|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Quem são eles
Nas mãos deles, 169 milhões de
vidas, o destino de um país gigante
e uma crise brutal, com risco até de
congestões capazes de ferimentos
profundos no regime constitucional e na tranquilidade relativa dos
brasileiros.
Tudo foi dado a eles: o sacrifício
de direitos, o sacrifício de milhões
de empregos, o sacrifício de incontáveis empresas brasileiras, o sacrifício da legitimidade do Congresso, o sacrifício do patrimônio
nacional, o sacrifício da Constituição. E eles quebraram o país.
Quem são eles? Um presidente
abúlico, alheio a todas as realidades desprovidas de pompas e reverências e que só reconhece um ser
humano, por acaso ele próprio;
avesso a administrar, por desconhecimento agravado pela indecisão, e que se ocupa tanto de bater
papo quanto não se ocupa de trabalhar.
Como complemento, um ministério apenas pró-forma, desautorizado pela evidência de que não foi
montado para ser competente,
mas por negócio político. E, nele,
uma equipe econômica dividida
entre os inseguros eternos, como
Pedro Malan, e a audácia dos imaturos no saber e na mentalidade,
como Gustavo Franco e Francisco
Lopes.
Em 36 horas, entre quarta e sexta-feira, o presidente e seus orientadores econômicos submeteram o
Brasil a três sistemas cambiais. O
dos últimos anos; o da repentina
desvalorização do real, na quarta-
feira; e o recomendado na noite de
quinta pelo governo americano e o
FMI (como relatou "The New York
Times"), liberando o valor do dólar em relação ao real. Ou seja,
desvalorizando ainda mais o real.
Nem no Haiti isso aconteceu alguma vez.
Não é necessário, portanto, considerar o que eles fizeram em quatro anos para saber do que são capazes contra a crise perigosa. Bastam as 36 horas de obtusidade e de
leviandade, com o presidente insistindo duas vezes em sair de férias a meio do turbilhão que angustiava o país.
Não se trata agora, porém, da
mesma angústia causada pelas
crises anteriores. Há mais do que
perplexidade, mais do que temor
do futuro. É um cansaço raivoso
que se pode perceber por toda parte. Tão bem simbolizado na impetuosidade dos operários da Ford, a
ponto de invadirem uma fábrica,
não para fazer greve, mas para
exigir trabalho. Ou expresso nas
manifestações que em Minas adotaram, sugestivamente, o slogan
de Nova Inconfidência Mineira.
As crises anteriores não recaíram sobre a multidão de desempregados que há hoje. Não atingiram segmentos enormes há quatro
anos sem reajuste nos salários diminuídos em 40%. Não vieram
ameaçar ainda mais os milhões já
indignados com a perda de velhos
direitos e na iminência de novas
perdas que alcancem também os
idosos e inválidos. As crises anteriores não encontraram a violência incorporada aos hábitos da vida urbana, como está hoje, capaz
de tudo por nada.
Os economistas respeitáveis previnem para as consequências imediatas das alterações, ou da maneira como foram feitas, na política econômico-financeira. Juros altos, desemprego, certa inflação,
aumento do custo de vida, mais
arrocho. Mas a intensidade desses
efeitos ninguém pode prever. Esse
é o problema maior.
O Brasil não podia estar em
mãos mais comprovadamente incompetentes e irresponsáveis, e logo em circunstâncias tão complexas e perigosas.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|