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Entrevista
Para vítima, crimes não são políticos
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O italiano Alberto Torregiani, 45, é uma das vítimas
do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo). Em
16 de fevereiro de 1979, ele
presenciou o assassinato do
pai, o ourives Pierluigi, na
calçada da joalheria da família, em Milão. Alberto também foi atingido por um tiro
e ficou hemiplégico. Em entrevista à Folha, por telefone, ele criticou a concessão
de refúgio a Cesare Battisti.
"Battisti é assassino comum,
não criminoso político."
FOLHA - Seu pai foi morto numa
ação do PAC atribuída a Battisti?
ALBERTO TORREGIANI - Sim. Íamos abrir a joalheria naquela
manhã. Mas antes, alguém o
chamou pelo nome e, quando ele se virou, a pessoa começou a atirar. Também fui
ferido. Chamamos a ambulância, mas quando chegou
ele já estava morto.
FOLHA - Battisti participou?
TORREGIANI - Desse crime
não. Mas, segundo um de
seus ex-companheiros, foi o
mandante. Nesse dia, participou de outro assassinato.
FOLHA - Pierluigi tinha alguma
militância política?
TORREGIANI - Não. Meu pai
não tinha nada a ver com política. Era um comerciante.
Acho que foi morto por vingança. Um mês antes, reagiu
a um roubo e um membro do
grupo do Battisti foi morto.
FOLHA - Qual sua opinião sobre
o refúgio concedido pelo Brasil?
TORREGIANI - É um absurdo.
Battisti disse que corre risco
de vida na Itália, mas isso não
é verdade. Ocorre que, se ele
voltar, terá de pagar pelos
crimes que cometeu.
FOLHA - Você acha que ele é um
terrorista, um criminoso político?
TORREGIANI - Ele não é um
criminoso político. Foi classificado como terrorista, por
ter sido condenado pelos
roubos e assassinatos. Sustentam que fazia isso pelo
comunismo. Para mim, ele
era um criminoso comum.
FOLHA - O PAC era conhecido como grupo político?
TORREGIANI - Nunca tinha ouvido falar. Depois soubemos
que era um grupo armado
que defendia o comunismo.
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