São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

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JANIO DE FREITAS

Perguntas iniciais

Duas perguntas se apresentam preliminarmente no caso subchefe de Assuntos Parlamentares do Planalto e sua ação gravada de improbidade.
Uma diz respeito ao Congresso onde Waldomiro Diniz vinha atuando em nome da Presidência da República. Outra relaciona-se à investigação propriamente, seja policial, parlamentar ou do Ministério Público.
O poderoso instrumento de democracia que são as CPIs está desmoralizado. Tantas foram as CPIs que o governo Fernando Henrique impediu -a começar da relativa ao tráfico de influência dentro do próprio Planalto para corromper a licitação bilionária do Sivam, ainda ao início do primeiro mandato- e tamanho o despudor com que invalidaram a CPI afinal criada, a do Banestado, que cabe perguntar: seria o atual Congresso capaz de reabilitar o instrumento das CPIs? Esse Congresso, cuja maioria está sob controle do governo, dependendo só dos acertos de favorecimento a cada votação?
É pelo menos discutível que a ação de Waldomiro Diniz no governo fluminense de Benedita da Silva, tal como conhecida até agora, justifique uma CPI na Câmara ou no Senado. Se houver CPI, é mais do que discutível a probabilidade de mostrar eficiência. A menos que lhe sobrevenham situações muito inesperadas.
A outra pergunta volta-se para a investigação já determinada, a da Polícia Federal. É simples, mas fundamental.
Sabe-se, pelo próprio vídeo, que foi do tal Carlinhos Cachoeira a providência de gravar a conversa em que Waldomiro Diniz lhe pede dinheiro. A partir dessa certeza, qualquer que tenha sido o percurso do vídeo até a divulgação ele saiu, antes de mais nada, da "reserva técnica" do mesmo Cachoeira. O que só se explica pelo não-recebimento de algo pago, entendendo-se que o único motivo para a gravação clandestina era a eventual necessidade de vingar uma traição ao acordo.
A primeira resposta que a investigação policial precisa dar é esta: o que foi pago e não foi recebido por Carlinhos Cachoeira? Os interesses de Cachoeira, por exemplo como controlador de bingos, negócio que voltou a viver dificuldades de ordem legal, não se limitam ao Estado do Rio. A pergunta é a primeira chave para indicar se Waldomiro Diniz continuou fazendo tráfico de influência como integrante da equipe da Presidência. Ou seja, é questão fundamental para os desdobramentos do caso no Congresso e no governo.


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