", disse Lacerda.
"A Polícia Federal pediu indiciamento e esse troço está entre a Procuradoria [da República] e a Justiça de Cuiabá, eu não sei, entendeu? Agora, eu estou com todos os meus direitos garantidos, os meus advogados não me deram nenhuma notícia, está tudo ok, parado, entendeu? Estou retomando minha vida", repetiu Lacerda, que diz tocar uma imobiliária da família, a GH Lacerda Negócios Imobiliários, que funciona num sobrado da rua Benito Campoi, em São Caetano.

Militância
Lacerda afirmou à reportagem que não tem mais militância polícia nem faz "contatos políticos" desde que pediu desfiliação do PT, após o início do escândalo, no ano passado. Não é o que dizem integrantes do próprio partido. O arquiteto João Moraes (PT), que foi vereador pelo partido entre 1982 e 1992, vê os dedos de Lacerda por todo lugar na briga interna do partido para a definição do nome do pré-candidato a prefeito de São Caetano - Moraes é um dos cotados. "Ele [Lacerda] continua, de alguma maneira, interferindo no PT, a nível local, nível regional e a nível nacional", disse Moraes.
O ex-vereador disputa com Jayme Tortorello (PT), irmão do ex-prefeito petebista Luiz Tortorello, morto em 2004, a chance de disputar o cargo pelo PT. Para Moraes, Lacerda apóia Tortorello nos bastidores. A mulher do ex-assessor de Mercadante, Maria Izabel, é vice-presidente do diretório municipal do PT. O ex-assessor de Mercadante também é amigo do presidente, Ricardo Rios, que nega a atuação política de Lacerda no partido. "Ele está tocando a vida dele, e tocando bem, dando aulas na faculdade [Unicastelo], tocando a imobiliária do pai dele."


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