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Recém-eleito discorre sobre bananas e CLT
JOSIAS DE SOUZA
COLUNISTA DA FOLHA
Conservador nos costumes, Severino Cavalcanti, o
novo presidente da Câmara,
torna-se um reformista radical ao discorrer sobre direitos dos trabalhadores.
Acha, por exemplo, que há
uma "banalização de processos contra a prática de
trabalho escravo" no Brasil.
Considera que, em casos, até
a assinatura da carteira de
trabalhador é dispensável.
"Milhares de bóias-frias
são deslocados para as fazendas conforme o trabalho
que surge", disse na Câmara,
em 2 de março de 2004. "Fica
difícil para o produtor (...)
registrar esse trabalhador
pelo espaço de um ou dois
dias, ou curtos períodos."
Numa fase em que ninguém lhe dava ouvidos, falou sobre temas econômicos: da legislação trabalhista
ao cultivo da banana.
No discurso em que tratou
de trabalho escravo, Severino disse que "exigências absurdas começam a inviabilizar" a atividade rural. Entre
os supostos disparates, citou
episódio com o senador João
Ribeiro (PFL-TO), acusado,
um ano atrás, de submeter
35 trabalhadores a condições similares às de escravos
em fazenda no sul do Pará.
João Ribeiro foi denunciado pelo procurador-geral,
Claudio Fonteles. Em defesa
anexada ao processo, tachou
de "bravata sensacionalista"
o relatório do Ministério do
Trabalho, cujos fiscais inspecionaram a fazenda.
Severino deu-lhe razão.
Disse: "É preciso desconhecer a realidade de condições
e costumes regionais para
exigir de um fazendeiro, na
Amazônia ou no sertão nordestino, privadas ou água
tratada no meio do mato".
Para Severino, convém
"enxugar" a CLT. Um dos
pontos citados é a "desoneração da folha de pagamento" das empresas, sobretudo
"as pequenas e médias".
A defesa do pequeno empresário é uma obsessão de
Severino. Alistou-se à frente
parlamentar que arrancou
do governo FHC o Estatuto
da Micro e da Pequena Empresa. Acha, porém, que a lei
teve os efeitos anulados "pela exorbitante taxa de juros."
Ao tratar de juros, faz coro
com o vice-presidente José
Alencar. Menciona "clamor
nacional contra os juros escorchantes". Lamenta que o
governo não se sensibilize.
O ídolo de Severino na Esplanada é o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura).
Rodrigues o cativou ao demonstrar sensibilidade para
tema que lhe é muito caro: o
futuro das bananas. Acossado por bananicultores do
Vale do Sirigi (PE), conversou com Rodrigues a respeito da praga chamada "sigatoka negra". Seca as folhas
das bananeiras, impedindo
o desenvolvimento da fruta.
Segundo Severino, o ministro mobilizou a Embrapa.
"Que Deus ilumine os cientistas a encontrar uma fórmula mágica de tornar nossa
banana imune às pragas."
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