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ELEIÇÕES 2006
PT teme abordar ataques na campanha; tucanos admitem estrago eleitoral, mas prometem reagir com gravações de criminosos
Caso PCC abre "guerra fria" entre PT e PSDB
MALU DELGADO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os ataques do PCC (Primeiro
Comando da Capital) no Estado
de São Paulo podem provocar
uma espécie de guerra fria entre
PSDB e PT na campanha eleitoral.
Os tucanos têm a dimensão do estrago que a crise na segurança pública causará à campanha de Geraldo Alckmin à Presidência. Do
outro lado, o PT quer expor as fragilidades da gestão de Alckmin,
mas acha delicado explorar o último episódio de forma ostensiva
na campanha no rádio e na TV.
Já temendo o uso eleitoral dos
ataques do PCC, tucanos de São
Paulo falavam ontem em utilizar
supostas fitas contendo diálogos
de integrantes da facção criminosa com ameaças ao ex-governador Geraldo Alckmin e a deputados estaduais do PSDB.
Segundo avaliações da cúpula
do PT, o episódio dificulta ainda
mais a largada da campanha de
Alckmin. Mas, por se tratar de um
tema complexo, que envolve responsabilidades tanto dos Estados
quanto da União e a vida da população, usar a crise em São Paulo
como trunfo político é ignorar,
conforme a definição de um petista, "que o telhado é de vidro".
Auxiliares do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e dirigentes
petistas mostram disposição para
trazer o debate sobre segurança
pública para a campanha eleitoral, com intuito de expor as fragilidades da gestão do adversário
tucano, mas sem usar de forma
ostensiva as imagens da última
onda de ataques do PCC.
Para os petistas, a crise em São
Paulo é auto-explicável. "O PSDB
e o PFL vão apanhar da população, não tenha dúvida. Nem precisa partir da gente. Surfar na crise
é inadequado", disse o líder do
governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP). "Isso não é tema para
capitalização política. Segurança
pública é um problema de Estado", definiu um petista envolvido
nos debates da campanha.
No campo oposto, dirigentes do
PSDB afirmam que só irão divulgar na campanha os diálogos entre criminosos com ameaças aos
tucanos caso adversários radicalizem nas imagens do "pânico no
Estado". A Folha ouviu o mesmo
relato de quatro parlamentares e
de um assessor de Alckmin que
afirmam ter ouvido parte dos diálogos, interceptados pela Polícia
Federal e cedidos à Polícia Civil
paulista. Em um deles, um suposto líder do PCC dá uma ordem para que Geraldo Alckmin seja "liqüidado". Segundo os tucanos,
ele falava em um celular de dentro
de um dos presídios do Estado.
Contudo, o próprio secretário
da Segurança paulista, Saulo de
Castro Abreu Filho, teria minimizado a importância dos personagens envolvidos nos diálogos.
Lula
A Folha apurou que tanto o presidente Lula quanto o presidente
do PT, Ricardo Berzoini, já deram
orientações para as equipes de comunicação de como tratar o episódio. "Não vamos tratar isso de
maneira oportunista, não vamos
centrar na análise dos episódios [a
ação do PCC]. Mas vamos tratar o
aspecto político, o gerenciamento. Como pode falar em choque
de gestão um governo que não é
capaz de impedir celular dentro
dos presídios?", provoca Berzoini.
Berzoini não nega nem admite
que os ataques em São Paulo poderão ser utilizados na TV: "Não
há ainda definição de estratégia
de campanha. Não diria o que é
possível e o que é impossível. Só
posso dizer que vamos propor
um debate de alto nível sobre política de segurança nos Estados".
O presidente do PT criticou o fato de o governo estadual ter negociado com os líderes do PCC para
que as rebeliões fossem cessadas.
"Isso é absurdo. Chegar a esse
ponto significa na prática abrir
precedente para rebeliões periódicas, com atentados à sociedade.
Se houve negociação é um escândalo de grandes proporções."
Lula deixou claro a auxiliares
que o governo federal teria que
agir de forma isenta na crise em
São Paulo. O presidente fez questão da viagem do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a São
Paulo para colocar-se à disposição do governador Cláudio Lembo. Havia um temor no Palácio do
Planalto de que qualquer demora
na ação federal pudesse ser confundida com a disputa eleitoral.
A recusa de Lembo em aceitar o
auxílio da União (o governador
disse que a crise estava sob controle) foi apontada pelo PT como
um trunfo concreto do presidente
Lula, que pode ser abertamente
utilizado na campanha. "A oferta
foi de boa fé. Senão tivesse sido
feita, diriam que Lula abandonou
São Paulo", disse Chinaglia.
O governo federal também se
prepara para reagir contra eventuais críticas tucanas. O Ministério do Planejamento já tem na
mão os números do investimento
em segurança pública feitos via
Ministério da Justiça. Em 2002, o
governo federal executou R$ 761,2
milhões do Orçamento para o setor. A projeção para 2006 é de
quase o dobro: R$ 1,4 bilhão.
Grampo de 2002
Deputados ligados a Alckmin
também ameaçavam utilizar outra fita, fruto de grampo telefônico, esse da campanha de 2002, em
que um suposto líder do PCC dizia que a facção deveria trabalhar
contra a candidatura do tucano.
Naquela ocasião parte do comando da campanha era favorável a
levar o material ao programa de
TV do candidato, mas acabou
prevalecendo a decisão do próprio Alckmin e de sua equipe de
comunicação contra a veiculação.
Ontem os tucanos paulistas estavam pessimistas com relação
aos possíveis danos causados pela
crise da seguranças nas campanhas de Serra e Alckmin. "Agora
será o mensalão contra o pânico
em São Paulo", dizia um deles.
Eles também não poupavam a
comunicação do governo Cláudio
Lembo, que teria sido lenta em informar a população, o que provocou uma onda de boatos.
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