São Paulo, domingo, 17 de abril de 2005

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VIAGEM À ÁFRICA

Nem pedido de perdão foi uma novidade

Visita a cinco países rendeu pouco para a política e a economia do Brasil

Sérgio Lima - 11.abr.05/Folha Imagem
Lula observa correntes usadas para prender escravos no Senegal


EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A DACAR (SENEGAL)

A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à África, quando visitou cinco países entre domingo e quinta-feira passada, teve apenas um efeito prático imediato: o reconhecimento, com um pedido de perdão de Lula, do erro histórico brasileiro de ter crescido à custa do trabalho escravo africano.
Ressalte-se que Lula já havia feito esse pedido de desculpas em viagem anterior ao continente africano, em 2003. Não foi, portanto, novidade.
No campo político, uma avaliação positiva ou não da viagem somente poderá ser vista em torno de uma eventual reforma da ONU. A eleição para o comando da OMC (Organização Mundial do Comércio) não conta mais. O candidato brasileiro, embaixador Luiz Felipe Seixas Corrêa, saiu da disputa ontem.
Quanto à ONU, tanto o Brasil como os africanos querem mudanças na entidade, com a abertura de novas vagas permanentes no Conselho de Segurança. É a principal obsessão da política externa brasileira, mas, dos cinco países visitados, apenas Camarões declarou apoio oficial ao Brasil.
Para o Planalto e o Itamaraty, a aproximação com os países africanos já foi uma conquista política notória e imediata da viagem, a quarta do presidente à África.
No campo econômico, alguns sinais de fracasso foram expostos pelo ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), que criticou a falta de empresários na comitiva e lamentou as restrições nigerianas a produtos brasileiros. Celso Amorim (Relações Exteriores) tentou minimizar, dizendo que os resultados aparecerão em seis meses e que Furlan esbravejou por estar irritado com o esquema de segurança do palácio presidencial nigeriano.
Entre os cinco países visitados, a Nigéria é o mais rico e o mais populoso. Antes de visitá-lo, Furlan sugeriu que, para os próximos dois anos, poderiam ser fechados acordos na casa do US$ 1 bilhão. Na bagagem, Lula trouxe de Abuja apenas um acordo de troca de experiências na área da agricultura. Uma comissão deve retornar ao país em meados deste ano.
Em cinco dias, Lula passou por Camarões, Nigéria, Gana, Guiné-Bissau e Senegal. Nesses países, com a expectativa média de vida em 51 anos, o presidente brasileiro assistiu a inúmeras apresentações de danças típicas do continente, discursou, participou de jantares e de reuniões reservadas e ampliadas nos palácios presidenciais, passeou de carro aberto e preferiu não falar nada sobre a política interna brasileira.
Em todos os países, o presidente manteve um mesmo discurso de integração e repetiu frases de efeito. Por exemplo: "O Brasil tem de estender a mão aos africanos" e "O século que começa agora tem de ser da África e da América do Sul, só depende de nós".


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