São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / ESTATÍSTICAS

Votos nulos para deputado crescem, mas diminuem os para presidente

Segundo especialistas, mudança na lei eleitoral e escândalos que atingiram Congresso influenciaram votação

Escolha presidencial teve o menor número de brancos e nulos das últimas quatro eleições; no Nordeste, onde Lula vence, queda é maior

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A onda de escândalos dos últimos meses fez o eleitor desprezar mais a eleição para a Câmara dos Deputados do que para a Presidência da República. Isso pelo menos na contabilidade dos votos nulos e brancos na eleição do último dia 1º.
A escolha presidencial teve o menor número de brancos e nulos das últimas quatro eleições. Somados, eles representaram 8,4% da escolha dos eleitores, contra 10,4% de 2002 e 18,7% da eleição de 1998.
No Nordeste, onde Lula teve sua votação mais expressiva, a queda foi mais forte. No Maranhão, por exemplo, 16% dos votantes anularam o voto para presidente em 2002. Agora, esse índice ficou em 7,4%.
O brasileiro não teve a mesma paciência para o Legislativo federal. O número de nulos cresceu 66%, e o de brancos, 34%. Assim, o bloco de votos não válidos em relação ao total passou de 7,6% para 11,1%.
Nos principais Estados do país o voto de protesto para deputado federal foi mais forte. No Rio de Janeiro, os nulos cresceram 127% e os brancos 63%. Em São Paulo, esses números foram, respectivamente, de 109% e 27%. Em termos absolutos, quase 4,5 milhões de eleitores a mais optaram por votar nulo ou branco para deputado federal.

As causas
Especialistas ouvidos se dividem quanto às causas da diminuição de votos válidos para a Câmara dos Deputados.
"Parece-me muito provável que o aumento de votos nulos e brancos nas eleições para o Legislativo esteja relacionado ao desgaste da imagem do Congresso em decorrência dos diversos escândalos que essa instituição protagonizou nos últimos tempos", diz Cláudio Gonçalves Couto, do Departamento de Política da PUC paulistana.
Para Jairo Nicolau, professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do RJ) e autor de "História do Voto no Brasil" (2002), uma hipótese provável foram as mudanças nas regras eleitorais, com a proibição de outdoors e camisetas, que influíram no aumento de nulos e brancos para a Câmara.
"As campanhas proporcionais já têm menos cobertura da mídia. Isso aliado ao desaparecimento das candidaturas nas ruas atrapalhou, principalmente os candidatos de opinião", diz Nicolau, dando como exemplo Delfim Netto (PMDB-SP), que não conseguiu a reeleição.
Apesar do aumento em relação a 2002, o número de nulos e brancos para o Legislativo federal fica longe da época em que o voto não era eletrônico. E isso é motivo de comemoração, diz Carlos Ranulfo Melo, 49, professor da UFMG e autor de "Retirando as Cadeiras do
Lugar - Migração Partidária na Câmara dos Deputados". "Creio que estamos diante de uma boa notícia. Apesar de tudo o que ocorreu e de termos presenciado, aqui e ali, campanhas pelo voto nulo, o número de eleitores que optou por esse caminho foi muito pequeno.
Felizmente, para a democracia brasileira, as pessoas continuam acreditando que o melhor é escolher alguém, ainda que, em muitos casos, essa escolha se realize na última hora e com base em pouca informação", afirma Ranulfo.


Colaborou MAURÍCIO PULS , da Redação


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