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TERRA SEM LEI
Para lembrar 10 anos do massacre de Eldorado do Carajás, grupo organiza bloqueio de rodovia, ato multirreligioso e exposição
MST promove homenagens aos 19 mortos
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A ELDORADO DO CARAJÁS (PA)
Para homenagear os 19 trabalhadores rurais sem terra mortos
dez anos atrás, o MST organizou
um acampamento em Eldorado
do Carajás (PA) no exato local onde ocorreu o confronto com a Polícia Militar. Na chamada curva
do "S" da rodovia PA-150, além
de barracos de lona preta, há uma
exposição de Sebastião Salgado, o
mais famoso fotógrafo brasileiro.
O massacre do sudeste paraense
completa hoje dez anos. Em 17 de
abril de 1996, além dos mortos, 69
sem-terra e 12 policiais militares
ficaram feridos numa ação oficial
para desobstruir a rodovia. Apesar de condenados, os dois policiais que comandaram a operação, coronel Mário Pantoja e o
major José Maria de Oliveira, continuam soltos à espera da avaliação de seus recursos.
O acampamento na curva do
"S" foi montado no primeiro dia
de abril. Desde então, todos os
dias por volta das 17h45 (horário
do confronto), os sem-terra, cerca
de 200 jovens de diferentes Estados, bloqueiam por 19 minutos a
rodovia, ligação de Belém com o
sul do Estado. A estrada não possui acostamento, tem buracos por
toda a parte, e placas de trânsito e
policiais rodoviários são raridade.
Hoje, último e principal dia de
protestos, os sem-terra prometem reunir 5.000 pessoas no
acampamento. Haverá um ato
multirreligioso seguido de uma
pequena marcha na rodovia. Em
todo o país também estão previstas manifestações por conta do
décimo aniversário do massacre.
Para quem passa pela PA-150, o
que mais chama a atenção é a exposição de Salgado organizada
pelos sem-terra. São 15 fotos expostas à beira da rodovia. O material pertence ao MST, e a maioria
das imagens faz parte do livro
"Terra", que denuncia a exclusão
dos trabalhadores rurais do Brasil. A exposição passou antes por
Parauapebas, Marabá e Belém.
No acampamento, foram erguidos 19 barracos de lona, para representar cada um dos sem-terra
mortos em 1996.
Pela manhã, organizam seminários, teatros e oficinas de dança.
À tarde, reservam o tempo para
estudos e protestos.
Marcos Souza, 32, que levou a
mulher e a filha ao acampamento,
diz que vale a pena deixar o assentamento em São João do Araguaia
(PA) para passar duas semanas
no local. "Onde eu moro tem
água, energia e esgoto, mas eu venho aqui por vontade própria, para ajudar o MST."
A filha de Souza, Pamala, 4, ficou três dias com febre debaixo
de um barraco. Agora já está curada. "Eu gosto de correr e de brincar", diz a menina. Já Antonia
Maria, 41, mulher de Souza e mãe
de Pamala, cuida da cozinha do
acampamento. "A gente vem aqui
para ajudar o movimento", afirma, enquanto ajuda a preparar
arroz, feijão, carne assada e salada
para o almoço dos sem-terra.
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