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Empresários da Venezuela temem bloco
Preocupação é com desequilíbrio comercial frente a Brasil e Argentina, além de onda de nacionalizações
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Acuado pela política estatista
de Hugo Chávez, o empresariado venezuelano teme que a
eventual entrada do país no
Mercosul aumentará ainda
mais o enorme desequilíbrio
comercial com o Brasil e a Argentina. Mas a recente onda de
nacionalizações ofuscou a discussão sobre a adesão ao bloco
comercial sul-americano, iniciada em meados de 2006, com
a assinatura de um protocolo.
"É evidente que, diante dessa
crescente onda de expropriações e as ameaças cada vez mais
evidentes contra a propriedade
privada, outras preocupações
ficaram em segundo plano",
disse Ismael Pérez Vigil, presidente-executivo da Confederação Venezuelana de Industriais, que reúne cerca de 90%
da produção manufatureira.
Pérez repetiu a crítica de que
a entrada na Venezuela exporia
ainda mais a indústria e a agricultura locais à competição desigual com brasileiros e argentinos, aumentando o déficit comercial com esses países.
Os números do Ministério de
Desenvolvimento brasileiro
corroboram a preocupação de
Pérez de que o comércio bilateral está cada vez mais favorável
ao Brasil. Nos primeiros quatro
meses deste ano, a Venezuela
foi o segundo país que mais
contribuiu para o saldo comercial brasileiro, quase empatando com a China, principal parceiro econômico.
De janeiro a abril, o saldo bilateral com a Venezuela foi de
US$ 1,02 bilhão, ou seja, 15,3%
do superávit da balança comercial do período, de US$ 6,7 bilhões. Com a China, o saldo no
período foi de US$ 1,09 bilhão.
No ano passado, a Venezuela
foi, pela primeira vez, o principal saldo comercial individual
brasileiro, tendo sido responsável por 18% do superávit de
2008. Nesse período, a Venezuela adquiriu US$ 5,15 bilhões
do país, mas vendeu somente
US$ 538,5 milhões ao Brasil.
Esse desequilíbrio aumentou
ainda mais neste ano, com as
exportações brasileiras à Venezuela caindo 10%, enquanto as
importações vindas do país de
Chávez diminuíram 16%.
"A entrada de produtos industriais do Mercosul com vantagens na Venezuela será um
problema para o setor do país,
que não vem fazendo investimentos por todas as incertezas
que existem", disse Pérez.
"Além disso, os empresários
não investirão aqui sem saber
em qual momento o governo
dirá se esse ou outro setor será
nacionalizado", emendou.
Desde 2007, o governo Chávez iniciou um processo de nacionalizações que incluiu telecomunicações, eletricidade, laticínios, turismo, cimento e outras áreas. Na semana passada,
anunciou a expropriação de dezenas de empresas prestadoras
de serviço da área de petróleo.
Defensor da entrada da Venezuela no Mercosul, o presidente da Câmara de Comércio
Venezuela-Brasil, Nelson Quijada, disse que uma balança comercial independe da adesão.
"São políticas que os dois governos devem implementar para melhorar um pouco a balança. Os dois países têm interesse
em que essa balança melhore",
afirmou Quijada.
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