São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Voto em Kassab, diz secretário tucano

Alexandre Schneider, à frente da Educação em São Paulo, diz que não apoiar prefeito seria negar as conquistas no cargo

Auxiliar de prefeito diz que clima no partido "não é dos melhores" com a hipótese cada vez mais provável de dois candidatos da situação

Caio Guatelli - 11.dez.2006/Folha Imagem
Alexandre Schneider e prefeito Gilberto Kassab durante entrega do prêmio Aprendiz, no MASP


CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Incomodado com o rótulo de integrante da "turma do holerite", o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, admite: "Numa hipótese, que acho remota, de dois candidatos, é óbvio que tenho que votar no Kassab. Não tenho como não votar nele. Seria negar tudo que construí junto com ele na educação em São Paulo".
Aos 38 anos-dez deles no PSDB-Schneider evoca a história de Mário Covas e a opção do PSDB por Geraldo Alckmin em 2006 para minimizar o papel da pesquisa na escolha dos candidatos. Para ele, a candidatura de Kassab é natural.

 

FOLHA - Como o senhor assiste à briga interna do PSDB?
ALEXANDRE SCHNEIDER
- É importante dizer que o partido defende a manutenção da aliança. A questão que vem depois é se deve ter uma candidatura própria ou apoiar o prefeito Kassab. Acredito que vai haver aliança e que há um exagero de parte a parte com alguns comentários desnecessários. Se as pessoas seguissem o prefeito e o governador Geraldo Alckmin, a serenidade com que estão discutindo, o partido talvez saísse maior dessa discussão.

FOLHA - Que comentários desnecessários?
SCHNEIDER
- Dizer que Alckmin está colocando sua candidatura para ter mais espaço no governo Serra é desrespeitá-lo. De outro lado, dizer que quem está no governo, cumprindo um programa do PSDB, é da turma do holerite é extremamente deselegante e talvez reflita a forma com que algumas pessoas ainda vêem a política.

FOLHA - Como o senhor se sente chamado da turma do holerite?
SCHNEIDER
- No início, não gostei muito. Depois, achei interessante. Talvez denote a visão que algumas pessoas, inclusive do meu partido, têm: que a política é baseada na troca de favores e no empreguismo.

FOLHA - O senhor acha que está sendo medido pelo metro deles?
SCHNEIDER
- Exatamente. Isso está bem localizado. Não é um discurso geral. Mas é uma tentativa de medir não só a mim, mas todos os companheiros que se dedicam a este governo, que lutaram para eleger o José Serra, com a régua deles.

FOLHA - Particularmente, o senhor defende a candidatura de quem? Do Kassab?
SCHNEIDER
- O partido vai definir. Mas fica muito difícil, para quem participou da eleição, da construção do governo e está trabalhando para que tudo dê certo, virar as costas para tudo que foi feito. O governo foi conduzido por um quadro do PSDB. Hoje, já há dois anos, é conduzido por um quadro do DEM que não mudou absolutamente nada. Não vejo como virar as costas para isso e ser desleal não só com o prefeito, [que foi] leal ao PSDB o tempo inteiro, como ser desleal com a minha própria história e a dos companheiros na prefeitura.

FOLHA - Então o senhor defende a candidatura do Kassab?
SCHNEIDER
- Defendo a candidatura do Kassab. Mas, acima de tudo, a aliança.

FOLHA - O senhor considera a candidatura do Kassab natural. É isso?
SCHNEIDER
- É natural. Desde que existe a reeleição, alguém que ocupa um cargo no executivo tem praticamente a obrigatoriedade de se candidatar. Essa frase nem é minha. É do Mário Covas, um opositor do instituto da reeleição, mas que foi candidato por isso. Não tem como o prefeito Kassab não ser candidato. Assim como acho que a candidatura do Geraldo Alckmin é legítima. Ele é uma liderança do PSDB.

FOLHA - E o argumento de que o Alckmin é o único capaz de derrotar o PT?
SCHNEIDER
- Para citar o Mário Covas, em 1990 ele tinha 60% das intenções no início do ano. Na eleição, chegou lá atrás. Em compensação, em 1998, sua derrota era dada como certa em agosto, e ele venceu. Pesquisa neste momento é uma foto. Em 2006, o PSDB decidiu por um candidato que não era o que estava na frente das pesquisas. O candidato a presidente foi Alckmin. Tínhamos Serra numa dianteira muito maior.

FOLHA - Qual será o discurso do Alckmin caso ele seja candidato?
SCHNEIDER
- Não sei se posso falar pelo governador. Mas acho que ele vai reconhecer que este governo avançou bastante.

FOLHA - Se ele fizer críticas à área de Educação?
SCHNEIDER
- O governador é uma pessoa muito correta e já declarou que quer olhar para frente. Duvido que vá criticar este governo porque sabe que há muitas pessoas que inclusive serviram ao governo dele.

FOLHA - Os secretários tucanos devem ficar no governo Kassab em caso de duas candidaturas?
SCHNEIDER
- Os secretários devem ficar porque, se o PSDB decidir pela candidatura própria - e o PSDB tem o direito de decidir pela candidatura própria, o problema é levar isso pelo campo da racionalidade, não da emoção -, a prefeitura não pode parar, nem o prefeito ter o mandato encurtado por conta de uma decisão meramente eleitoral, e não programática.
Não podemos deixar a cidade à própria sorte. Nem virar às costas ao que fizemos. Nem virar as costas para o prefeito e para a cidade. O PSDB tem setores que defendem a candidatura porque entendem que é mais competitiva. Mas não por uma crítica ao governo.

FOLHA - Se houver duas candidaturas, como fica o clima no partido?
SCHNEIDER
- Temos que trabalhar para que seja bom. Hoje, não é dos melhores.

FOLHA - O senhor não acha que ficará constrangido?
SCHNEIDER
- Ficaria constrangido se o PSDB atacasse a gestão do Kassab. Seria uma situação esdrúxula para todos nós. O PSDB está intimamente ligado a este governo.

FOLHA - Em caso de duas candidaturas, o senhor vota em quem?
SCHNEIDER
- Acho que não vai haver duas candidaturas. O governador Alckmin e o prefeito estão lidando bem com isso e vão construir um consenso. Agora, é inegável que não posso virar as costas para o prefeito Kassab, que foi leal com o PSDB, que foi leal e é leal com o programa que elegeu José Serra. E não posso virar as costas para minha história. Estou numa situação muito parecida com de outros secretários e até vereadores do partido. Sempre votaram junto com o governo, participam de suas ações e também desejam a manutenção da aliança. Portanto, numa hipótese, que acho remota, de dois candidatos, é óbvio que tenho que votar no Kassab. Não tenho como não votar nele. Seria negar tudo que construí junto com ele na educação em São Paulo.

FOLHA - O senhor não tem medo de reprimenda?
SCHNEIDER
- Difícil porque o partido não definiu o que quer. As pessoas têm que discutir. Não sinto que haja possibilidade de reprimenda. Até porque estou cumprindo o programa do partido neste governo.


Texto Anterior: Senado quer vender a folha em pregão
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.