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ELEIÇÕES 2006 / ESTATÍSTICAS
Votos nulos para deputado crescem, mas diminuem os para presidente
Segundo especialistas, mudança na lei eleitoral e escândalos que atingiram Congresso influenciaram votação
Escolha presidencial teve o
menor número de brancos e
nulos das últimas quatro
eleições; no Nordeste, onde
Lula vence, queda é maior
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A onda de escândalos dos últimos meses fez o eleitor desprezar mais a eleição para a Câmara dos Deputados do que para a Presidência da República.
Isso pelo menos na contabilidade dos votos nulos e brancos
na eleição do último dia 1º.
A escolha presidencial teve o
menor número de brancos e
nulos das últimas quatro eleições. Somados, eles representaram 8,4% da escolha dos eleitores, contra 10,4% de 2002 e
18,7% da eleição de 1998.
No Nordeste, onde Lula teve
sua votação mais expressiva, a
queda foi mais forte. No Maranhão, por exemplo, 16% dos votantes anularam o voto para
presidente em 2002. Agora, esse índice ficou em 7,4%.
O brasileiro não teve a mesma paciência para o Legislativo
federal. O número de nulos
cresceu 66%, e o de brancos,
34%. Assim, o bloco de votos
não válidos em relação ao total
passou de 7,6% para 11,1%.
Nos principais Estados do
país o voto de protesto para deputado federal foi mais forte.
No Rio de Janeiro, os nulos
cresceram 127% e os brancos
63%. Em São Paulo, esses números foram, respectivamente,
de 109% e 27%.
Em termos absolutos, quase
4,5 milhões de eleitores a mais
optaram por votar nulo ou
branco para deputado federal.
As causas
Especialistas ouvidos se dividem quanto às causas da diminuição de votos válidos para a
Câmara dos Deputados.
"Parece-me muito provável
que o aumento de votos nulos e
brancos nas eleições para o Legislativo esteja relacionado ao
desgaste da imagem do Congresso em decorrência dos diversos escândalos que essa instituição protagonizou nos últimos tempos", diz Cláudio Gonçalves Couto, do Departamento
de Política da PUC paulistana.
Para Jairo Nicolau, professor
do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do RJ) e autor
de "História do Voto no Brasil"
(2002), uma hipótese provável
foram as mudanças nas regras
eleitorais, com a proibição de
outdoors e camisetas, que influíram no aumento de nulos e
brancos para a Câmara.
"As campanhas proporcionais já têm menos cobertura da
mídia. Isso aliado ao desaparecimento das candidaturas nas
ruas atrapalhou, principalmente os candidatos de opinião",
diz Nicolau, dando como exemplo Delfim Netto (PMDB-SP),
que não conseguiu a reeleição.
Apesar do aumento em relação a 2002, o número de nulos e
brancos para o Legislativo federal fica longe da época em
que o voto não era eletrônico.
E isso é motivo de comemoração, diz Carlos Ranulfo Melo,
49, professor da UFMG e autor
de "Retirando as Cadeiras do
Lugar - Migração Partidária na
Câmara dos Deputados".
"Creio que estamos diante de
uma boa notícia. Apesar de tudo o que ocorreu e de termos
presenciado, aqui e ali, campanhas pelo voto nulo, o número
de eleitores que optou por esse
caminho foi muito pequeno.
Felizmente, para a democracia
brasileira, as pessoas continuam acreditando que o melhor é escolher alguém, ainda
que, em muitos casos, essa escolha se realize na última hora
e com base em pouca informação", afirma Ranulfo.
Colaborou MAURÍCIO PULS , da Redação
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