São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Sem reação

Foram as manchetes do dia por todo lado, dos telejornais da Globo ao portal UOL, em enunciados redondos -o salário mínimo vai a R$ 300 em maio, a tabela do Imposto de Renda será corrigida em 10%.
E as reações foram poucas, pró ou contra.
Um economista, no UOL News, opinou que elevar o salário mínimo é "medida equivocada". A agência Dow Jones observou "terá impacto direto nos gastos do governo", por causa das aposentadorias.
Do outro lado, o presidente da CUT declarou ao Globo Online que o valor "ainda é insuficiente" e um representante dos aposentados, ligado à Força Sindical, se disse "indignado".
Os sindicalistas queriam salário mínimo de R$ 320 e uma correção de 17% da tabela do IR. "No entanto", notou a rádio Jovem Pan, "os sindicalistas saíram da reunião se dizendo satisfeitos".
E no mesmo UOL News a análise de um cientista político foi que, com as duas medidas, "Lula reforça popularidade".
 
Às vésperas do fim de ano, nem o novo aumento nas taxas de juros, anunciado no início da noite pelo Banco Central, consegue arrancar reações mais exaltadas.
A começar da Globo News, a expressão mais ouvida foi que o aumento "era esperado".

ESCÂNDALO!!

Reprodução
Capa do "NY Post", com o caso do "maníaco" ex-chefe de polícia

Os tablóides de Nova York e Londres fazem a festa, neste fim de ano, com dois escândalos ministeriais.
Indicado por George W. Bush para o secretariado, o ex-chefe de polícia de Nova York desistiu dias atrás, supostamente por não ter registrado sua babá mexicana. Que nada, gritavam ontem os tablóides "New York Post" e "Daily News" e o blog sensacionalista Drudge Report. O problema é uma amante ou, segundo o "News", duas amantes que o "maníaco", segundo o "Post", Bernard Kerik recebia no apartamento dos bombeiros diante dos escombros do World Trade Center. Era "seu ninho do amor", segundo Drudge. O vetusto "New York Times" -até ele- trouxe a história, num texto interno.
 
Em Londres, a manchete no site do "Guardian" e nos demais era "Blunkett renuncia", ontem à tarde, mas a história já vinha do tablóide "Daily Mirror", que trouxe na capa a notícia dos problemas do ainda secretário com a ex-amante. À noite, a Sky News, espécie de Fox News inglesa, entrevistou David Blunkett, que chorou muito ao admitir que, sim, fez gestões junto à burocracia que ele mesmo comandava para obter visto de trabalho para a babá estrangeira do filho de sua ex-amante.
Disse também que o fez para obter o direito de visitar a criança, que garante ser seu filho. Disse que gostaria que a criança soubesse, ainda que no futuro, que "seu pai se importa com ela a ponto de sacrificar a carreira".

Vai-não-vai
- Ele vai à cúpula, afinal?
Era o correspondente da Globo News em Buenos Aires, com ironia, tentando descrever as várias possibilidades diante do presidente argentino, Néstor Kirchner: ele pode não aparecer em Ouro Preto, pode ir mas sair antes do fim -ou pode ir e fazer o maior barulho.
Jornais como "La Nación" repisam, dia após dia, que ele vai à reunião do Mercosul.

Distensão
Por outro lado, desde anteontem o chanceler Celso Amorim está na TV em esforço de distensão, para evitar que declarações de outras áreas do governo ampliem os conflitos.
Ontem, chegou a falar em "instinto de autoflagelação", à BBC, para descrever os ânimos argentinos e brasileiros.
Ao que parece, vem dando certo. A manchete do site do "Clarín", em Buenos Aires, foi para os "gestos de conciliação". Pela Argentina, um negociador disse que o choque é produto de "uma sinceridade que permite grandes coincidências".

Tremeliques
No site do Globo Online:
- FHC diz que o governo é vaidoso e ridículo.
Os adjetivos soam descontrolados, mas o azarado ex-presidente, como se viu no Bom Dia Brasil, de fato recorreu a eles. E ainda observou:
- Será que estas palavras vão provocar tremeliques no Palácio do Planalto?

Azar 3
Logo surgiu no mesmo Globo Online, depois na CBN:
- Com base no princípio da moralidade pública, a Justiça Federal anulou a nomeação feita pelo ex-presidente Fernando Henrique de sua filha para o cargo comissionado de adjunta da Secretaria Geral da Presidência, no Palácio do Planalto.
Já nem parece coincidência.

Bendita
Mas Alexandre Garcia está gostando, na Globo:
- Bendita democracia, em que a crítica estimula cada um a querer demonstrar que é melhor do que o outro.


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