São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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Contra reitor, alunos recorrem a "Tropa de Elite" em ato na Unifesp

Observados pela polícia, estudantes pedem saída de Fagundes "de camburão"

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Bordões do filme "Tropa de Elite", versos de Chico Buarque e gritos de guerra das torcidas organizadas. Foi com essa mistura inusitada que cerca de 200 acadêmicos e lideranças estudantis pediram ontem a saída do cargo, "de camburão", do reitor da Unifesp, Ulysses Fagundes Neto.
O protesto, acompanhado por pelo menos 20 policiais militares e 12 seguranças particulares, ocorreu das 16h às 18h em frente ao prédio da reitoria do campus central da Unifesp, na zona sul da capital paulista.
No final, houve um princípio de tumulto entre os manifestantes e alunos do curso de medicina, contrários ao que chamaram de "baderna".
"Ulysses fanfarrão, pede para sair de camburão", gritavam os estudantes. "Fanfarrão" e "pede para sair" são bordões do personagem Capitão Nascimento no filme de José Padilha. Um grupo de moças, com megafone à mão, tropeçava na letra de "Apesar de Você" (Chico Buarque), um dos hinos informais da luta contra a ditadura militar, enquanto os rapazes diziam: "O Timothy já foi, Ulysses vai depois".
"As justificativas do reitor não se sustentam. Um funcionário público deve se pautar pela ética. O que ele disse não explicava nada. Foi um gasto inapropriado", disse o líder Tiago Cherbo, 23, coordenador-geral do DCE (Diretório Central dos Estudantes) e aluno do curso de ciências biomédicas da universidade.
Segundo ele, os estudantes cogitavam invadir a reitoria para forçar a saída de Fagundes Neto. Mas, em assembléia ontem à noite, a proposta de ocupação perdeu por 217 votos a 120. Novos protestos devem ocorrer entre hoje e amanhã.

Conflito
Por volta das 17h, um aluno do curso de medicina procurou os policiais posicionados na rua, em frente ao prédio central para pedir silêncio.
Enquanto isso, manifestantes e representantes da Atlética, a associação esportiva dos alunos, trocavam empurrões em frente à reitoria, perto de um hospital que faz parte do complexo da Unifesp.
"Essa forma de protestar atrapalha os doentes. Ulysses precisa se explicar, mas é inegável que ele trouxe melhorias para a universidade", disse Carlos Henrique Lemos, 25, residente de medicina.
Gabriela Vieira, 23, de enfermagem, contestava Lemos: "Quando eles [de medicina] fazem festas com muito álcool e música alta, ninguém se lembra dos doentes dentro do hospital. É hipocrisia".
Os manifestantes não deixaram Lemos discursar. Em meio às vaias, berravam: "Playboy, filhinho-de-papai, dono de pitbull". Aceitaram, porém, o pedido para acabar com o barulho -encostaram o megafone e pararam de malhar o bumbo. A chuva que chegou com a noite se encarregou de esfriar os ânimos dos estudantes.


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