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União falha em fiscalizar R$ 8,7 bilhões em repasses
Governo tem prazo de 180 dias para propor mudanças na fiscalização de convênios
Tribunal de Contas da União sugere sistema on-line com dados de contratos para evitar escândalos como o
da máfia dos sanguessugas
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O descaso com que o poder
público trata a fiscalização de
convênios celebrados entre órgãos e autarquias federais com
prefeituras, Estados e entidades privadas faz com que a
União não saiba detalhes sobre
o que foi feito com pelo menos
R$ 8,7 bilhões. Esse é o montante acumulado, até 31 de
maio deste ano, de pendências
relativas à apreciação ou encaminhamento de prestação de
contas de contratos feitos por
dez ministérios e órgãos federais. Eles foram auditados desde 2002 pela CGU (Controladoria Geral da União).
Em 2002, essas pendências
totalizavam R$ 11 bilhões, o
equivalente a 69% dos contratos de convênios e termos de
parceria firmados por órgãos
federais, entre eles os ministérios da Integração Nacional,
Agricultura, Esportes, e Cultura. São as chamadas transferências voluntárias da União.
Não significa que todo esse
dinheiro de convênios foi desviado. Mas não se tem certeza
da conclusão efetiva das obras e
serviços, nem se foram realizadas de forma adequada, a preços de mercado.
Há quase uma década são feitos alertas sobre irregularidades nesse tipo de convênios. O
cenário alarmante abre espaço
para a ocorrência de novos escândalos, semelhantes ao revelado pela Operação Sanguessuga. Recentemente, contratos de
prefeituras com ONGs e associações privadas também têm
sido objeto de investigação pelo
Ministério Público.
"Tal situação é antiga e não
dá sinais de melhora nos tempos atuais [...] Não foram poucas as notícias veiculadas pela
mídia impressa e televisiva
acerca do desvio de recursos de
convênios federais para aquisição de ambulâncias, inicialmente identificado por levantamento do TCU e CGU e posteriormente objeto da operação Sanguessuga da Polícia Federal", diz trecho do acórdão
aprovado pelo Tribunal de
Contas da União em 24 de maio
deste ano, relatado pelo ministro Augusto Sherman.
Também na análise das contas da União de 2005, julgadas
neste mês pelo TCU, fica explícito o problema: 61% dos convênios encerrados até 2004
ainda não tiveram prestação de
contas apresentada. Ou seja,
falta informação sobre o destino de 5,9 bilhões, em valores
não corrigidos.
O TCU decidiu investigar os
ministérios e órgãos federais
em 2002 a partir de irregularidades constatadas em convênios de prefeituras em Minas
Gerais. De 30 municípios auditados, 23 apresentaram irregularidades graves, como conluio
em licitações. Desde então, o
tribunal julgou necessário mudar a ótica da fiscalização e ir à
origem do problema: os órgãos
repassadores.
No relatório do Tribunal de
Contas da União, o ministro
Augusto Sherman defende que
todos os convênios sejam registrados no Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira), assim como a inadimplência de prestação de contas.
Segundo ele, as falhas detectadas são a prova de que os órgãos repassadores de recursos
não têm estrutura para fiscalizar o dinheiro público "em número compatível com o volume
de instrumentos [contratos]
celebrados". "Essa situação
tem se mantido ao longo do
tempo, não obstante as recomendações da Controladoria
Geral da União e decisões desta
Corte", enfatiza o ministro.
O TCU alerta ainda que as alterações nas estruturas de fiscalização dos ministérios depende da anuência do Ministério do Planejamento, pois o governo federal precisa ter como
prioridade o investimento neste setor. O tribunal deu um prazo de 180 dias para que o ministério desenvolva um estudo
técnico propondo alterações
em toda a estrutura de fiscalização do Estado.
A prioridade é a criação de
um sistema de informática que
permita o acompanhamento
online dos convênios.
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