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CONTAS PÚBLICAS
Gastos obrigatórios, como os com social, foram os que mais subiram
Custo da máquina aumenta, mas não bate recorde de 2001
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os gastos com a manutenção da
máquina pública -como material de consumo, serviços de consultoria, diárias e passagens, sem
relação direta com benefícios à
população- aumentaram 18%
acima da inflação entre o primeiro e o segundo ano do governo
Luiz Inácio Lula da Silva.
Ainda assim, não alcançaram os
valores registrados em 2001, penúltimo ano da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na compra de material de
consumo, por exemplo, foram
gastos em 2004 R$ 5,2 bilhões do
dinheiro dos impostos, contra R$
5,7 bilhões registrados em 2001
com esse tipo de despesa, em valores corrigidos pelo IGP-M. Em
passagens e diárias, foram gastos
R$ 996 milhões em 2004, contra
R$ 1,177 bilhão em 2001.
Os números aparecem em estudo da Consultoria de Orçamento
e Fiscalização Financeira da Câmara, que corrigiu as principais
despesas do governo nos últimos
quatro anos pela inflação e comparou-as também como proporção do PIB (Produto Interno Bruto). O estudo pretendeu investigar detalhes da suposta "gastança" promovida pelo governo Lula.
O debate é bem mais complexo
do que parece, indica o estudo: o
único dos grandes grupos de despesas públicas que cresceu em
termos reais nos últimos quatro
anos -as despesas correntes-
inclui gastos obrigatórios com
saúde e educação, além de benefícios previdenciários, assistenciais
e de transferência de renda.
As despesas correntes alcançarão o equivalente a 17,1% do PIB
em 2005 e, por isso, são alvo de redução de gastos estabelecida no
projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias divulgado sexta-feira.
Entre as despesas não impostas
por lei ou pela Constituição desse
mesmo grupo, caíram aquelas de
caráter administrativo, como as
diárias e passagens. Cresceram as
despesas consideradas operacionais, voltadas a benefícios diretos
para a população, ainda de acordo com primeira tentativa de qualificar o aumento dos gastos de
custeio do governo. Isso pode
complicar as chances de cortes.
Com o estudo da Consultoria de
Orçamento em mãos, o ministro
do Planejamento, Paulo Bernardo, fez duas observações:
1) sobre o aumento dos gastos
com diárias, passagens, material
de consumo e serviços de consultoria entre 2003 e 2004, o ministro
nega que seja uma tendência a ser
repetida em 2005. "O crescimento
real dessas despesas tem de ser
igual a zero", afirmou Bernardo,
antecipando o aperto nas despesas correntes para o último ano de
mandato de Lula, tornado público na sexta-feira;
2) com a ressalva de que não será uma discussão "simples", o ministro disse que o governo não está fechado ao debate de propostas
como a desvinculação do piso das
aposentadorias e pensões da Previdência do valor do salário mínimo ou mesmo a redução do valor
dos benefícios a idosos e deficientes físicos. São despesas que pesam nas contas públicas. "Do
ponto de vista político, não há clima nenhum para a discussão,
tampouco há um ponto de vista
fechado pelo governo, mas temos
de discutir", adiantou.
Menos investimento
Corrigidas pela inflação ou
comparadas como proporção do
PIB, as despesas dos demais grupos -pessoal, juros e investimentos- caem entre 2001 e 2004,
período considerado na análise
da Comissão de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara.
Indicador mais visível do desempenho do governo e principal
alvo dos cortes nos últimos anos,
os investimentos despencaram.
No período pesquisado, eles caíram a menos da metade, de R$
22,3 bilhões, em 2001, para R$ 10,8
bilhões, em 2004. O pior momento para os investimentos ocorreu
no ano da posse de Lula.
No que diz respeito aos gastos
com pessoal -cuja expansão
também é alvo de críticas ao governo Lula-, o estudo mostra
que não houve aumento real nos
pagamentos da folha de salários e
aposentadorias da União. Em
proporção do PIB, essas despesas
teriam caído no início do governo
Lula e se estabilizado depois.
E não há expectativa de aumento dos gastos de pessoal em proporção do PIB para este ano, apesar do impacto de aumentos salariais concedidos a algumas categorias do funcionalismo público e
da realização de concursos para a
contratação de mais servidores,
ainda segundo estudo da Consultoria de Orçamento.
"Houve um esforço grande para
recompor os salários de algumas
carreiras do funcionalismo e elevar as contratações, mas consideramos que está sob controle",
avaliou Paulo Bernardo.
De acordo com nota técnica da
liderança do PSDB, "não existe
um efetivo controle das despesas
com pessoal e encargos sociais,
conseqüência de uma política
sem critérios, de aumentos diferenciados por categorias de profissionais".
O mesmo estudo, feito sem a
correção das despesas pela inflação, diz que "o aumento das despesas administrativas evidencia
que a gastança tem aumentado e
imperado na administração pública, reflexo do inchaço da máquina da administração federal".
Confrontados com os resultados do estudo da Consultoria de
Orçamento, os tucanos sugeriram
que o custo das passagens aéreas
caiu nos últimos anos e que parte
das despesas com passagens e
diárias, sob Lula, não apareceria
claramente no Siafi (sistema de
acompanhamento de gastos federais) em decorrência do uso crescente de cartões de crédito.
A crítica ao aumento das despesas públicas não é feita só pela
oposição, mas também por um
dos comandantes da política econômica, o secretário do Tesouro,
Joaquim Levy.
Material de consumo
Nas contas do governo, a compra de material de consumo comprometeu, no primeiro trimestre
do ano, mais dinheiro arrecadado
com impostos do que os investimentos federais. Do início do ano
até 1º de abril, foram gastos R$
300 milhões em material de consumo contra R$ 70,9 milhões em
investimentos autorizados para o
ano e pagos no mesmo período.
O Ministério da Saúde responde
por mais da metade dos gastos
com material de consumo do
Executivo. Motivo: a compra de
medicamentos é o que mais pesa
nesse tipo de despesa. Em 2004,
dos R$ 5,1 bilhões gastos com material de consumo, R$ 1,1 bilhão
foi para a compra de remédios.
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