São Paulo, terça, 17 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTICULAÇÃO
PT tenta forçar radicais a aceitar alianças
Pragmatismo leva Lula a Itamar em MG

CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local


Luiz Inácio Lula da Silva e parte da cúpula do PT vão amanhã a Juiz de Fora para conversar com o ex-presidente Itamar Franco (PMDB).
Oficialmente, os petistas vão prestar solidariedade a Itamar pelos ataques na recente convenção nacional do PMDB. No bastidor, Lula alimenta uma tênue esperança de conquistar o apoio do ex-presidente para sua candidatura à Presidência.
Lula irá a Juiz de Fora acompanhado de José Dirceu, presidente nacional do PT, dos líderes das bancadas na Câmara e no Senado e de Patrus Ananias, pré-candidato da legenda ao governo mineiro.
A corrida até Itamar é mais uma prova do pragmatismo que Lula pretende ver em sua campanha. O petista não gosta do ex-presidente da República e já tornou pública suas restriçôes a ele.
Na viagem que fez a capitais nordestinas em janeiro último, por exemplo, antes portanto de Itamar decidir enfrentar a ala governista do PMDB, Lula tinha uma frase padrão. "O Itamar é um caso raro de falta de coragem. Nunca um presidente da República saiu do cargo com tanta popularidade e, no entanto, acabou aceitando virar um simples funcionário do governo", dizia na ocasião.
Lula, que se arrependeu de aceitar disputar a Presidência mas sabe que o caminho agora não tem volta, espera, com a visita a Itamar, quebrar um pouco a imagem de sectário do PT e, ainda, abrir espaço para cooptar peemedebistas descontentes com a adesão partidária a Fernando Henrique Cardoso.
De concreto, até agora, Lula, entre os peemedebistas, só tem a promessa de apoio do senador Roberto Requião (PR). A adesão de outras lideranças expressivas do PMDB é aposta minoritária na cúpula petista.
O pré-candidato petista tem estimulado boatos sobre uma possível desistência da corrida eleitoral para forçar a ala "esquerda" de seu partido a abrir mão de candidaturas próprias consideradas frágeis a governos estaduais.
O objetivo de Lula, no quadro atual, é evitar um vexame eleitoral em outubro. O temor do petista é terminar a apuração com menos votos do que os obtidos em 94, o que configuraria uma tendência definitiva de decadência, depois da quase vitória em 89.
Para evitar o cenário trágico, Lula só vê o caminho das concessões, como o apoio ao governador de Pernambuco, Miguel Arraes (PSB), rejeitado pelo PT local. Dirceu se encontra hoje em Brasília com dirigentes socialistas para tentar o aval para a candidatura de Lula.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.