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Sob pressão, PSDB admite Mercosul com "Venezuela restrita"
Pressionados por empresários, FHC e eleições, tucanos passam a ser fiel da balança em comissão que analisa ingresso do país no bloco
Parecer do relator Tasso Jereissati (PSDB-CE) pode ter ressalvas para diluir poder
de presidente venezuelano de vetar acordos do bloco
FÁBIO ZANINI
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressionada por empresários, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelas próximas eleições, a bancada do PSDB no Senado mudou
sua posição radical de oposição
à adesão da Venezuela ao Mercosul e já admite uma aprovação com ressalvas.
Este deve ser o tom do parecer do relator na Comissão de
Relações Exteriores do Senado,
Tasso Jereissati (PSDB-CE), a
ser divulgado no final do mês.
Os tucanos têm só 3 dos 19
votos na comissão, mas tendem
a ser o fiel da balança, se o DEM
se mantiver contrário. "Vou
trabalhar para o partido fechar
posição contra", diz o democrata Demóstenes Torres (GO).
O presidente da comissão,
Eduardo Azeredo (MG), é do
PSDB e tem poderes para retardar ou acelerar a discussão. Depois de votado na comissão, o
ingresso da Venezuela no bloco
precisa passar pelo plenário. A
Câmara já aprovou a matéria.
Os tucanos estão divididos
entre a oposição política ao
presidente venezuelano, Hugo
Chávez, e as vantagens comerciais que a entrada pode trazer.
"Há muitos empresários, sobretudo da região Norte, nos
procurando", diz o líder do
PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Um dos mais ferrenhos críticos de Chávez, Virgílio passou a demonstrar mais
flexibilidade. "As audiências
públicas na comissão, principalmente as de empresários e
diplomatas [favoráveis ao ingresso], mexeram comigo."
Há alguns dias, a bancada de
senadores tucanos reuniu-se e
decidiu recomendar a Tasso
elencar, em seu parecer, uma
série de exigências de maior democracia e respeito dos direitos humanos por parte de Chávez. "O peso da democracia é
bastante relevante", diz Tasso.
Mas, como o relator sinaliza,
essas críticas não devem ser suficientes para impedir a aprovação da entrada venezuelana
no bloco. "Precisamos pensar
em trazer a Venezuela para
junto de nós e não deixá-la isolada. É importante consolidar
um mercado sul-americano
forte", afirma Tasso.
Há preocupação entre os tucanos com o poder que Chávez
passará a ter de vetar acordos
bilaterais dos demais membros
do bloco com outros países.
Tasso pode incluir ressalva em
seu texto para diluir esse poder.
O ministro Celso Amorim
(Relações Exteriores) disse em
audiência pública no Senado
que as negociações do Brasil
com outros países não sofrerão
com a entrada da Venezuela.
Para o governo brasileiro, a
rejeição pelo Congresso pode
prejudicar as relações comerciais entre os dois países. Segundo Amorim, em 2008, um
quinto do superávit total do
Brasil foi com a Venezuela.
Nos bastidores do PSDB,
FHC vem se mostrando um dos
mais atuantes defensores do
ingresso da Venezuela no Mercosul. Quando presidente, ele
teve uma relação cordial com
Chávez, embora não tão próxima como a de Lula.
O ex-presidente tem afirmado que empresários paulistas
próximos do partido defendem
o ingresso de um país com economia diversificada e altas reservas petrolíferas. FHC também tem lembrado que em dois
anos o PSDB poderá estar na
Presidência e terá de conviver
com Chávez no poder.
"Temos restrição política ao
Chávez, mas sabemos que do
ponto de vista econômico a entrada da Venezuela é interessante para o país", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Aprovado o ingresso da Venezuela no Mercosul, o próximo passo será a entrada do país
no Parlamento do Mercosul,
foro de discussão do bloco.
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