|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Respaldo a Collor constrange senadores
Depois de se solidarizarem com ex-presidente durante discurso, parlamentares tentam explicar atitude
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Senadores que deram respaldo anteontem para o ex-presidente da República Fernando
Collor de Mello (PTB-AL) sustentar, em um discurso de três
horas e meia, que o processo de
impeachment contra ele foi
"uma grande farsa" faziam malabarismos ontem para justificar sua posição. Outros tentavam explicar o silêncio diante
do pronunciamento em plenário do senador.
Ao mesmo tempo em que diz
que não estava ali se penitenciando, o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) insistiu
no mea culpa. "Eu fui um dos
que o julgou no plenário, mas
não estou seguro do resultado
da CPI do PC porque não participei das investigações", afirmou Garibaldi.
Collor, que chegou a chorar,
questionou na tribuna do Senado a legalidade da cassação de
seu mandato em 1992.
Dos dezesseis senadores que
fizeram apartes ao discurso do
ex-presidente, apenas o petista
Aloizio Mercadante (SP) fez
contestações.
O senador Tião Viana (PT-AC) foi um dos que estava presente e ouviu o discurso calado.
"Eu ia apartear mas tinha
que viajar. Estava em um impasse", disse ele. Mesmo assim,
o petista ontem defendeu o senador do PTB. "Acho que os argumentos jurídicos usados por
ele foram muito relevantes. Na
hora que extrapolamos o julgamento moral e político para
atropelar uma condução jurídica podemos incorrer em atentados graves à democracia",
afirmou Tião.
O ex-presidente focou seu
discurso em supostos "abusos"
cometidos pela CPI que investigou o esquema PC Farias e em
"atropelos" na tramitação do
processo de impeachment.
Tião ressaltou, no entanto,
que considerou "frágil" a argumentação política de Collor.
"Ele não explicou a intimidade que tinha com PC Farias [tesoureiro da sua campanha à
Presidência, em 1989], denúncias como a do Fiat Elba e a reforma da Casa da Dinda", disse
o petista. A compra do veículo
com dinheiro do esquema PC
Farias foi determinante para a
abertura do processo de impeachment contra Collor.
O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), dividiu o pronunciamento do ex-presidente em dois momentos.
"Quando eu fiz o aparte achei
que ele tinha acabado. Até ali
ele tinha ido muito bem, foi comedido e equilibrado. Mas depois o tom foi muito diferente,
ele começou a fingir que se
emocionava e voltou a ser o velho Collor", afirmou o tucano.
"Eu não me arrependo da posição que tive na época, mas seria indelicado dizer que ele era
culpado. É como um criminoso
que já pagou a sua pena", acrescentou Tasso.
A Folha deixou recado ontem para o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), que
também não quis entrar no
mérito das denúncias. Até o fechamento desta edição, entretanto, ele não havia retornado.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Artigo: A farsa de Collor Índice
|