UOL

São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PT NO DIVÃ

Presidente prometeu verbas às Forças Armadas, mas chamou generais de "bando'; palavra foi retirada da transcrição

Lula comete gafe em almoço com militares

WILSON SILVEIRA
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A informalidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva rendeu-lhe uma gafe no almoço de fim de ano com cerca de 140 oficiais-generais das Forças Armadas, no Clube do Exército. No discurso, Lula referiu-se aos generais como um "bando", termo em geral associado ao conceito de quadrilha.
"Não adianta ter um bando de generais e um bando de soldados, se eles não têm sequer pólvora ou, quem sabe, uma bala para usar em caso de necessidade", disse o presidente ontem, ao prometer que até o fim de seu governo, em 2006, as Forças Armadas poderão festejar avanços nas políticas econômica e social e a recuperação da sua capacidade operacional.
As Forças Armadas enfrentam uma crise. Um sinal dela foi a dispensa, em novembro, de recrutas do Exército antes do tempo previsto, por falta de verba. O ministro da Defesa, José Viegas, já declarou que o Orçamento 2004 -R$ 4,1 bilhões para custeio e investimentos- é insuficiente. Segundo ele, R$ 7 bilhões é o mínimo para os projetos prioritários.
Na transcrição oficial do discurso divulgada pelo site do Palácio do Planalto, a palavra bando, nas duas vezes em que foi dita, foi trocada por grupo. É comum a Secretaria de Imprensa do Planalto "corrigir" os discursos do presidente antes de divulgá-los. Isso também ocorria no governo Fernando Henrique Cardoso.
Um general que não quis ser identificado disse a jornalistas que não esperava um discurso machadiano (referindo-se ao escritor Machado de Assis), mas considerou o presidente deselegante. Segundo ele, os oficiais relevam esse linguajar, por se tratar de um presidente "espontâneo".
Lula começou o discurso com uma piada da qual ninguém riu: "Na reforma ministerial, vamos arrumar um jeito de diminuir o nome do ministério do general [Jorge] Félix", disse o presidente, referindo-se ao Gabinete de Segurança Institucional. O trecho foi suprimido da transcrição oficial.

Batalhas
Lula disse que, quando assumiu o governo, o país não tinha "um dólar sequer" para financiar suas exportações e que encerrava o ano com um superávit comercial de quase US$ 24 bilhões: "Esse fato por si só me dá condições para dizer às autoridades aqui presentes, aos generais da três Armas [Forças], aos meus ministros e a vocês, que nós vencemos a primeira batalha. A guerra que nos propusemos a enfrentar será feita de algumas centenas de batalhas".
"E nós teremos de ter cuidado, cautela, maturidade, pensar antes de falar, falar apenas aquilo que é possível e necessário fazer, para que a gente consiga atingir nosso objetivo, que é colocar o Brasil no patamar dos países desenvolvidos, como nação economicamente viável, tecnologicamente viável e politicamente respeitada", disse.
Lula fez um balanço dos 11 meses de governo e disse que "os passos futuros serão muito maiores, em solos mais seguros e em terras mais férteis". Repetiu que não pode e não vai errar, "porque a história não dá duas oportunidades a um único ser humano".
Segundo ele, "alguém poderia se dar por contente" se conseguisse realizar em quatro anos o que seu governo fez em 11 meses: "Avançamos numa coisa que parecia impossível: avançamos no tratamento de reformas estruturais que vinham sendo há muito tempo adiadas, mas que, na verdade, eram simplesmente inadiáveis". Ele disse que espera ir à promulgação das reformas previdência e tributária no próximo dia 19.


Texto Anterior: Não vamos promover política econômica milagrosa, diz Lula
Próximo Texto: Águas passadas: Helena troca quadro do PT por crítica ao FMI
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.