|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Invasão consentida" dribla despejo de sem-terra no PA
Justiça de Marabá tenta acordo entre invasores e proprietários antes de decidir
Medida prévia à concessão
de reintegração de posse é
para evitar conflitos; plano
de direitos humanos prevê a
adoção de regra semelhante
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Enquanto ruralistas e governo federal discutem a legalidade do ponto do Plano Nacional
de Direitos Humanos que prevê a negociação entre sem-terra e proprietários rurais antes
do despejo de invasores, uma
versão da ideia já é aplicada no
sudeste do Pará, região de
maior conflito agrário do país.
É a "invasão consentida".
A medida proposta no criticado plano prevê que, por meio
de lei, a mediação entre as partes sirva como "medida preliminar" à concessão de liminares. Não é muito diferente do é
feito pela Vara Agrária de Marabá, maior cidade da região.
Uma vez ocorrida a invasão, a
Justiça de Marabá tem chamado invasores e donos de áreas
invadidas para tentar um acordo, antes de decidir sobre liminar de reintegração de posse.
Só em dezembro do ano passado, numa visita do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), a
vara conseguiu 11 "acordos de
paz" em fazendas onde estavam 1.760 famílias. Outras seis
audiências estão marcadas.
Geralmente, os proprietários
aceitam o não cumprimento ou
o indeferimento de mandados
em troca de um período de convivência pacífica ou da saída
temporária dos sem-terra.
Durante essa "trégua", o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)
faz vistorias para decidir se a fazenda deve ser desapropriada
para a reforma agrária.
"Os acordos são eficazes, na
maioria da vezes", disse Claudia Regina Favacho, juíza da
Vara Agrária. "Como existe um
compromisso dos dois lados,
acaba esse jogo de gato e rato,
em que a polícia tira os trabalhadores e logo depois eles voltam para o mesmo lugar."
A iniciativa se fortaleceu nos
últimos seis meses. Para o advogado José Batista, da CPT
(Comissão Pastoral da Terra), é
uma resposta à ação da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara,
ligada ao banqueiro Daniel
Dantas, na região. Em pouco
mais de quatro anos, a empresa
comprou 500 mil hectares de
terra. Os sem-terra invadiram
10 das 45 fazendas do grupo.
Para a Santa Bárbara, o recrudescimento na região se deve à negativa do governo de Ana
Júlia Carepa (PT) em expulsar
os sem-terra de suas terras.
A Faepa (Federação da Agricultura e Pecuária do Pará) vê
nos acordos um sintoma do
"desespero" dos fazendeiros
com invasões que podem durar
anos. "É como você deixar o
Marcola [integrante da organização criminosa PCC] entrar
na sua casa e ter de negociar para que ele saia", disse Carlos
Xavier, presidente da entidade.
Texto Anterior: Aliados divergem sobre se Arruda deveria renunciar Próximo Texto: PA apura só 33% de mortes no meio rural Índice
|