São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO GABEIRA

"Se a campanha for debate sobre drogas e homofobia, perderemos o ponto central"

FOLHA - O sr. diz que não será candidato de oposição nem de situação e tem apoio de ex-administradores criticados. Não é pertinente cobrar coerência com os discursos no Congresso?
FERNANDO GABEIRA
- A coerência vai ser cobrada e deve ser cobrada. As relações políticas foram muito degradadas. Estamos tentando fazer uma alteração desse processo. Reforma política não através do Congresso, mas de um movimento político-cultural. Não são as pessoas que vão me cobrar coerência: eu me cobro a cada instante. Meu projeto é avançar onde o PT capitulou, nas relações políticas, sem fisiologismo. Para trabalhar na recuperação da cidade é fundamental a conjugação de políticas e recursos municipais, estaduais e federais. Não significa que vá mudar minhas idéias.

FOLHA - O sr. aceitaria discutir o apoio de Lula e/ou Cabral?
GABEIRA
- Aceitaria. Uma vez aceitas as condições que coloco-de dar um passo à frente nas relações políticas. Nossa intenção, além de trabalhar pela recuperação do Rio, é balizar o caminho de 2010. A política chegou a um nível de degradação em que a própria democracia está ameaçada.

FOLHA - Em nome desse projeto o sr. daria anistia ao mensalão e a governos com gestão questionada?
GABEIRA
- Não sou a instância que concede ou não anistia. Sou a instância que tenta articular um novo momento. Quem vai trabalhar a anistia ou não é a Polícia Federal, o Supremo, a Procuradoria, a população.
Uma coisa é condenar a corrupção, outra é dizer: quem pecou não entra. Quem pecou vai ter de responder por seus pecados, mas, entrando, aceita as regras do jogo de uma reforma das relações políticas. O convite que faço é para esquecermos o século passado. As políticas necessárias para a recuperação da cidade são abrangentes, atravessam classes sociais, concepções partidárias e ideológicas.

FOLHA - O sr. é um defensor do aborto, da discriminação das drogas, dos homossexuais. Isso pode se voltar contra o sr. na campanha?
GABEIRA
- Se transformamos a campanha do Rio num debate sobre homofobia, drogas e prostituição, vamos perder o ponto central e é possível que um outro candidato ganhe as eleições. O ponto é a recuperação do Rio e como resolvê-la.
Posso até dedicar um tempo marginal para discutir essas questões, o que é simples porque posso discuti-las no piloto automático. Não são as principais questões. Não se pode transformar a eleição numa disputa religiosa. Meu princípio é a liberdade de religião.

FOLHA - E as drogas?
GABEIRA
- Tenho condições de formular uma política antidrogas, que não é a legalização porque não está no meu âmbito. Vamos parar de discutir sou contra ou sou a favor da legalização. É o mesmo caso do aborto. Vamos achar uma ponte entre as posições. As posições políticas não são feitas para afirmar superioridade moral sobre o outro e voltar para casa limpando as mãos.

FOLHA - O sr. tem desempenho melhor na zona sul que em regiões menos abastadas, ao contrário de Crivella. Como será o confronto?
GABEIRA
- Essa caracterização é muito simplificadora. As forças que me apóiam têm penetração também nesses setores. Sou um candidato da zona sul pronto para entrar nos morros, como fiz em 1986 [na candidatura ao governo do Estado]. Hoje, mudou um pouco a concepção do que se tem como zona norte e favela. Existem 5.000 lan houses no Rio, gente com acesso a internet. Essa divisão rígida da cidade entre ricos e pobres é conservadora porque quer tornar perene a divisão.

FOLHA - O Rio tem trauma com gestões ruins, desde quando, em 1988, Saturnino Braga decretou a falência da cidade. A falta de experiência administrativa é problema?
GABEIRA
- Essa crítica é procedente e deve ser considerada. Nunca administrei nada, mas tenho enorme curiosidade para aprender e estou aprendendo. Quando chegar, terei a visão de como trabalharam os prefeitos com quem converso e quais são suas falhas e virtudes.


Texto Anterior: Entrevista da 2ª: Crivella e Gabeira temem um racha social no Rio
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.