São Paulo, Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2000


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NARCOTRÁFICO
Para analista, governo norte-americano considera que o país não colabora no combate ao crime
Droga vira foco de tensão com Brasil

de Nova York

A Polícia Federal está preocupada com a presença dos EUA na área de fronteira com o Brasil? Pois, segundo o analista Larry Birns, diretor do Council on Hemispheric Affairs (Coha), os Estados Unidos também estão preocupados, mas com o que consideram falta de empenho do governo brasileiro em combater o narcotráfico na área.
Para o analista, a tendência é a relação entre os dois países se complicar por causa de divergências sobre o combate às drogas na região.
O Coha é uma ONG (organização não-governamental) baseada em Washington que monitora, há mais de 20 anos, as políticas dos EUA para os países da América Latina e Caribe.
A organização é financiada por fundações, sindicatos, entidades profissionais e grupos religiosos, e reúne pesquisadores, analistas e ex-membros do governo norte-americano.
Leia abaixo os principais trechos da conversa com o diretor do Coha.

Folha - O senhor acha que faz sentido a preocupação da Polícia Federal com a militarização das áreas de fronteira com o Brasil por parte dos Estados Unidos?
Larry Birns
- O que se sabe em Washington é que tem havido uma transferência cada vez maior de cultivo e processamento de droga para o Brasil.
E que o tráfico conseguiu operar, por alguns anos, com relativa impunidade, antes que os brasileiros se mobilizassem para fazer alguma coisa. Além disso, os EUA sentem que precisam usar forças mais pesadas e efetivas para esse combate.

Folha - E o que isso quer dizer?
Birns
- Na visão do governo norte-americano, as necessidades da "guerra contra as drogas" envolvem um aumento do uso da tecnologia militar, de tropas aéreas para supervisionar áreas, e um tipo de estratégia paramilitar para lidar com a importação e a exportação de drogas.

Folha - Qual o papel do Brasil nessa estratégia?
Birns
- Entre os oficiais antidrogas com quem tenho conversado, a compreensão é que o país não tem sido muito cooperativo. Que tem sido relutante em fornecer dados de inteligência e nega que o problema seja tão grave quanto a DEA está dizendo que é.
Então nós estamos vendo o começo de uma sensibilidade crescente sobre o papel brasileiro nisso tudo.
E uma vez que isso cresça, você vai ter legisladores começando a falar no Congresso norte-americano que o governo brasileiro não está fazendo o suficiente para manter o fluxo de drogas longe do país.

Folha - Isso é uma avaliação comum ao governo?
Birns
- Sim.

Folha - O que poderia servir como desculpa para alguma ação mais direta no território brasileiro?
Birns
- Bem, acho isso difícil, porque o Brasil é um país muito importante na região e os EUA nunca tiveram realmente o controle da política brasileira de combate às drogas.
Mas já há um bom grau de ressentimento em Washington pelo fato de o Brasil não ter sido tão entusiástico em relação à Alca (Área de Livre Comércio das Américas). E isso influi na postura dos EUA em relação ao papel do Brasil na guerra antidrogas.


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