São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2006

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TERRA SEM LEI

Para lembrar 10 anos do massacre de Eldorado do Carajás, grupo organiza bloqueio de rodovia, ato multirreligioso e exposição

MST promove homenagens aos 19 mortos

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A ELDORADO DO CARAJÁS (PA)

Para homenagear os 19 trabalhadores rurais sem terra mortos dez anos atrás, o MST organizou um acampamento em Eldorado do Carajás (PA) no exato local onde ocorreu o confronto com a Polícia Militar. Na chamada curva do "S" da rodovia PA-150, além de barracos de lona preta, há uma exposição de Sebastião Salgado, o mais famoso fotógrafo brasileiro.
O massacre do sudeste paraense completa hoje dez anos. Em 17 de abril de 1996, além dos mortos, 69 sem-terra e 12 policiais militares ficaram feridos numa ação oficial para desobstruir a rodovia. Apesar de condenados, os dois policiais que comandaram a operação, coronel Mário Pantoja e o major José Maria de Oliveira, continuam soltos à espera da avaliação de seus recursos.
O acampamento na curva do "S" foi montado no primeiro dia de abril. Desde então, todos os dias por volta das 17h45 (horário do confronto), os sem-terra, cerca de 200 jovens de diferentes Estados, bloqueiam por 19 minutos a rodovia, ligação de Belém com o sul do Estado. A estrada não possui acostamento, tem buracos por toda a parte, e placas de trânsito e policiais rodoviários são raridade.
Hoje, último e principal dia de protestos, os sem-terra prometem reunir 5.000 pessoas no acampamento. Haverá um ato multirreligioso seguido de uma pequena marcha na rodovia. Em todo o país também estão previstas manifestações por conta do décimo aniversário do massacre.
Para quem passa pela PA-150, o que mais chama a atenção é a exposição de Salgado organizada pelos sem-terra. São 15 fotos expostas à beira da rodovia. O material pertence ao MST, e a maioria das imagens faz parte do livro "Terra", que denuncia a exclusão dos trabalhadores rurais do Brasil. A exposição passou antes por Parauapebas, Marabá e Belém.
No acampamento, foram erguidos 19 barracos de lona, para representar cada um dos sem-terra mortos em 1996.
Pela manhã, organizam seminários, teatros e oficinas de dança. À tarde, reservam o tempo para estudos e protestos.
Marcos Souza, 32, que levou a mulher e a filha ao acampamento, diz que vale a pena deixar o assentamento em São João do Araguaia (PA) para passar duas semanas no local. "Onde eu moro tem água, energia e esgoto, mas eu venho aqui por vontade própria, para ajudar o MST."
A filha de Souza, Pamala, 4, ficou três dias com febre debaixo de um barraco. Agora já está curada. "Eu gosto de correr e de brincar", diz a menina. Já Antonia Maria, 41, mulher de Souza e mãe de Pamala, cuida da cozinha do acampamento. "A gente vem aqui para ajudar o movimento", afirma, enquanto ajuda a preparar arroz, feijão, carne assada e salada para o almoço dos sem-terra.


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