São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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Empresários da Venezuela temem bloco

Preocupação é com desequilíbrio comercial frente a Brasil e Argentina, além de onda de nacionalizações

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Acuado pela política estatista de Hugo Chávez, o empresariado venezuelano teme que a eventual entrada do país no Mercosul aumentará ainda mais o enorme desequilíbrio comercial com o Brasil e a Argentina. Mas a recente onda de nacionalizações ofuscou a discussão sobre a adesão ao bloco comercial sul-americano, iniciada em meados de 2006, com a assinatura de um protocolo.
"É evidente que, diante dessa crescente onda de expropriações e as ameaças cada vez mais evidentes contra a propriedade privada, outras preocupações ficaram em segundo plano", disse Ismael Pérez Vigil, presidente-executivo da Confederação Venezuelana de Industriais, que reúne cerca de 90% da produção manufatureira.
Pérez repetiu a crítica de que a entrada na Venezuela exporia ainda mais a indústria e a agricultura locais à competição desigual com brasileiros e argentinos, aumentando o déficit comercial com esses países.
Os números do Ministério de Desenvolvimento brasileiro corroboram a preocupação de Pérez de que o comércio bilateral está cada vez mais favorável ao Brasil. Nos primeiros quatro meses deste ano, a Venezuela foi o segundo país que mais contribuiu para o saldo comercial brasileiro, quase empatando com a China, principal parceiro econômico.
De janeiro a abril, o saldo bilateral com a Venezuela foi de US$ 1,02 bilhão, ou seja, 15,3% do superávit da balança comercial do período, de US$ 6,7 bilhões. Com a China, o saldo no período foi de US$ 1,09 bilhão.
No ano passado, a Venezuela foi, pela primeira vez, o principal saldo comercial individual brasileiro, tendo sido responsável por 18% do superávit de 2008. Nesse período, a Venezuela adquiriu US$ 5,15 bilhões do país, mas vendeu somente US$ 538,5 milhões ao Brasil.
Esse desequilíbrio aumentou ainda mais neste ano, com as exportações brasileiras à Venezuela caindo 10%, enquanto as importações vindas do país de Chávez diminuíram 16%.
"A entrada de produtos industriais do Mercosul com vantagens na Venezuela será um problema para o setor do país, que não vem fazendo investimentos por todas as incertezas que existem", disse Pérez. "Além disso, os empresários não investirão aqui sem saber em qual momento o governo dirá se esse ou outro setor será nacionalizado", emendou.
Desde 2007, o governo Chávez iniciou um processo de nacionalizações que incluiu telecomunicações, eletricidade, laticínios, turismo, cimento e outras áreas. Na semana passada, anunciou a expropriação de dezenas de empresas prestadoras de serviço da área de petróleo.
Defensor da entrada da Venezuela no Mercosul, o presidente da Câmara de Comércio Venezuela-Brasil, Nelson Quijada, disse que uma balança comercial independe da adesão.
"São políticas que os dois governos devem implementar para melhorar um pouco a balança. Os dois países têm interesse em que essa balança melhore", afirmou Quijada.


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