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Congresso legaliza doação de passagem a familiares
Câmara e Senado anunciam cortes, mas permitem que bilhetes sejam dados a parentes
Senadores foram liberados para usar cota de passagem para fretar jatinhos e barcos; limite de bilhetes na Câmara terá valor 20% menor
Lula Marques/Folha Imagem
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O presidente da Câmara, Michel Temer, assina papel durante lançamento de projeto de acompanhamento de atividades da Casa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em meio às revelações do
descontrole no uso das passagens aéreas a que congressistas
têm direito, Câmara e Senado
resolveram anunciar no mesmo dia medidas supostamente
moralizantes sobre o benefício.
Resultado: decidiram cortes,
mas legalizaram a doação de bilhetes para parentes, assessores e correligionários dos deputados e senadores. O Senado
ainda liberou o uso da cota de
passagem aérea para fretamento de jatinhos e barcos.
Em contrapartida, a Câmara
prometeu reduzir em 20% o valor da cota de passagem aérea
destinada aos deputados -hoje
em R$ 80 milhões anuais. O
cálculo é feito com base na
maior tarifa para os Estados cobrada pelas companhias aéreas.
Isso possibilita que deputados,
com uma passagem, comprem
outras a preços promocionais.
No Senado, foi anunciada
uma economia de R$ 3,75 milhões anuais, mas a verba total
segue secreta. Foi extinta a cota
extra de passagem para integrantes e suplentes da Mesa Diretora e líderes. Eles perderam
o direito a mais duas passagens
por mês. A Câmara manteve o
benefício, mas o reduziu para o
mesmo percentual dos demais.
Os senadores perderam duas
passagens para o Rio, um anacronismo que data da mudança
da capital de lá para Brasília.
Mas a mudança é cosmética: a
cota continua de cinco bilhetes
por mês, pois essas passagens
foram substituídas por duas
para os Estados.
O valor também tem como
referência a tarifa cheia das
companhias aéreas. Os senadores do Piauí, por exemplo, têm
direito a R$ 21.900 mil por mês,
o que dá quase 22 bilhetes de
ida e volta Brasília-Teresina.
Nenhuma das medidas é retroativa. No último mês, surgiram vários casos sobre o uso da
cota aérea envolvendo congressistas. A Folha revelou que senadores utilizaram a cota para
fretar jatinho. O Senado ontem
legalizou o fretamento, desde
que o aluguel seja para dentro
do Estado. No caso de Tasso
Jereissati (PSDB-CE), porém,
ele viajou para outros Estados.
Na Câmara, Fábio Faria
(PMN-RN) teve que apresentar ontem sua defesa por usar
sua cota de passagens para levar ao seu camarote no Carnaval fora de época de Natal artistas de TV. Ele também bancou
passagens para a sua então namorada, Adriane Galisteu.
Ministros que eram deputados e seus familiares também
usaram 64 passagens aéreas
depois de deixarem a Câmara.
Eles não devolveram os bilhetes com a mudança de cargo.
As novas medidas anunciadas pela Câmara e pelo Senado
ontem não impedem que os
congressistas fiquem com as
sobras de passagens de um ano
para o outro nem com o encerramento dos mandatos. Os novos atos são omissos sobre isso
-o que, para os congressistas,
quer dizer "permitido".
Parentes
Com relação a parentes, nas
duas Casas os atos assinados
irão permitir aos parlamentares repassar a mulheres, filhos,
parentes e correligionários as
passagens se houver interesse
para o mandato parlamentar.
"Os critérios dependem de
cada senador", disse o primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI). Questionado se namoradas também
podem viajar com dinheiro do
Senado, a exemplo do que ocorreu com Galisteu, ele brincou:
"Se for bonita, pode".
As medidas anunciadas ontem pelo Congresso não atendem ao Ministério Público Federal. Em ofício enviado à Câmara um dia antes, quatro procuradores sugeriram proibir a
emissão de bilhetes para terceiros, de passagem para o exterior não relacionada à missão
oficial e acabar com a cota para
deputados do Distrito Federal.
Nenhuma dessas medidas foi
atendida pela Casa.
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