São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 2009

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"Crise não é minha, é do Senado", afirma Sarney

Da tribuna, presidente da Casa divide responsabilidade por ato secreto e não cita punição

Discurso é avaliado como "tímido'; ao ser cobrado por mudanças, Sarney assumiu compromisso de limitar mandato do diretor-geral


Lula Marques/Folha Imagem
Senadores assistem ao discurso do presidente do Senado, José Sarney, na tribuna da Casa

ANDREZA MATAIS
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado pela revelação de atos secretos, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), usou a tribuna para dividir responsabilidades com todos os senadores, frustrou expectativas ao não anunciar nenhuma medida nova, mas foi obrigado a assumir compromissos com a oposição ao ser cobrado por mudanças.
Em discurso de 33 minutos, Sarney sintetizou sua estratégia de defesa com a frase: "A crise do Senado não é minha; a crise é do Senado. É esta instituição que devemos preservar, tanto quanto qualquer um aqui. Ninguém tem mais interesse nisso do que eu, até porque aceitei ser presidente".
Durante sua fala, procurou ainda se defender das acusações de nomeações de parentes seus por meio de atos secretos, usou sua biografia para considerar injustas as críticas e chegou a se emocionar ao mencionar a doença de sua filha Roseana Sarney, que foi operada de um aneurisma cerebral.
"Atravessei um problema, que todos aqui como pais sabem, nesses meses todos e agora, que graças a Deus libertei-me dele, Deus também está me exigindo a penitência dessas coisas que eu tenho que falar."
O discurso foi avaliado por senadores como "tímido".
Havia uma expectativa, por exemplo, de que anunciasse a saída do diretor-geral Alexandre Gazineo e a abertura de processo administrativo contra Agaciel Maia, que ficou 14 anos no cargo, indicado no passado e mantido na atual gestão por ele. Os dois assinaram vários dos atos secretos que estão sendo publicados com data retroativa.
"Estou há quatro meses como presidente. O que praticamos é só e exclusivamente buscar corrigir erros", afirmou.
Até agora, já foi revelado que um neto de Sarney trabalhou no Senado até 2008, quando o Supremo Tribunal Federal proibiu o nepotismo, e que duas sobrinhas trabalham na Casa -ele decidiu afastar uma delas, que deve voltar ao Ministério da Agricultura, onde é servidora. Sarney reafirmou que nunca soube de atos secretos.
A fala do senador fez colegas da oposição admitirem que a crise é do Senado. Todos, porém, cobraram reformas. "Se ele não fizer [uma reforma], não será presidente por muito tempo", disse o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.
Até seu aliado José Agripino Maia (DEM-RN) disse que Sarney precisa promover mudanças. "O discurso não arrefece [a crise], mas neutraliza o movimento de renúncia. Mas ele precisa fazer uma reforma."
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), defendeu a limitação do mandato do diretor-geral da Casa e que a nomeação para o cargo passe a depender de aprovação do plenário.
Sarney interveio na fala do tucano e assumiu o compromisso de adotar a proposta, numa concessão vista pelos aliados como necessária para aplacar a crise. O peemedebista também afirmou que apoiará projeto de Eduardo Suplicy (PT-SP) que prevê a publicação no "Diário do Senado Federal" da lista dos servidores do Senado e seus respectivos salários.
Embora já tenha presidido a instituição outras duas vezes, afirmou que não tem responsabilidade pelos erros do passado. "É injustiça do país julgar um homem como eu, com tantos anos de vida pública, com a correção que tenho de família austera, de família bem composta, que tem prezado a sua vida para a dignidade da sua conduta."
Segundo Sarney, há interesse nas denúncias contra ele, para que o Senado se enfraqueça e ele perca a condição de mudar a Casa. "Vou levar em frente, doa a quem doer." Ao discursar, não citou o empréstimo de imóvel funcional em seu nome para o ex-senador Bello Parga, conforme a Folha revelou.
Ontem, Sarney disse que "nunca teve o nome associado a um escândalo". Há duas semanas, a Folha revelou que Sarney recebia auxílio-moradia mesmo morando em casa própria e tendo à sua disposição residência oficial. Ele pediu desculpas e disse que iria devolver o dinheiro, medida que ainda não foi adotada.


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