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"Crise não é minha, é do Senado", afirma Sarney
Da tribuna, presidente da Casa divide responsabilidade por ato secreto e não cita punição
Discurso é avaliado como "tímido'; ao ser cobrado por mudanças, Sarney assumiu compromisso de limitar mandato do diretor-geral
Lula Marques/Folha Imagem
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Senadores assistem ao discurso do presidente do Senado, José Sarney, na tribuna da Casa
ANDREZA MATAIS
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressionado pela revelação
de atos secretos, o presidente
do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), usou a tribuna para dividir responsabilidades
com todos os senadores, frustrou expectativas ao não anunciar nenhuma medida nova,
mas foi obrigado a assumir
compromissos com a oposição
ao ser cobrado por mudanças.
Em discurso de 33 minutos,
Sarney sintetizou sua estratégia de defesa com a frase: "A crise do Senado não é minha; a crise é do Senado. É esta instituição que devemos preservar,
tanto quanto qualquer um
aqui. Ninguém tem mais interesse nisso do que eu, até porque aceitei ser presidente".
Durante sua fala, procurou
ainda se defender das acusações de nomeações de parentes
seus por meio de atos secretos,
usou sua biografia para considerar injustas as críticas e chegou a se emocionar ao mencionar a doença de sua filha Roseana Sarney, que foi operada de
um aneurisma cerebral.
"Atravessei um problema,
que todos aqui como pais sabem, nesses meses todos e agora, que graças a Deus libertei-me dele, Deus também está me
exigindo a penitência dessas
coisas que eu tenho que falar."
O discurso foi avaliado por
senadores como "tímido".
Havia uma expectativa, por
exemplo, de que anunciasse a
saída do diretor-geral Alexandre Gazineo e a abertura de
processo administrativo contra
Agaciel Maia, que ficou 14 anos
no cargo, indicado no passado e
mantido na atual gestão por ele.
Os dois assinaram vários dos
atos secretos que estão sendo
publicados com data retroativa.
"Estou há quatro meses como presidente. O que praticamos é só e exclusivamente buscar corrigir erros", afirmou.
Até agora, já foi revelado que
um neto de Sarney trabalhou
no Senado até 2008, quando o
Supremo Tribunal Federal
proibiu o nepotismo, e que
duas sobrinhas trabalham na
Casa -ele decidiu afastar uma
delas, que deve voltar ao Ministério da Agricultura, onde é servidora. Sarney reafirmou que
nunca soube de atos secretos.
A fala do senador fez colegas
da oposição admitirem que a
crise é do Senado. Todos, porém, cobraram reformas. "Se
ele não fizer [uma reforma],
não será presidente por muito
tempo", disse o presidente do
PSDB, Sérgio Guerra.
Até seu aliado José Agripino
Maia (DEM-RN) disse que Sarney precisa promover mudanças. "O discurso não arrefece [a
crise], mas neutraliza o movimento de renúncia. Mas ele
precisa fazer uma reforma."
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), defendeu a limitação do mandato do diretor-geral da Casa e que a nomeação
para o cargo passe a depender
de aprovação do plenário.
Sarney interveio na fala do
tucano e assumiu o compromisso de adotar a proposta, numa concessão vista pelos aliados como necessária para aplacar a crise. O peemedebista
também afirmou que apoiará
projeto de Eduardo Suplicy
(PT-SP) que prevê a publicação
no "Diário do Senado Federal"
da lista dos servidores do Senado e seus respectivos salários.
Embora já tenha presidido a
instituição outras duas vezes,
afirmou que não tem responsabilidade pelos erros do passado.
"É injustiça do país julgar um
homem como eu, com tantos
anos de vida pública, com a correção que tenho de família austera, de família bem composta,
que tem prezado a sua vida para
a dignidade da sua conduta."
Segundo Sarney, há interesse
nas denúncias contra ele, para
que o Senado se enfraqueça e
ele perca a condição de mudar a
Casa. "Vou levar em frente, doa
a quem doer." Ao discursar, não
citou o empréstimo de imóvel
funcional em seu nome para o
ex-senador Bello Parga, conforme a Folha revelou.
Ontem, Sarney disse que
"nunca teve o nome associado
a um escândalo". Há duas semanas, a Folha revelou que
Sarney recebia auxílio-moradia mesmo morando em casa
própria e tendo à sua disposição residência oficial. Ele pediu
desculpas e disse que iria devolver o dinheiro, medida que
ainda não foi adotada.
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