São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2001

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SENADO EM CRISE

Policiais ocuparam campus de universidade para impedir protesto em frente ao apartamento do senador

Polícia baiana reprime ato contra ACM

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Trezentos policiais da Tropa de Choque da Polícia Militar ocuparam ontem o campus do Vale do Canela da UFBa (Universidade Federal da Bahia), em Salvador, para impedir que cerca de 5.000 estudantes, políticos e sindicalistas fizessem uma manifestação em frente ao apartamento do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), na Graça (centro).
Os manifestantes saíram às ruas para pedir as cassações dos senadores Antonio Carlos Magalhães, José Roberto Arruda (sem partido) e Jader Barbalho (PMDB-PA) e a instalação da CPI da corrupção. Eles faziam uma passeata do Campo Grande à reitoria da UFBa, num percurso de 400 metros, de onde seguiriam para a frente do prédio de ACM, localizado ao lado do campus.
Para dispersar os manifestantes, a PM utilizou bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes, balas de borracha, cavalos e cães da raça rotweiller.
Pelo menos 30 estudantes ficaram feridos. Outros quatro foram presos na operação. Nenhum PM ficou ferido no confronto.

Repressão
Às 10h, pelo menos 150 soldados já cercavam o Vale do Canela (centro de Salvador), onde está localizado o campus da UFBa.
Com faixas, bandeiras e cartazes, os estudantes resolveram seguir até o prédio onde mora o senador pefelista baiano depois que a deputada estadual Alice Portugal (PC do B) anunciou que o relatório do senador Saturnino Braga (PSB-RJ) pedia a abertura de processo de cassação contra ACM e Arruda, acusados de participarem da violação do painel de votação do Senado.
Para driblar a barreira da Polícia Militar, os estudantes se dividiram em grupos e entraram no campus da universidade.
"Nós decidimos que cada grupo tentaria chegar até o prédio do senador utilizando um acesso diferente", disse Wesley Moreira, 29, diretor da UNE (União Nacional dos Estudantes).
Ao perceber a ação dos manifestantes, a PM reagiu e entrou no campus, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Os manifestantes revidaram e atiraram nos policiais pedras e pedaços de pau.

Habeas Corpus
No início da tarde, o juiz Márcio Mafra, da 2ª Vara Federal da Bahia, concedeu um habeas corpus ao Ministério Público Federal solicitando a desocupação por parte da PM das cinco unidades invadidas -administração, direito, medicina, educação e instituto de ciências e saúde.
A ordem judicial não foi cumprida pela PM. O coronel Walter Leite disse que só aceitaria o pedido original do habeas corpus -o requerimento entregue à PM era uma cópia.
O procurador Robério Nunes disse que o Ministério Público vai acionar a PM por danos morais e físicos causados à UFBa.
Os feridos no confronto de ontem foram levados para o Hospital Geral do Estado e a Clínica de Ortopedia e Traumatologia. Entre os feridos estava o vereador Celso Cotrim (PT), de Salvador.

Onda de protestos
A manifestação de ontem foi a terceira promovida pelos estudantes nos últimos dez dias para pedir a cassação do senador Antonio Carlos Magalhães.
Na semana passada, a PM também usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes e 25 pessoas saíram feridas (incluindo seis policiais). Naquela ocasião, o tumulto começou após uma áspera discussão entre o comando da Polícia Militar e os líderes da manifestação.
Anteontem, 3.000 manifestantes voltaram às ruas para pedir as cassações de ACM, José Roberto Arruda e Jader Barbalho.
A PM apenas acompanhou a passeata, do centro ao Pelourinho, e não houve conflito.
No início da noite de ontem, o Conselho Universitário da UFBa divulgou uma nota informando que a instituição defende o direito de "livre manifestação dos seus alunos".


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