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Brasil e Espanha acertam "plano de ação"
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O governo espanhol propôs ontem, e o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva aceitou no ato, organizar um "plano de ação estratégica" para aprofundar as relações
entre os dois países. A idéia é "explorar todas as potencialidades da
cooperação bilateral", conforme
explicou, em entrevista coletiva
ao lado de Lula, o presidente do
governo espanhol, José María Aznar (primeiro-ministro).
A lista de situações e organizações em que o "plano de ação" interferirá é ampla: vai desde, como
é óbvio, o relacionamento bilateral, até as negociações para a
constituição da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), da
qual a Espanha não é parte.
Para o governo brasileiro, tanto
quanto um gesto diplomático de
importância, a iniciativa "é também uma demonstração de confiança", diz o ministro do Exterior, Celso Amorim. Mais prático,
seu colega da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, acha que o novo
plano "pode ampliar os investimentos espanhóis no Brasil".
Aznar dá razão aos dois funcionários brasileiros: abriu a entrevista coletiva com a afirmação de
que "o governo espanhol tem
grande confiança na força e no futuro do Brasil". Depois, manifestou a impressão de que os investimentos não só se manterão como
até aumentarão.
Não foi à toa que Lula disse,
brincando, que o governo Aznar
se apaixonara pelo Brasil.
Se estiver certo, não é para desprezar: a Espanha já é o maior investidor europeu no Brasil e tem
um estoque acumulado de US$ 25
bilhões (ou 25 bilhões de euros,
como prefere Aznar, o que daria
quase US$ 30 bilhões).
O detalhamento do "plano de
ação" será feito até outubro,
quando Aznar visitará o Brasil, retribuindo a viagem que Lula encerrou ontem à Espanha.
Além do "plano de ação", os
dois governos criaram um grupo
de trabalho informal, composto
por funcionários dos ministérios
de Economia e Relações Exteriores, para "discutir temas comerciais ligados à negociação União
Européia/Mercosul e também políticas de investimento e políticas
macroeconômicas".
É um modelo similar ao que, faz
apenas um mês, foi criado com o
governo norte-americano, ambos, curiosamente, chefiados por
políticos conservadores.
O aprofundamento da relação
com a Espanha passa por seguidas garantias de parte do novo governo brasileiro de que seus investidores não sofrerão prejuízos
em função de mudanças nas regras do jogo.
Lula foi, a esse respeito, de uma
clareza que o PT, antes de rever
suas posições, chamaria de "entreguista". Disse, na entrevista coletiva ao lado de Aznar: "Para nós,
está claro que, quando reivindicamos investimentos, temos que garantir no mínimo a certeza de que
ele terá a rentabilidade necessária
e precisa ter garantias".
Lula aproveitou a coletiva para
expor os pontos centrais de sua
política externa. Entre eles, prioridade para o Mercosul e para a integração da América do Sul. Neste
caso, todas as vezes que fala insiste na necessidade de os países ricos financiarem a infra-estrutura
sul-americana.
Anunciou a Aznar que, no dia 8,
os países sul-americanos elaborarão uma lista de obras prioritárias
de infra-estrutura, que será submetida aos chefes de governo, em
tempo de ser apresentada ao governante espanhol quando estiver
no Brasil em outubro.
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