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O QUE FAZER?
Sem citar programas existentes, como Bolsa-Família, presidente afirma que decretará "guerra" aos problemas no setor
Lula diz que ainda busca "carro-chefe" social
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva anunciou ontem que vai
reunir todos os ministros da área
social na próxima semana para
"decretar uma guerra" contra os
problemas no setor, especialmente os que afetam crianças, adolescentes e jovens. O objetivo é concentrar as ações de governo.
Segundo o presidente, a ""guerra" tem de ser "contra um estado
de calamidade que envolve milhões de crianças por este país". É
preciso, porém, encontrar "um
carro-chefe" para as políticas de
proteção aos menores.
"Quem tem 44 programas termina não tendo nenhum. É melhor definir uma política que seja
o carro-chefe e, atrás dela, ter outras políticas, do que você ficar
tentando em cada ministério cuidar de um pedacinho daqui, um
pedacinho dali", disse Lula.
O presidente, porém, não comentou o fato de o Ministério do
Desenvolvimento Social ter sido
criado, em janeiro, justamente
com esse fim agregador ou que o
Fome Zero e, posteriormente, o
Bolsa-Família teriam, em tese, a
função de ""carro-chefe".
Ele reagiu várias vezes, direta ou
indiretamente, à manchete de ontem da Folha sobre a falta de aplicação dos recursos previstos para
programas prioritários.
Dados do Siafi (sistema de
acompanhamento dos gastos federais em que se baseou a reportagem) mostram que 39% dos 340
programas tiveram, até 7 de julho,
gasto inferior a 10% do Orçamento a eles destinado para o ano.
Segundo Lula, toda vez que o
Siafi é citado em reportagens negativas para o governo, ele consulta o ministro do Planejamento,
Guido Mantega, "que diz que não
é verdade". O presidente disse
que a questão de recursos "nem
sempre é a mais importante" e
disse preferir dar "um dado concreto": o fato de, segundo ele, o
atual governo ter gasto mais na
área social do que todos os outros
governos no mesmo período. Especificou: em 2003, foram 2% a
mais do que em 2002, último ano
de Fernando Henrique Cardoso.
A entrevista de Lula, das
9h45min às 11h45min, foi dada a
pedido da Andi (Agência Nacional dos Direitos da Criança e da
Adolescência), que selecionou
dez repórteres de jornais, rádio e
televisão que têm o título de "Jornalista Amigo da Criança", concedido pela mesma entidade.
Crianças, adolescentes e jovens
foram os temas. O secretário de
Direitos Humanos, Nilmário Miranda, introduziu a entrevista,
mostrando a versão do governo
para as ações sociais.
Um dos programas mais vendidos por Lula, desde a época da
campanha presidencial de 2002,
foi o "Primeiro Emprego". Pelos
dados do Siafi, porém, só gastou
0,2% de sua dotação de R$ 189 milhões para este ano, ou seja, R$
442 mil. Questionado se não ficava decepcionado, respondeu:
"Decepcionado, não. Um presidente não tem o direito de ficar
decepcionado."
"Eu não acredito que o problema seja apenas de dinheiro e de
Orçamento. Temos no Brasil um
acúmulo de dívida para cuidar da
criança e do adolescente. É como
se você tivesse de pagar uma prestação e deixasse atrasar a segunda, a terceira e a quarta", disse.
Ao citar a queda na qualidade
do ensino, Lula disse que há alunos que não sabem mais escrever
nem fazer contas simples de aritmética e questionou: "É preciso
discutir o que essa criança está fazendo na escola". Ele, porém, tentou não concentrar as críticas no
antecessor direto.
Para o presidente, que citou várias vezes sua mãe e fez uma referência à sua infância morando
nos fundos de um bar com 13 pessoas, "a questão não é só de pobreza, é também da família, porque a pobreza é só um ingrediente". Na sua opinião, a situação hoje em dia é pior do que antes, no
seu tempo de jovem: "As pessoas
estão no fio da navalha".
Lula se declarou contra a antecipação da maioridade penal para
16 anos e também contra projetos
que tramitam no Congresso visando aumentar a pena de menores que cometam infrações.
"O ECA [Estatuto da Criança e
do Adolescente, que completa 14
anos neste ano] é uma obra-prima de peça jurídica" e "precisa ser
cumprido, não mudado", disse.
Palocci
Interrompendo uma pergunta
sobre a falta de aplicação de recursos em nome do ajuste fiscal, Lula
riu e recriminou: "Não esbarra na
equipe econômica, não. Fica muito simplista dizer que é o [Antonio] Palocci [ministro da Fazenda] que não quer que se faça alguma coisa". E voltou a fazer referência a mães: "O Ministério da
Fazenda faz o papel que a mãe de
vocês fazia quando vocês eram
mais jovens e pediam dinheiro
para ela". Em seguida, especificou: "Endurece a parada".
Segundo ele, há um consenso de
que é preciso usar mais dinheiro
na educação. O governo, disse, estuda um projeto preliminar para a
concessão de crédito educativo
para universitários, com quatro
anos de carência.
Na outra ponta, a do analfabetismo, Lula disse que "o governo
federal não tem de ter o compromisso de combater o analfabetismo", pois seu papel é o de complementar e de induzir Estados,
municípios, empresas e entidades
a fazê-lo. Ele também assumiu o
compromisso de instituir o Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica),
com o objetivo de redistribuir recursos de acordo com o número
de alunos matriculados desde a
creche até o ensino médio.
Mais de uma vez, o presidente
desautorizou versões de que o governo estivesse estudando a desvinculação constitucional de recursos para educação, saúde e
ciência e tecnologia. "Não haverá
descontingenciamento em hipótese nenhuma no meu governo."
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