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NOVA DIREÇÃO
Presidente da Câmara critica nova alta dos juros e pede que Palocci pare de "castigar a população", os "miseráveis"
BC precisa de um cabresto, afirma Severino
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Em sua primeira entrevista exclusiva depois de eleito presidente
da Câmara, o deputado Severino
Cavalcanti (PP-PE), 74, disse que
o Banco Central precisa de "um
cabresto", criticou a nova alta dos
juros em 0,5% e ainda clamou para que Antonio Palocci (Fazenda)
"pare de castigar a população,
principalmente os miseráveis".
Previu reforma ministerial ampla, criticando a equipe de Lula.
Disse que Aldo Rebelo (Coordenação Política) é "o melhorzinho,
mas nunca resolve nada" e que,
para falar com José Dirceu (Casa
Civil), "só com um exército".
Ontem, a assessoria de Severino
informou que ele foi chamado
por Dirceu às 22h (teve que interromper a entrevista) para uma
conversa. Assessores não souberam dizer, mas ontem mesmo ele
pode ter se encontrado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Folha - Qual sua opinião sobre o
aumento de juros justamente hoje,
primeiro dia de sua gestão?
Severino Cavalcanti - O ministro
Palocci não deveria castigar mais
a população, principalmente os
miseráveis. Ele não pensa que isso
vai refletir exatamente sobre os
assalariados? Que essa taxa de juros é contraproducente? Que prejudica a produção?
Folha - Essa decisão não é exclusiva do Palocci, mas de um governo
cujo presidente é Lula. O que o sr.
tem a dizer a ele?
Severino - Olha, presidente, nós
precisamos fazer com que o povo,
o pobre, o miserável não pague,
não satisfaça a fome do mercado
internacional. Se for pelo povo,
estaremos juntos. Eu estarei de
braços abertos para ajudar o seu
governo, mas tenho satisfação a
dar ao nosso povo, à nossa região
lá no Nordeste, que está sofrendo,
com o desemprego campeando.
Folha - É difícil apoiar o presidente com esta política de juros e superávits altíssimos?
Severino - É muito sofrido, mas
temos de separar uma coisa da
outra. O presidente está fazendo
tudo isso por que a economia exige? Ele não pode esquecer as pequenas e micro empresas que são
tão penalizadas, que dão empregos. Veja o exemplo da Itália, que
saiu da Segunda Guerra e hoje é
uma grande economia porque investiu na sua pequena empresa.
Elas é que dão emprego. Muitas
vezes, o assaltante não é culpado.
É a sociedade, é o governo.
Folha - Por que o sr. é contra a autonomia do Banco Central?
Severino - Porque o Banco Central precisa de um cabresto.
Folha - O que a sua vitória significa?
Severino - Minha vitória mostrou para o governo Lula que a
Câmara não está satisfeita. Eu fui
o candidato do protesto, para renovar o tratamento entre o governo e a Câmara. Não aceitamos ser
subservientes. Seus ministros têm
de ter consideração com os nossos parlamentares, que não podem ficar três, quatro, cinco horas
nas ante-salas, depois de passar 20
dias mendigando audiências.
Folha - Quem são os piores ministros?
Severino - Acho que ele tem que
fazer reformulação quase que total, porque eles são ruins demais
para os deputados. Eu fui o candidato dessa Câmara silenciosa, que
fica sofrendo. Isso não pode. Tanto que o deputado José Thomaz
Nonô (PFL-AL) acaba de derrotar
o César Bandeira (PFL-MA) num
cargo aqui na Mesa. Foi outra derrota fragorosa do governo.
Folha - E o ministro Aldo Rebelo?
Ele não é o coordenador político?
Severino - É o que te atende melhorzinho, mas nunca resolve.
Folha - E o José Dirceu?
Severino - É preciso um exército
para falar com ele. Mas eu estou te
dizendo aqui: o atendimento vai
melhorar, porque eu vou conversar com o presidente e vou pedir
diretamente a ele. O Lula sabe que
teve uma derrota fragorosa.
Folha - Uma outra derrota também é no PMDB, que passou hoje o
PT em número de deputados.
Severino - Um entra de manhã,
sai de tarde, volta de noite. Depois
outro, mais outro. Tem que acabar com isso. Isso é uma excrescência, uma indecência. Temos de
fazer projeto aqui na Câmara para
acabar com isso. Um recebe dez,
outro recebe 15, outro recebe 20...
Folha - 20 o quê, reais?
Severino - 20 mil, 30 mil... Mas
eu não tenho provas. Se tiver, vou
fazer um inquérito e mandar cassar o mandato. E pegar quem
compra e quem vende.
Folha - E se o PMDB ficar maior do
que o PT na Câmara?
Severino - Acho que não vai ficar. O governo vem aqui, pega
um, depois pega outro...
Folha - Na semana passada, a Polícia Federal prendeu sete pessoas
em Roraima porque havia um esquema de desvio de parte dos salários de funcionários de gabinete
para mulheres e mães de desembargadores. Aqui também acontece isso. A Folha até já fez reportagem. Como coibir?
Severino - Tenho de encontrar
meios de provar isso, porque não
posso lançar suspeitas sobre todo
mundo. Vou fazer uma Mesa moralizadora. Aqui, nunca devolveram dinheiro. Eu devolvi mais de
R$ 90 mil em dois mandatos na 2ª
Secretaria.
Folha - E por que o sr. guarda dinheiro vivo em casa?
Severino - Eu? Porque eu tenho
pouco dinheiro.
Folha - A Folha publica hoje [ontem] que é mais de R$ 200 mil. Isso é
pouco?
Severino - É o que está na minha
declaração do Imposto de Renda.
Folha - Por que guardar em casa?
Severino - Porque posso dar a
qualquer hora para alguém da
minha família, para meus filhos.
Para que guardar em banco? Para
encher os banqueiros de lucro?
Folha - A ministra Nilcéia Freire,
dos Direitos da Mulher, vem aqui
amanhã [hoje] para discutir os direitos reprodutivos da mulher, os
limites do aborto. Vai ser o primeiro choque direto entre o governo e
a sua gestão?
Severino - Vamos ver. Vamos
esperar para ver o que ela vai dizer, vai defender. Não quero fazer
um pré-julgamento. Eu só lhe garanto o seguinte: eu não escondo
meus pensamentos.
Folha - O sr. vai sugerir ao Lula
uma reforma ministerial ampla?
Severino - Ah, vou, vou aconselhar. Senão, a Câmara vai ter de
dar o mesmo tratamento aos ministros dele que eles dão aos nossos parlamentares daqui.
Folha - E como seria esse tratamento? Não vota nada?
Severino - Ora! Não recebe, não
ouve, não vota nada. Porque eu já
disse que aqui nós vamos ter independência.
Folha - Vou insistir: cita uns dois
ou três.
Severino - Não precisa. Você vai
saber depois, quando ele demitir
[rindo]. E ele vai demitir.
Folha - Quem o sr. apóia do PP para ministro?
Severino - Isso é decisão do partido, que é o mais democrático
que tem por aqui. Ao contrário do
PT. Um dos motivos da minha vitória é que eles quiseram impor
um candidato que não é aceito
aqui na Câmara. Perderam. Eu
entrei, enfrentei e ganhei. E não tive nenhum só partido me apoiando, nem o meu. Quer dizer, a cúpula partidária.
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