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GOVERNO
Executivo não inclui tema entre prioridades da agenda; fato de o ano ser eleitoral aumenta dificuldades de aprovação
Era FHC deixa reforma política na gaveta
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Tida como prioritária no início
do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, a reforma
política permanece, sete anos depois, emperrada no Congresso
Nacional e não deve ser executada
ao cabo do governo FHC.
Fragmentada, o que se chamava
de reforma política transformou-se em projetos de lei isolados que,
sem força nem consenso dos parlamentares, inclusive dos da base
aliada, encontrarão dificuldade
de serem votados. Principalmente
por se tratar de ano eleitoral.
"Não há espaço para tramitação
disso agora. Principalmente neste
ano", afirmou o deputado Geddel
Vieira Lima (BA), líder do PMDB
na Câmara dos Deputados.
Oficialmente, o governo não admite tal possibilidade. Divulga
que os esforços estão centrados
em apenas três itens da legislação
político-eleitoral considerados
mais importantes: fidelidade partidária, financiamento público de
campanha e fim de coligações em
eleições proporcionais.
"Hoje, ao falarmos de reforma,
restringimos a esses temas", disse
o líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP).
O mais provável, no entanto, é
que nem os projetos isolados consigam entrar na pauta. Por serem
considerados polêmicos, as chances de haver consenso entre os
partidos é mínima.
"Eles não querem aprovar nada
mesmo. Mandam a reforma em
pedaços, como um salame de padaria, só para falar que tentaram.
Depois, se não passa, a culpa é do
Congresso", disse o líder do PT na
Câmara, Walter Pinheiro (BA).
O governo já traçou as suas
prioridades para este ano, entre
elas a emenda referente à regulamentação do artigo 192 da Constituição -que trata do sistema financeiro nacional- e a que prorroga a CPMF até dezembro de
2003. Nada de reforma política.
Há ainda, na Câmara dos Deputados, três medidas provisórias
que travam a pauta e outros projetos tidos como prioritários, entre eles a lei que permite o ingresso de capital estrangeiro nas empresas de comunicação.
Some-se a isso a polêmica em
torno da segurança pública, que
deve demandar do Congresso a
aprovação de medidas.
"Muitas coisas não andam pela
falta de consenso dos parlamentares, e não pelo fato de a pauta estar
cheia", disse o líder do PSDB na
Câmara, Jutahy Júnior (BA).
Sem conversa
No ano passado, o presidente da
Câmara, Aécio Neves, colocou o
financiamento público no pacote
ético -conjunto de projetos para
melhorar a imagem do Congresso-, mas não houve acordo para
a votação da proposta.
Em tese, os partidos se manifestam favoráveis ao financiamento
público, mas acabam apresentando empecilhos para aprová-lo.
Desde 98, o Senado aprovou 9
das 11 propostas referentes à mudanças na lei político-partidária
que constavam do relatório final
da Comissão Especial de Reforma
Política. As que foram para a Câmara continuam lá.
Entre os projetos aprovados pelo Senado, está o que altera a Lei
dos Partidos Políticos, ampliando
de dois para quatro anos o tempo
de filiação partidária exigido para
que o candidato possa concorrer
a um cargo eletivo. Foi aprovado
também o projeto de lei que estabelece o financiamento de campanhas eleitorais exclusivamente
com dinheiro público.
A fidelidade partidária, prevista
no projeto aprovado no Senado,
não vingou na Câmara. Estudo da
Comissão Especial da Reforma
Política da Casa rejeitou o prazo
mínimo de quatro anos de permanência num partido.
O relator da comissão, deputado João Almeida (PSDB-BA),
apresentou um pacote com itens
da reforma política menos polêmicos para ser aprovado antes de
5 de outubro do ano passado,
quando extinguiu o prazo para alterar as regras do pleito de 2002.
Mas mesmo assim os partidos
não se entusiasmaram para
apressar a votação antes daquela
data. O projeto de reforma política extenso feito pelo deputado
nem chegou a ser examinado.
"O problema está na falta de
empenho e vontade política. Os
partidos estão acomodados do
jeito que as coisas estão. O Executivo tem de incluir na agenda. Não
adianta falar e não mandar", afirmou João Almeida.
Caso fosse possível alterar a legislação ainda neste ano, as novas
regras só valeriam para as eleições
municipais de 2004.
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