São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2006

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Grupo de Marta busca isolar Mercadante e comandar PT de SP

Ex-prefeita saiu fortalecida do segundo turno, quando foi chamada para coordenar a campanha de Lula no Estado

Senador petista aponta escândalo do dossiegate como causa de sua derrota para o tucano José Serra ainda no primeiro turno


MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT paulista já iniciou um processo interno de avaliação pós-eleitoral e os alvos centrais do ataque são a atual direção estadual e o senador Aloizio Mercadante, derrotado para o governo do Estado. As discussões ainda são discretas, mas refletem o claro interesse do grupo político ligado à ex-prefeita Marta Suplicy em obter o comando da legenda no Estado.
Na segunda-feira, a Executiva Estadual do PT abriu oficialmente a temporada de "balanço eleitoral". Os dirigentes petistas negam que esteja na ordem do dia a troca do comando no Estado, hoje controlado por Paulo Frateschi -que também foi o coordenador-geral da campanha de Mercadante. Por trás das discussões está a sombra do dossiê, que envolveu Hamilton Lacerda, então coordenador de comunicação da campanha do senador petista.
De fato, a troca de comandos no PT de São Paulo e do resto do país só ocorrerá depois que o partido realizar, em 2007, seu congresso nacional. "Vamos fazer uma avaliação profunda e tranqüila. Abriu-se um debate interno profundo", avisou Jair Tatto, vice-presidente do PT e coordenador do Grupo de Trabalhou Eleitoral (GTE).
O trunfo do grupo ligado a Marta Suplicy é o resultado do segundo turno no Estado, quando a ex-prefeita foi chamada às pressas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a assumir o comando da campanha. Lula teve 2 milhões de votos a mais, sob a batuta de Marta. "Ela cumpriu muito bem sua função", definiu Tatto.
O debate já extrapolou as fronteiras da direção partidária e chegou aos parlamentares. Artigos bastante críticos circulam entre militantes petistas. O deputado Vanderlei Siraque (PT-SP), por exemplo, considera que a disputa em São Paulo foi um "fracasso". "Erramos em tudo", simplifica.
Siraque evita jogar toda a culpa no caso dossiê. "Foi mais do que isso. Já estava ruim. Não aglutinamos forças do partido. Não mostramos nossos projetos. Não atingimos o povo. Não entusiasmamos", explica. "O erro de Alckmin em relação ao Lula se repetiu com Mercadante em relação ao Serra."
Aliado da ex-prefeita, o deputado Cândido Vacarezza concorda: "O resultado do primeiro e do segundo turnos em São Paulo foi diferente e isso tem um porquê. Claro que houve erros de condução. Mostra que tem debilidade na direção".
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) evita comentar o que classifica de "rede de intrigas" no PT. Afirma que não sente nenhum desgaste político "na militância, na base social do partido". A luta política, define o senador, "é própria do processo partidário, é recorrente, cíclica". "Tivemos a melhor votação do PT em termos absolutos [32% dos votos válidos] em São Paulo. Foi a melhor campanha que o PT já teve", disse ele.
Mercadante afirma que só não disputou o segundo turno com José Serra por conta do dossiegate. O único "problema" apontado por ele no processo eleitoral foi o impacto da prévia com Marta Suplicy. "Muitas vezes não se consegue unificar o partido [pós-prévia]. Sempre fica alguma ferida. Temos que avaliar esse processo no PT."
O senador descarta qualquer estremecimento na relação com Lula. Sustenta que, sobre o episódio dossiê, caberá à Polícia Federal esclarecer a origem do dinheiro. "Para mim esse esclarecimento é fundamental."
Até a decisão de Mercadante de dedicar-se ao debate econômico recebeu críticas internas. Angélica Fernandes, secretária de formação política, assina artigo em que critica o senador por defender um "giro ortodoxo" na economia, diferentemente de toda a militância.


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