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Corregedor da PF diz ignorar inquérito sobre Protógenes
Lobato afirma ainda que não foi consultado sobre escolha de delegado que preside o caso
Prestes a terminar mandato de três anos, corregedor diz que "espera e pede a Deus" que apuração esteja sendo conduzida de forma regular
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O corregedor-geral da Polícia
Federal em Brasília, José Ivan
Lobato, afirmou à Folha que
ignora detalhes do inquérito
aberto pela própria corregedoria para investigar a conduta do
delegado Protógenes Queiroz,
suspeito de vazar informações
durante a Operação Satiagraha.
"Não saberia informar nada sobre o processo apuratório, se
está sendo conduzido de forma
regular, se não está. Espero e
peço a Deus que esteja."
Ainda que negue problemas
políticos dentro da PF, Lobato
admite que não foi consultado
sobre a escolha do delegado
que preside o inquérito, Amaro
Vieira Ferreira. "Estava de férias. Mas quero acreditar que
não houve imposição."
Designado pela direção da
PF, Amaro tem, segundo Lobato, autonomia para conduzir o
inquérito. A corregedoria, diz,
instaura procedimentos administrativos. Mas ele afirma que
o órgão acabará sendo acionado se forem constatados excessos de Amaro. Hoje, como o
processo corre em segredo de
Justiça, ele não seria capaz de
confirmar se Amaro é o autor
do pedido de busca e apreensão
na casa de Protógenes.
Prestes a concluir o mandato
-no próximo dia 5-, Lobato
não esconde queixas à estrutura do órgão que comandou por
três anos. Segundo ele, a corregedoria -que é responsável pela fiscalização da conduta de
cerca de 12 mil policiais- conta
com menos de 80 servidores.
A legislação que rege a corregedoria é outro alvo de crítica
de Lobato, que a considera "defasada". Em vigor desde 1965,
ela exige, por exemplo, a criação de uma comissão permanente -com três servidores-
para a instauração de um procedimento disciplinar. "Isso
nos engessa bastante. Nem todas as nossas unidades regionais dispõem de servidores estáveis para compor essa comissão permanente", diz o delegado, há 32 anos na PF.
Sob uma legislação obsoleta
e sem pessoal, os processos podem consumir bem mais do
que os 120 dias fixados como
prazo. O corregedor afirma ter
enviado ao governo uma proposta de modernização das regras. O texto está no Congresso. "Tínhamos a esperança de
que caísse nesse ano legislativo. Não foi possível."
Lobato será substituído pelo
superintendente da PF do Rio,
Valdinho Caetano. Questionado se pôde fazer o que pretendia, admitiu: "Em razão das dificuldades, não vou dizer que
alcancei a plenitude. Dentro
dos meios disponíveis, conseguimos dar uma certa tranqüilidade ao órgão".
Segundo rumores, o esvaziamento da corregedoria se agravou na gestão do atual diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa.
Indicado pelo ex-diretor Paulo
Lacerda, Lobato se nega a fazer
comparações. Já o presidente
do Sindicato dos Delegados de
São Paulo, Amaury Portugal,
atribui o problema "principalmente à atual gestão".
Segundo ele, há processos
"há quatro anos na prateleira".
Portugal conta que delegados
de três Estados foram destacados há dois meses para apurar
suposto vazamento na Operação Toque de Midas, no Amapá. "Um desperdício", disse,
acrescentando: "Necessitamos
de uma legislação ágil. E a administração está preocupada
com a lei orgânica".
Procurado, Corrêa afirmou,
via assessoria, que "em todos
os setores da PF o efetivo está
aquém do ideal". Disse que
busca uma solução para o problema por meio de concursos.
Segundo ele, hoje a prioridade
é ocupação das regiões amazônica e de fronteira e, com novos
concursos, todas as áreas, inclusive a corregedoria, serão
beneficiadas. De acordo com a
PF, a modernização da legislação é meta da atual gestão.
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