São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Senado enfrenta impasse após absolvição

Oposição não conseguiu cassar Renan, mas base governista também não consegue encerrar crise que já dura três meses

Sérgio Guerra diz que "isso não vai mudar enquanto o Renan achar que ganhou'; José Agripino afirma que renanzistas estão alienados

FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Senado vive um impasse depois da absolvição de seu presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele resiste a se afastar do cargo e terá dificuldades para comandar os trabalhos, já que a Casa está rachada. O principal teste será a prorrogação da CPMF, que precisa ser aprovada até o final do ano.
Apesar de ter sido derrotada, a oposição ameaça fazer uma "obstrução seletiva" das votações e a base governista não consegue encerrar a crise, que já dura mais de três meses. Há outros dois processos em tramitação contra Renan, por quebra de decoro, e outra representação já foi protocolada.
Aliados de Renan acusam a oposição de adotar uma atitude antidemocrática, já que a maioria do Senado o absolveu na quarta. Liderados por PSDB e DEM, um grupo de senadores de seis partidos anunciou que não participará de nenhuma reunião presidida por Renan.
"O Democratas não tem nada de democrata. O partido está acabado e está querendo levar o PSDB junto para o buraco", afirmou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), da tropa de choque renanzista.
O líder do DEM, José Agripino (RN), diz que está preocupado com a imagem da instituição. "Essas pessoas não estão andando nas ruas, não estão percebendo a indignação. São absolutamente alienadas e fora da realidade nacional", disse.
O PSDB e do DEM orientaram suas bancadas a votar pela cassação e fizeram disso uma bandeira. Agora, insistem que Renan precisa se afastar da presidência enquanto as investigações estiverem em curso.
"Isso não vai mudar enquanto o Renan achar que ganhou", afirmou Sérgio Guerra (PSDB-PE), que deverá ser eleito presidente de seu partido em novembro. "A Casa elegeu Renan duas vezes presidente, agora o absolveu, e ele não percebe que deveria fazer algum gesto de retribuição", afirmou o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
No mês passado, lideranças da oposição chegaram a anunciar que não votariam mais nada até que Renan se afastasse da presidência. Mas eles só conseguiram sustentar o protesto por uma semana porque suas próprias bancadas se rebelaram. Por isso decidiram agora fazer uma obstrução "seletiva".
O Palácio do Planalto operou para absolver Renan, mas agora não tem garantia de que o Senado voltará à normalidade. A preocupação maior é com a prorrogação da CPMF.
Por esse motivo preferia que Renan se licenciasse do cargo, que seria assumido temporariamente pelo vice-presidente Tião Viana (PT-AC). O objetivo seria acalmar os ânimos. Renan não aceita. "Cresce o ressentimento na Casa", disse Tião.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), minimiza as dificuldades afirmando que a emenda que prorroga a CPMF só deve ser votada em plenário no final de outubro. "Até lá o tempo abriu e fechou várias vezes", disse ele.
Renan não quer se afastar do cargo porque avalia que ficaria enfraquecido na defesa dos próximos processos. Nesta semana, o senador João Pedro (PT-AM) deverá recomendar o arquivamento da denúncia de tráfico de influência para beneficiar a cervejaria Schincariol. Mas as representações seguintes serão mais contundentes. O Conselho de Ética investigará se Renan comprou rádios por meio de "laranjas".


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