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Senado enfrenta impasse após absolvição
Oposição não conseguiu cassar Renan, mas base governista também não consegue encerrar crise que já dura três meses
Sérgio Guerra diz que "isso não vai mudar enquanto o Renan achar que ganhou'; José Agripino afirma que renanzistas estão alienados
FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Senado vive um impasse
depois da absolvição de seu
presidente, Renan Calheiros
(PMDB-AL). Ele resiste a se
afastar do cargo e terá dificuldades para comandar os trabalhos, já que a Casa está rachada.
O principal teste será a prorrogação da CPMF, que precisa ser
aprovada até o final do ano.
Apesar de ter sido derrotada,
a oposição ameaça fazer uma
"obstrução seletiva" das votações e a base governista não
consegue encerrar a crise, que
já dura mais de três meses. Há
outros dois processos em tramitação contra Renan, por quebra de decoro, e outra representação já foi protocolada.
Aliados de Renan acusam a
oposição de adotar uma atitude
antidemocrática, já que a maioria do Senado o absolveu na
quarta. Liderados por PSDB e
DEM, um grupo de senadores
de seis partidos anunciou que
não participará de nenhuma
reunião presidida por Renan.
"O Democratas não tem nada
de democrata. O partido está
acabado e está querendo levar o
PSDB junto para o buraco",
afirmou o senador Wellington
Salgado (PMDB-MG), da tropa
de choque renanzista.
O líder do DEM, José Agripino (RN), diz que está preocupado com a imagem da instituição. "Essas pessoas não estão
andando nas ruas, não estão
percebendo a indignação. São
absolutamente alienadas e fora
da realidade nacional", disse.
O PSDB e do DEM orientaram suas bancadas a votar pela
cassação e fizeram disso uma
bandeira. Agora, insistem que
Renan precisa se afastar da presidência enquanto as investigações estiverem em curso.
"Isso não vai mudar enquanto o Renan achar que ganhou",
afirmou Sérgio Guerra (PSDB-PE), que deverá ser eleito presidente de seu partido em novembro. "A Casa elegeu Renan
duas vezes presidente, agora o
absolveu, e ele não percebe que
deveria fazer algum gesto de retribuição", afirmou o líder do
PSDB, Arthur Virgílio (AM).
No mês passado, lideranças
da oposição chegaram a anunciar que não votariam mais nada até que Renan se afastasse
da presidência. Mas eles só
conseguiram sustentar o protesto por uma semana porque
suas próprias bancadas se rebelaram. Por isso decidiram agora
fazer uma obstrução "seletiva".
O Palácio do Planalto operou
para absolver Renan, mas agora
não tem garantia de que o Senado voltará à normalidade. A
preocupação maior é com a
prorrogação da CPMF.
Por esse motivo preferia que
Renan se licenciasse do cargo,
que seria assumido temporariamente pelo vice-presidente
Tião Viana (PT-AC). O objetivo
seria acalmar os ânimos. Renan
não aceita. "Cresce o ressentimento na Casa", disse Tião.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR),
minimiza as dificuldades afirmando que a emenda que prorroga a CPMF só deve ser votada
em plenário no final de outubro. "Até lá o tempo abriu e fechou várias vezes", disse ele.
Renan não quer se afastar do
cargo porque avalia que ficaria
enfraquecido na defesa dos
próximos processos. Nesta semana, o senador João Pedro
(PT-AM) deverá recomendar o
arquivamento da denúncia de
tráfico de influência para beneficiar a cervejaria Schincariol.
Mas as representações seguintes serão mais contundentes. O
Conselho de Ética investigará
se Renan comprou rádios por
meio de "laranjas".
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