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Voto em Kassab, diz secretário tucano
Alexandre Schneider, à frente da Educação em São Paulo, diz que não apoiar prefeito seria negar as conquistas no cargo
Auxiliar de prefeito diz que clima no partido "não é dos melhores" com a hipótese cada vez mais provável de dois candidatos da situação
Caio Guatelli - 11.dez.2006/Folha Imagem
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Alexandre Schneider e prefeito Gilberto Kassab durante entrega do prêmio Aprendiz, no MASP |
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Incomodado com o rótulo de
integrante da "turma do holerite", o secretário municipal de
Educação, Alexandre Schneider, admite: "Numa hipótese,
que acho remota, de dois candidatos, é óbvio que tenho que
votar no Kassab. Não tenho como não votar nele. Seria negar
tudo que construí junto com
ele na educação em São Paulo".
Aos 38 anos-dez deles no
PSDB-Schneider evoca a história de Mário Covas e a opção
do PSDB por Geraldo Alckmin
em 2006 para minimizar o papel da pesquisa na escolha dos
candidatos. Para ele, a candidatura de Kassab é natural.
FOLHA - Como o senhor assiste à
briga interna do PSDB?
ALEXANDRE SCHNEIDER - É importante dizer que o partido defende a manutenção da aliança. A
questão que vem depois é se deve ter uma candidatura própria
ou apoiar o prefeito Kassab.
Acredito que vai haver aliança e
que há um exagero de parte a
parte com alguns comentários
desnecessários. Se as pessoas
seguissem o prefeito e o governador Geraldo Alckmin, a serenidade com que estão discutindo, o partido talvez saísse
maior dessa discussão.
FOLHA - Que comentários desnecessários?
SCHNEIDER - Dizer que Alckmin
está colocando sua candidatura
para ter mais espaço no governo Serra é desrespeitá-lo. De
outro lado, dizer que quem está
no governo, cumprindo um
programa do PSDB, é da turma
do holerite é extremamente deselegante e talvez reflita a forma com que algumas pessoas
ainda vêem a política.
FOLHA - Como o senhor se sente
chamado da turma do holerite?
SCHNEIDER - No início, não gostei muito. Depois, achei interessante. Talvez denote a visão
que algumas pessoas, inclusive
do meu partido, têm: que a política é baseada na troca de favores e no empreguismo.
FOLHA - O senhor acha que está
sendo medido pelo metro deles?
SCHNEIDER - Exatamente. Isso
está bem localizado. Não é um
discurso geral. Mas é uma tentativa de medir não só a mim,
mas todos os companheiros
que se dedicam a este governo,
que lutaram para eleger o José
Serra, com a régua deles.
FOLHA - Particularmente, o senhor
defende a candidatura de quem? Do
Kassab?
SCHNEIDER - O partido vai definir. Mas fica muito difícil, para
quem participou da eleição, da
construção do governo e está
trabalhando para que tudo dê
certo, virar as costas para tudo
que foi feito. O governo foi conduzido por um quadro do
PSDB. Hoje, já há dois anos, é
conduzido por um quadro do
DEM que não mudou absolutamente nada. Não vejo como virar as costas para isso e ser desleal não só com o prefeito, [que
foi] leal ao PSDB o tempo inteiro, como ser desleal com a minha própria história e a dos
companheiros na prefeitura.
FOLHA - Então o senhor defende a
candidatura do Kassab?
SCHNEIDER - Defendo a candidatura do Kassab. Mas, acima de
tudo, a aliança.
FOLHA - O senhor considera a candidatura do Kassab natural. É isso?
SCHNEIDER - É natural. Desde
que existe a reeleição, alguém
que ocupa um cargo no executivo tem praticamente a obrigatoriedade de se candidatar. Essa frase nem é minha. É do Mário Covas, um opositor do instituto da reeleição, mas que foi
candidato por isso. Não tem como o prefeito Kassab não ser
candidato. Assim como acho
que a candidatura do Geraldo
Alckmin é legítima. Ele é uma
liderança do PSDB.
FOLHA - E o argumento de que o
Alckmin é o único capaz de derrotar
o PT?
SCHNEIDER - Para citar o Mário
Covas, em 1990 ele tinha 60%
das intenções no início do ano.
Na eleição, chegou lá atrás. Em
compensação, em 1998, sua
derrota era dada como certa em
agosto, e ele venceu. Pesquisa
neste momento é uma foto. Em
2006, o PSDB decidiu por um
candidato que não era o que estava na frente das pesquisas. O
candidato a presidente foi
Alckmin. Tínhamos Serra numa dianteira muito maior.
FOLHA - Qual será o discurso do
Alckmin caso ele seja candidato?
SCHNEIDER - Não sei se posso falar pelo governador. Mas acho
que ele vai reconhecer que este
governo avançou bastante.
FOLHA - Se ele fizer críticas à área
de Educação?
SCHNEIDER - O governador é
uma pessoa muito correta e já
declarou que quer olhar para
frente. Duvido que vá criticar
este governo porque sabe que
há muitas pessoas que inclusive serviram ao governo dele.
FOLHA - Os secretários tucanos devem ficar no governo Kassab em caso de duas candidaturas?
SCHNEIDER - Os secretários devem ficar porque, se o PSDB decidir pela candidatura própria
- e o PSDB tem o direito de decidir pela candidatura própria,
o problema é levar isso pelo
campo da racionalidade, não da
emoção -, a prefeitura não pode parar, nem o prefeito ter o
mandato encurtado por conta
de uma decisão meramente
eleitoral, e não programática.
Não podemos deixar a cidade à
própria sorte. Nem virar às costas ao que fizemos. Nem virar
as costas para o prefeito e para
a cidade. O PSDB tem setores
que defendem a candidatura
porque entendem que é mais
competitiva. Mas não por uma
crítica ao governo.
FOLHA - Se houver duas candidaturas, como fica o clima no partido?
SCHNEIDER - Temos que trabalhar para que seja bom. Hoje,
não é dos melhores.
FOLHA - O senhor não acha que ficará constrangido?
SCHNEIDER - Ficaria constrangido se o PSDB atacasse a gestão
do Kassab. Seria uma situação
esdrúxula para todos nós. O
PSDB está intimamente ligado
a este governo.
FOLHA - Em caso de duas candidaturas, o senhor vota em quem?
SCHNEIDER - Acho que não vai
haver duas candidaturas. O governador Alckmin e o prefeito
estão lidando bem com isso e
vão construir um consenso.
Agora, é inegável que não posso
virar as costas para o prefeito
Kassab, que foi leal com o
PSDB, que foi leal e é leal com o
programa que elegeu José Serra. E não posso virar as costas
para minha história. Estou numa situação muito parecida
com de outros secretários e até
vereadores do partido. Sempre
votaram junto com o governo,
participam de suas ações e também desejam a manutenção da
aliança. Portanto, numa hipótese, que acho remota, de dois
candidatos, é óbvio que tenho
que votar no Kassab. Não tenho
como não votar nele. Seria negar tudo que construí junto
com ele na educação em São
Paulo.
FOLHA - O senhor não tem medo
de reprimenda?
SCHNEIDER - Difícil porque o
partido não definiu o que quer.
As pessoas têm que discutir.
Não sinto que haja possibilidade de reprimenda. Até porque
estou cumprindo o programa
do partido neste governo.
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