São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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Recém-eleito discorre sobre bananas e CLT

JOSIAS DE SOUZA
COLUNISTA DA FOLHA

Conservador nos costumes, Severino Cavalcanti, o novo presidente da Câmara, torna-se um reformista radical ao discorrer sobre direitos dos trabalhadores.
Acha, por exemplo, que há uma "banalização de processos contra a prática de trabalho escravo" no Brasil. Considera que, em casos, até a assinatura da carteira de trabalhador é dispensável.
"Milhares de bóias-frias são deslocados para as fazendas conforme o trabalho que surge", disse na Câmara, em 2 de março de 2004. "Fica difícil para o produtor (...) registrar esse trabalhador pelo espaço de um ou dois dias, ou curtos períodos."
Numa fase em que ninguém lhe dava ouvidos, falou sobre temas econômicos: da legislação trabalhista ao cultivo da banana.
No discurso em que tratou de trabalho escravo, Severino disse que "exigências absurdas começam a inviabilizar" a atividade rural. Entre os supostos disparates, citou episódio com o senador João Ribeiro (PFL-TO), acusado, um ano atrás, de submeter 35 trabalhadores a condições similares às de escravos em fazenda no sul do Pará.
João Ribeiro foi denunciado pelo procurador-geral, Claudio Fonteles. Em defesa anexada ao processo, tachou de "bravata sensacionalista" o relatório do Ministério do Trabalho, cujos fiscais inspecionaram a fazenda.
Severino deu-lhe razão. Disse: "É preciso desconhecer a realidade de condições e costumes regionais para exigir de um fazendeiro, na Amazônia ou no sertão nordestino, privadas ou água tratada no meio do mato".
Para Severino, convém "enxugar" a CLT. Um dos pontos citados é a "desoneração da folha de pagamento" das empresas, sobretudo "as pequenas e médias".
A defesa do pequeno empresário é uma obsessão de Severino. Alistou-se à frente parlamentar que arrancou do governo FHC o Estatuto da Micro e da Pequena Empresa. Acha, porém, que a lei teve os efeitos anulados "pela exorbitante taxa de juros."
Ao tratar de juros, faz coro com o vice-presidente José Alencar. Menciona "clamor nacional contra os juros escorchantes". Lamenta que o governo não se sensibilize.
O ídolo de Severino na Esplanada é o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura). Rodrigues o cativou ao demonstrar sensibilidade para tema que lhe é muito caro: o futuro das bananas. Acossado por bananicultores do Vale do Sirigi (PE), conversou com Rodrigues a respeito da praga chamada "sigatoka negra". Seca as folhas das bananeiras, impedindo o desenvolvimento da fruta.
Segundo Severino, o ministro mobilizou a Embrapa. "Que Deus ilumine os cientistas a encontrar uma fórmula mágica de tornar nossa banana imune às pragas."


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