São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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ELEIÇÕES 2004/ARRECADAÇÃO

Partido busca apoio político e material na eleição e oferece diálogo com governo; pauta inclui obras, reforma tributária e o polêmico PPP

PT atrai empresário em troca de acesso a Lula

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao custo mensal de R$ 25 mil apenas para o Diretório Nacional, o Partido dos Trabalhadores está recrutando um exército de empresários para as eleições municipais, com a criação dos comitês de Empresários PT 2004. Neles, os empresários simpáticos ao partido não só oferecem "apoio político e material" aos candidatos petistas, como oficializado em seu projeto, mas também apresentam suas reivindicações.
Com a estratégia, o PT pretende quebrar a resistência do empresariado e, numa "decorrência natural" -segundo expressão de seu coordenador nacional, o empresário José Carlos de Almeida-, arrecadar recursos para o partido. Em troca, abre um canal de diálogo com o governo federal.
Um dos idealizadores do projeto, o empresário Lawrence Pih, da Moinho Pacífico (trigo), diz que esse é um instrumento de interlocução dos pequenos e médios empresários com o governo federal, uma vez que "os grandes já têm os canais abertos". A pauta vai das obras nas cidades à política de créditos do BNDES e à alíquota da Cofins. Inclui ainda reforma tributária e Projeto de Parceria Público-Privada (PPP).
"São microempresários que levam suas angústias ao governo. Não é um projeto para o PT, mas de empresários preocupados com sua sobrevivência", justificou Pih, coordenador do comitê de São Paulo e um dos colaboradores da campanha de Marta Suplicy.
Até hoje, foram lançados nove comitês pelo país. Mais 11 serão inaugurados até a primeira semana de agosto. Segundo Almeida, dono da JL Engenharia, a intenção é arregimentar 20 mil empresários em mais de 5.000 municípios do país.
Amigo de Luiz Inácio Lula da Silva, com quem viajou em campanhas presidenciais, Almeida admite que "é um atrativo para o empresário saber que será ouvido pelo governo federal".
Tanto Pih como Almeida reconhecem que, nos comitês, é possível realizar a captação de recursos para o PT. Mas alegam que esse não é o objetivo do comitê que, além da motivação eleitoral, teria a função de discutir o desenvolvimento sustentável na região.
"Os comitês não são só para arrecadação", endossou o presidente nacional do PT, José Genoino.
Sob o slogan "Fazer política. Mais uma função social do empresário", o lançamento dos comitês ganhou corpo há dois meses quando empresários afinados com o PT se reuniram em São Paulo para reivindicar o direito de interferir no programa de governo do PT.
"Empresário também é cidadão. Eles estiveram em São Paulo e cobraram a possibilidade de influir nos programas de governo. Estamos fazendo até cartilha", afirma o tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Entre os empresários que participam dos comitês, estão fornecedores de prefeituras, governos estaduais e governo federal. Segundo Almeida, não há como proibir sua participação, até porque os contratos são assinados com critérios transparentes. Almeida admite que os empresários podem até apresentar propostas de seu interesse para uma parceria com os governos petistas - especialmente o federal -, dentro do polêmico projeto do PPP.
"Se a proposta for boa, que apresente", diz, "mas essa não é uma função do comitê".


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