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FERNANDO GABEIRA
"Se a campanha for debate sobre drogas e homofobia, perderemos o ponto central"
FOLHA - O sr. diz que não será candidato de oposição nem de situação
e tem apoio de ex-administradores
criticados. Não é pertinente cobrar
coerência com os discursos no Congresso?
FERNANDO GABEIRA - A coerência
vai ser cobrada e deve ser cobrada. As relações políticas foram muito degradadas. Estamos tentando fazer uma alteração desse processo. Reforma
política não através do Congresso, mas de um movimento
político-cultural.
Não são as pessoas que vão
me cobrar coerência: eu me cobro a cada instante. Meu projeto é avançar onde o PT capitulou, nas relações políticas, sem
fisiologismo.
Para trabalhar na recuperação da cidade é fundamental a
conjugação de políticas e recursos municipais, estaduais e federais. Não significa que vá mudar minhas idéias.
FOLHA - O sr. aceitaria discutir o
apoio de Lula e/ou Cabral?
GABEIRA - Aceitaria. Uma vez
aceitas as condições que coloco-de dar um passo à frente
nas relações políticas. Nossa intenção, além de trabalhar pela
recuperação do Rio, é balizar o
caminho de 2010. A política
chegou a um nível de degradação em que a própria democracia está ameaçada.
FOLHA - Em nome desse projeto o
sr. daria anistia ao mensalão e a governos com gestão questionada?
GABEIRA - Não sou a instância
que concede ou não anistia. Sou
a instância que tenta articular
um novo momento. Quem vai
trabalhar a anistia ou não é a
Polícia Federal, o Supremo, a
Procuradoria, a população.
Uma coisa é condenar a corrupção, outra é dizer: quem pecou
não entra. Quem pecou vai ter
de responder por seus pecados,
mas, entrando, aceita as regras
do jogo de uma reforma das relações políticas.
O convite que faço é para esquecermos o século passado. As
políticas necessárias para a recuperação da cidade são abrangentes, atravessam classes sociais, concepções partidárias e
ideológicas.
FOLHA - O sr. é um defensor do
aborto, da discriminação das drogas, dos homossexuais. Isso pode se
voltar contra o sr. na campanha?
GABEIRA - Se transformamos a
campanha do Rio num debate
sobre homofobia, drogas e
prostituição, vamos perder o
ponto central e é possível que
um outro candidato ganhe as
eleições. O ponto é a recuperação do Rio e como resolvê-la.
Posso até dedicar um tempo
marginal para discutir essas
questões, o que é simples porque posso discuti-las no piloto
automático. Não são as principais questões. Não se pode
transformar a eleição numa
disputa religiosa. Meu princípio é a liberdade de religião.
FOLHA - E as drogas?
GABEIRA - Tenho condições de
formular uma política antidrogas, que não é a legalização porque não está no meu âmbito.
Vamos parar de discutir sou
contra ou sou a favor da legalização. É o mesmo caso do aborto. Vamos achar uma ponte entre as posições. As posições políticas não são feitas para afirmar superioridade moral sobre
o outro e voltar para casa limpando as mãos.
FOLHA - O sr. tem desempenho
melhor na zona sul que em regiões
menos abastadas, ao contrário de
Crivella. Como será o confronto?
GABEIRA - Essa caracterização é
muito simplificadora. As forças
que me apóiam têm penetração
também nesses setores. Sou
um candidato da zona sul pronto para entrar nos morros, como fiz em 1986 [na candidatura
ao governo do Estado]. Hoje,
mudou um pouco a concepção
do que se tem como zona norte
e favela. Existem 5.000 lan
houses no Rio, gente com acesso a internet. Essa divisão rígida da cidade entre ricos e pobres é conservadora porque
quer tornar perene a divisão.
FOLHA - O Rio tem trauma com
gestões ruins, desde quando, em
1988, Saturnino Braga decretou a
falência da cidade. A falta de experiência administrativa é problema?
GABEIRA - Essa crítica é procedente e deve ser considerada.
Nunca administrei nada, mas
tenho enorme curiosidade para
aprender e estou aprendendo.
Quando chegar, terei a visão de
como trabalharam os prefeitos
com quem converso e quais são
suas falhas e virtudes.
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