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São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

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NO AR

HVT nš 1

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Segundo o "New York Times", o anúncio da prisão de Saddam Hussein seguiu um "plano cuidadoso de relações públicas". Tinha até manual, com o título "HVT nš 1" -alvo de alto valor nš 1.
As imagens do ditador com os cabelos sendo remexidos em busca de piolhos ou com a língua para fora foram resultado de "escolha cuidadosa".
O que veio a seguir foi só a colheita do planejamento bem realizado. Para Aaron Brown, âncora da CNN, "desde a queda da estátua não tínhamos imagens tão dramáticas".
O âncora da NBC, Tom Brokaw, falou em "rato preso num buraco". CNN e Fox News entraram logo no buraco.
Mas não era o público americano ou ocidental o maior alvo. O objetivo era não deixar dúvidas à audiência muçulmana. E assim foi. Da Globo:
- As imagens trouxeram alívio, mas também chocaram o mundo árabe. Muitos consideraram um desrespeito.
O site da Al Jazeera detalhou o choque, na expressão de um escritor egípcio:
- Eu me senti humilhado. Cortando sua barba, um símbolo de virilidade no mundo árabe, os americanos cometeram um ato que simboliza a humilhação na nossa região.
Um iraquiano acrescentou que as cenas forçam "os árabes a encarar sua impotência".
Não queria outra coisa o tal manual. E vem aí o julgamento, que, de acordo com integrantes do conselho do Iraque, terá transmissão pela TV.
 
E Lula falou com George W. Bush sobre a prisão de Saddam, em pleno dia de glória para o presidente dos EUA.
Segundo o porta-voz do Palácio do Planalto, o presidente do Brasil disse, por telefone, que "é um fato importante na medida em que pode contribuir para abrir uma nova fase de transição democrática".
Falou também da viagem ao Oriente Médio. Segundo o porta-voz, "o presidente americano disse a Lula que considerou positiva a iniciativa".
O porta-voz da Casa Branca, de sua parte, declarou que "o presidente Lula cumprimentou o presidente Bush pela captura" e tratou da Alca.
Relatos um pouco diversos, tudo bem diplomático. Mas não deixa de contar pontos para Lula no momento em que leva tiros de todo lado. Por exemplo, do tucano Arthur Virgílio, que falou da exclusão do Brasil dos contratos no Iraque:
- Não deixa de ser retaliação às tolices que Lula faz. Ele joga na corda bamba a relação do Brasil com os EUA.
Para o tucano, o Brasil não é uma potência -e "tem que ser mediador". É claro que "sem curvatura da espinha". Ou sem tirar os sapatos.


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