São Paulo, Terça-feira, 16 de Novembro de 1999
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CRIME ORGANIZADO

Novos pedidos de prisão vão atingir de 35 a 40 pessoas supostamente ligadas a Hildebrando

Procuradores ampliam denúncias no AC

WILLIAM FRANÇA
enviado especial a Rio Branco

Procuradores da República encaminham hoje à Justiça Federal do Acre pedido de prisão preventiva de um novo grupo ligado ao tráfico de drogas no Estado. Entre 35 e 40 pessoas podem ser denunciadas.
A lista vai incluir empresários e pode até mesmo relacionar políticos e pessoas envolvidas com a chamada "parte financiadora" do narcotráfico, também ligada à "lavagem" de dinheiro.
A identificação foi obtida a partir de depoimentos de traficantes (quatro conseguiram benefícios do Programa Nacional de Proteção a Testemunhas) e com a quebra dos sigilos dos denunciados.
Alguns traficantes deram o roteiro da entrada, transporte e "exportação" da droga para outros Estados e até avaliaram a qualidade da cocaína.
Segundo um traficante, a droga boliviana que entra no país via Guajará-Mirim (RO) é de melhor qualidade -cada quilo de pasta de cocaína rende seis quilos de pó. A pior é a que entra via Cobija, cidade boliviana na fronteira com o Acre -cada quilo de pasta rende no máximo três quilos de pó.
A Folha apurou que, até a próxima sexta-feira, haverá prisões em todo o Estado, especialmente em cidades fronteiriças com o Peru, como Cruzeiro do Sul.
A denúncia, com o pedido de prisão preventiva, foi concluída no último fim-de-semana pelo procurador federal José Roberto Figueiredo Santoro. Ele viajou a Rio Branco especialmente para concluir os trabalhos, junto com outros três procuradores e com a Polícia Federal.
O pedido de prisão preventiva será encaminhado ao juiz federal Pedro Francisco da Silva, da 2ª Vara. Ele foi o responsável pela decretação da prisão do deputado cassado Hildebrando Pascoal e de mais 41 pessoas, ligadas tanto ao narcotráfico como ao grupo de extermínio supostamente liderado pelo ex-deputado.
Da nova lista, meia dúzia de nomes já teve a prisão temporária decretada por integrar a parte operacional do narcotráfico. Essas pessoas passarão hoje da prisão temporária para a preventiva, permanecendo presas para dar continuidade às investigações.
Em um dos pedidos de prisão preventiva é apresentada a estruturação do tráfico de drogas no Acre, que, apesar de não ter uma composição rígida, responderia ao "comando único e central" de Hildebrando.
Ao todo, ele é acusado de comandar 27 pessoas na parte operacional e de distribuição da droga, que passava ainda pelo controle de postos-chave, como os presídios e as delegacias, e mesmo um esquema "mediante barbárie" de manutenção do tráfico.
Todos os apontados estão entre os presos que se encontram em Brasília, à disposição da Justiça.
Segundo a denúncia, a organização criminosa de Hildebrando começou nos anos 80, quando, antes de chegar a coronel e assumir o comando da corporação, ele assumiu posto de relevância na Polícia Militar do Acre.
Ele "passou a controlar, entre outros nichos, a Caixa dos policiais militares, o que lhe deu grande prestígio junto à tropa".
O Ministério Público Estadual também conclui nesta semana quatro novas denúncias que envolvem o grupo de extermínio, com a elucidação de quatro outros homicídios.
Segundo o Ministério Público Federal, integram o esquema do tráfico no Acre as seguintes pessoas: Hildebrando Pascoal (comando único e central); Alex Fernandes Barros, Ronaldo Romero, Ferdinando Leopoldo de Holanda e Sebastião Mendes da Costa (auxiliares do comando e estrategistas); Eurico Moreira de Lima e Antônio José Braga e Silva (segurança do comando); Gilson Mota da Silva, José Filho de Andrade e Aldecir Alcântara (transporte e distribuição da droga); Pedro Bandeira Paulino, Paulo Bandeira Bezerra, Sérgio Kennedy Moreira, Raimundo José Sampaio da Silva Santos, Francisco Barroso de Souza, Mário Jorge Ferreira de Araújo e Albion Gomes de Almeida (controle do mercado); Manoel Maria Lopes da Silva, Pedro Honorato de Oliveira Neto, Sebastião Uchôa Castelo Branco, Pedro Pascoal Duarte Pinheiro Neto, Pedro Luiz Braga, Antônio Marcos da Silveira Lima, Carlos Rodrigues de Mendonça e Gilson Mota da Silva (manutenção do esquema, mediante barbárie); e Edinaldo Barroso Albuquerque e Belino Barroso Carvalho (pequenos traficantes).


Colaborou Abnor Gondim, da Sucursal de Brasília


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