São Paulo, Terça-feira, 16 de Novembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MISTÉRIO EM ALAGOAS

Delegados têm visão diferente sobre o suposto envolvimento de Augusto Farias na morte do irmão

Indiciamento de deputado divide polícia

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió
MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió

Os delegados que conduzem a investigação sobre as mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino estão divididos sobre o indiciamento do deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC, como um dos co-autores das mortes ocorridas em 1996. O juiz do caso, Alberto Jorge Correia, quer receber a conclusão do inquérito hoje (leia texto nesta página).
O delegado Alcides Andrade, que no dia 25 de agosto havia dito que era "quase inevitável" o indiciamento de Augusto Farias, mantém a posição, afirmando que há indícios suficientes de participação do deputado na trama que levou às mortes de PC e Suzana, com um tiro cada.
O presidente do inquérito, Antônio Carlos Lessa, tem resistido ao indiciamento de Augusto, conforme apurou a Folha.
Em agosto, porém, depois de o jornal revelar que ele gravara uma suposta tentativa de suborno para não indiciar Augusto Farias, feita por um funcionário de empresa do deputado, Lessa disse: "Quem não deve não teme. Se ele (Augusto) mandou alguém, é porque deve ter culpa no cartório".

Conversa
Na conversa com o jornalista Roberto Baía, chefe da sucursal de Arapiraca (AL) da "Tribuna de Alagoas", jornal dos Farias, Lessa perguntou quanto ganharia. "Você é quem diz", respondeu Baía, conforme laudo anexado ao inquérito.
Baía disse ao delegado Lessa que conversara com Augusto Farias numa festa da "Tribuna" -fotos publicadas pelo jornal confirmam que os dois estiveram juntos na comemoração.
De acordo com o jornalista, o deputado lhe falou: "Baía, o Gabriel (Mousinho, primo de Augusto) quer falar com você. Me ajuda. O que tiver que fazer, vamos fazer. Só sei que você é muito amigo dele (Lessa)".
Baía foi mantido na "Tribuna de Alagoas" por ser de confiança, afirmou Augusto Farias. O deputado nega, porém, que o tenha enviado para subornar o delegado ou que tenha tido participação nas mortes.

Reabertura
No inquérito policial de 1996, a polícia concluiu que Suzana matou o namorado PC e se suicidou em seguida.
As investigações foram reabertas neste ano após a publicação de uma série de reportagens da Folha.
Em junho, quatro ex-seguranças de PC foram indiciados como co-autores das mortes de PC e Suzana. A principal dúvida de Lessa para indiciar Augusto Farias é a inexistência de um depoimento falando sobre quem deu os tiros e em que circunstâncias PC e Suzana foram assassinados.
"Estamos analisando os indícios para saber a que conclusões poderemos chegar", disse o delegado.

Indícios
Para Alcides Andrade, que não se pronuncia publicamente sobre as divergências, há uma série de indícios claros que comprometem Augusto Farias.
Além dos vários elementos que apontam para uma trama em que os principais envolvidos mentiram à polícia, há os seguintes outros indícios:
1) Augusto Farias defende e paga os advogados dos seguranças suspeitos de terem matado PC, atacando a investigação;
2) o deputado brigava com o irmão pelo controle dos negócios da família, conforme pelo menos dois depoimentos no inquérito deste ano;
3) tem mostrado sinais de enriquecimento, enquanto os filhos de PC passam dificuldades, segundo duas testemunhas;
4) disse ter achado a bolsa de Suzana -o celular sumiu, e os documentos estavam rasgados no espaço da assinatura-, avisado o segurança Reinaldo Lima, que a teria passado à caseira Marise Carvalho. Ela nega veementemente a versão;
5) disse ter sido informado sobre as mortes depois das 12h, em Maceió, enquanto no sertão alagoano funcionários de PC sabiam desde as 10h;
6) diversas testemunhas dizem que o deputado não gostava de Suzana e pressionava PC para largá-la.


Texto Anterior: Desertificação: Brasil perde US$ 300 mi com seca
Próximo Texto: Juiz quer inquérito até hoje
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.