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MISTÉRIO EM ALAGOAS
Delegados têm visão diferente sobre o suposto envolvimento de Augusto Farias na morte do irmão
Indiciamento de deputado divide polícia
ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió
MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió
Os delegados que
conduzem a investigação sobre as
mortes de Paulo
César Farias e Suzana Marcolino estão
divididos sobre o indiciamento
do deputado Augusto Farias
(PPB-AL), irmão de PC, como um
dos co-autores das mortes ocorridas em 1996. O juiz do caso, Alberto Jorge Correia, quer receber
a conclusão do inquérito hoje
(leia texto nesta página).
O delegado Alcides Andrade,
que no dia 25 de agosto havia dito
que era "quase inevitável" o indiciamento de Augusto Farias,
mantém a posição, afirmando
que há indícios suficientes de participação do deputado na trama
que levou às mortes de PC e Suzana, com um tiro cada.
O presidente do inquérito, Antônio Carlos Lessa, tem resistido
ao indiciamento de Augusto, conforme apurou a Folha.
Em agosto, porém, depois de o
jornal revelar que ele gravara uma
suposta tentativa de suborno para
não indiciar Augusto Farias, feita
por um funcionário de empresa
do deputado, Lessa disse: "Quem
não deve não teme. Se ele (Augusto) mandou alguém, é porque deve ter culpa no cartório".
Conversa
Na conversa com o jornalista
Roberto Baía, chefe da sucursal de
Arapiraca (AL) da "Tribuna de
Alagoas", jornal dos Farias, Lessa
perguntou quanto ganharia. "Você é quem diz", respondeu Baía,
conforme laudo anexado ao inquérito.
Baía disse ao delegado Lessa
que conversara com Augusto Farias numa festa da "Tribuna"
-fotos publicadas pelo jornal
confirmam que os dois estiveram
juntos na comemoração.
De acordo com o jornalista, o
deputado lhe falou: "Baía, o Gabriel (Mousinho, primo de Augusto) quer falar com você. Me
ajuda. O que tiver que fazer, vamos fazer. Só sei que você é muito
amigo dele (Lessa)".
Baía foi mantido na "Tribuna de
Alagoas" por ser de confiança,
afirmou Augusto Farias. O deputado nega, porém, que o tenha enviado para subornar o delegado
ou que tenha tido participação
nas mortes.
Reabertura
No inquérito policial de 1996, a
polícia concluiu que Suzana matou o namorado PC e se suicidou
em seguida.
As investigações foram reabertas neste ano após a publicação de
uma série de reportagens da Folha.
Em junho, quatro ex-seguranças de PC foram indiciados como
co-autores das mortes de PC e Suzana. A principal dúvida de Lessa
para indiciar Augusto Farias é a
inexistência de um depoimento
falando sobre quem deu os tiros e
em que circunstâncias PC e Suzana foram assassinados.
"Estamos analisando os indícios para saber a que conclusões
poderemos chegar", disse o delegado.
Indícios
Para Alcides Andrade, que não
se pronuncia publicamente sobre
as divergências, há uma série de
indícios claros que comprometem Augusto Farias.
Além dos vários elementos que
apontam para uma trama em que
os principais envolvidos mentiram à polícia, há os seguintes outros indícios:
1) Augusto Farias defende e paga os advogados dos seguranças
suspeitos de terem matado PC,
atacando a investigação;
2) o deputado brigava com o irmão pelo controle dos negócios
da família, conforme pelo menos
dois depoimentos no inquérito
deste ano;
3) tem mostrado sinais de enriquecimento, enquanto os filhos
de PC passam dificuldades, segundo duas testemunhas;
4) disse ter achado a bolsa de
Suzana -o celular sumiu, e os
documentos estavam rasgados no
espaço da assinatura-, avisado o
segurança Reinaldo Lima, que a
teria passado à caseira Marise
Carvalho. Ela nega veementemente a versão;
5) disse ter sido informado sobre as mortes depois das 12h, em
Maceió, enquanto no sertão alagoano funcionários de PC sabiam
desde as 10h;
6) diversas testemunhas dizem
que o deputado não gostava de
Suzana e pressionava PC para largá-la.
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