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JANIO DE FREITAS
Fontes de violência
A mais recente comprovação estatística da correlação
entre pobreza e violência urbana
-onde cai ou sobe uma, cai ou
sobe a outra- vai além, embora
talvez inutilmente, de encontrar
também na cidade de São Paulo
o que já se demonstrara por estudos semelhantes em Nova York,
Los Angeles, Londres. A pesquisa, orientada na prefeitura paulistana por Márcio Pochmann,
propõe uma reflexão que vai à
essência mesma do problema
brasileiro da criminalidade e, sobretudo, do problema em São
Paulo.
A progressão da violência que
atordoa os paulistas ocorre em
uma sociedade cujas forças influentes são refratárias a investimentos sociais e encabeçam, no
país, o movimento em tal sentido. No caso da capital, a expansão da violência ocorre na cidade
que hoje já deve ser, no mundo, a
de mais acentuado e mais volumoso contraste entre os níveis de
riqueza e de pobreza da população. As favelas na orla da capital,
onde ainda se vêem as palafitas
sobre lodo que nem no Nordeste
triste existem mais, emolduram
a cidade que detém a maior massa de riqueza privada em toda a
América Latina.
As áreas em que o empobrecimento diminuiu ou cresceu tornaram-se, simetricamente, fontes de menor ou maior proporção
da violência que transborda para o restante da cidade. E então,
pode-se esperar que a indiferença diante das misérias alheias e a
recusa histórica ao investimento
social verdadeiro cedam, enfim,
ainda que só por interesse próprio?
Os raros governantes que pensam em dar prioridade a investimentos sociais passam, no Brasil,
por situações impiedosas. Luiza
Erundina sofreu campanha sem
interrupção e até, em várias ocasiões, sem escrúpulo, pela disposição de atentar sobretudo para
áreas desassistidas e não, como é
da tradição administrativa, para
as áreas de moradia ou trânsito
da classe média para cima. Roberto Saturnino na Prefeitura do
Rio e Leonel Brizola, no seu primeiro governo fluminense, viveram experiências semelhantes,
embora em menor grau, à de
Luiza Erundina.
Mal completado um ano de
sua administração, duas enchentes em São Paulo bastaram para
encerrar o prazo de carência
concedido a Marta Suplicy. Já
saiu ela com apressadas explicações, provável ponto de partida
da série que conduz, em tantas
administrações, as boas intenções iniciais aos fins mais lamentáveis. Entre eles, a crescente degradação que se transforma em
fonte de violência. A pressão sobre os governantes, para não fugirem à tradição de destinar o dinheiro público a privilegiar os já
privilegiados, é maior do que os
propósitos e a determinação da
maioria dos que têm percepção
dos problemas sociais e seus múltiplos sentidos.
Sem genérico
Ah, que carnificina política,
com os punhais da mídia, se Roseana Sarney ou Luiz Inácio Lula tivesse alguma dose de responsabilidade pelas centenas de milhares de casos de dengue, pelo
Brasil afora e, horror dos horrores, já matando até em São Paulo.
Sob seus excelentes resguardos,
José Serra deveria oferecer melhor explicação, para o surto
alarmante da doença, do que
"nós repassamos as verbas para
os Estados combaterem a dengue". Se mero repassador de verbas, o cargo de ministro da Saúde deveria estar, cumulativamente, com o diretor do Tesouro
Nacional. O que José Serra fez no
surto de dengue em 98, com o
bom resultado que se mostrou no
verão de 99, não fez mais em 99,
2000 e 2001. Em 2002 o que há é o
aumento lógico, nos últimos verões, do número de casos em consequência da menor ou nenhuma prevenção, pela qual é responsável o Ministério da Saúde,
com sua Fundação Nacional de
Saúde. Serra pode colher os seus
frutos genéricos, mas não há genérico contra a dengue.
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