São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2001

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JANIO DE FREITAS

Os apagados

O aumento do custo para o consumidor, como querem o governo e parte da mídia, é a solução da prepotência e do discricionarismo social, logo, a solução tipicamente de direita: punir quem se torna punível, não por ter culpa, mas por ser a parte sem força de reação.
A responsabilidade pela crise da energia está toda localizada no governo e personificada em Fernando Henrique Cardoso e Pedro Malan, impedidores dos investimentos já há seis anos vetados pelo FMI. A população já pagará o desastre com os transtornos menores e os dramas e tragédias que jamais faltam nas situações críticas do fornecimento de eletricidade.
Os setores urbanos onde o consumo é mais elevado não são os bairros residenciais, muito menos os populares. Mas, com a "solução" de aumentar as o preço da eletricidade, o consumidor desses bairros será punido duplamente. No custo maior do seu gasto domiciliar e no aumento de preços em geral pela indústria e pelo comércio, para repassar os ônus das tarifas encarecidas e da queda de produção e vendas decorrente da falta de energia.
Enquanto o governo e seus serviçais técnicos aproveitam para dar mais uma tacada anti-social, encobrindo o crime de antigoverno que está por trás das causas imediatas da crise de energia, fora daquela selva surgem propostas inteligentes que, entanto, não entram nas cogitações governamentais. Há sugestões de seletividade do racionamento muito interessantes. A proposta do deputado Aloizio Mercadante é muito criativa e parece ser um grande achado: em vez de cortar o consumo de energia aos bocadinhos a cada dia, haveria feriados segundo as peculiaridades do consumo regional - por exemplo, um por semana, ou um cada 10, 15 dias. Planejada com alguma inteligência e honestidade de propósito, a proposta tende a ser a menos traumática em todos os sentidos.
Ah, mas você acha que a necessidade de alguma inteligência e honestidade de propósito, por parte do governo, é que passa a ser o problema, porque o governo é mental e moralmente muito apagado? É, tem razão. Pior ainda: não há criatividade que dê jeito nesse problema, só mesmo algum modo de reação.


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