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ELEIÇÕES/CAMPANHA
Mulher de José Matias da Silva reclama que, ao contrário de candidato, não pôde entrar na unidade de tratamento intensivo
Morre paciente visitado por Maluf em UTI
LILIAN CHRISTOFOLETTI
VIRGILIO ABRANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O paciente que conversou com
Paulo Maluf (PP) durante a incursão do candidato a prefeito de São
Paulo a uma UTI (Unidade de
Tratamento Intensivo) morreu na
madrugada de ontem de infecção
generalizada.
José Matias da Silva, 46, era motorista de ônibus e estava internado desde o dia 12 de julho, quando
foi ferido por um tiro durante
uma tentativa de assalto.
A visita ao Hospital e Maternidade Voluntários, no bairro de
Santana (zona norte de SP), ocorreu anteontem e fazia parte da
agenda de campanha.
Maluf e um grupo de 30 pessoas, entre assessores, repórteres,
fotógrafos e cinegrafistas, ficaram
cerca de 15 minutos na UTI, onde
30 pacientes estavam internados
em estado grave.
"Moça, eu não entendi nada que
aconteceu. Não pude visitar o
meu marido porque só deixam
entrar na UTI uma pessoa por paciente. Deixei meus filhos e não
entrei. Mas, por que o Maluf entrou e eu não?", disse ontem Maria do Socorro Gonzaga de Sousa,
52, casada com Silva.
Ela afirmou não ter visto os jornais, mas disse ter ficado "nervosa" ao saber por amigos da foto do
marido, em um leito da UTI, ao
lado de Maluf. "É estranho porque de manhã, antes de o Maluf
chegar, um médico disse que meu
marido estava melhor, que era o
melhor dia dele", disse Maria.
Na foto, Maluf segura o pulso
esquerdo de Silva, que está com
um respirador. Foi o próprio paciente que chamou o ex-prefeito,
que passava próximo ao leito nas
dependências da UTI. "Mate os
bandidos, mate os bandidos", disse quando o candidato se aproximou. "Com Maluf na prefeitura, a
Rota vai para as ruas", respondeu
o ex-prefeito, apesar de a Rota
(unidade de elite da Polícia Militar) ser de responsabilidade do
governo do Estado.
Maluf afirmou ontem à Folha
que entrou na área a convite da
direção do hospital. Durante a visita à UTI, um dos seus assessores
pediu ao dono do hospital, Francisco Tortorelli, que informasse
até onde poderiam seguir.
Tortorelli não quis conversar
ontem com a imprensa. Anteontem, havia dito que a equipe de
Maluf entrara na UTI sem permissão e que não pôde impedir.
O diretor comercial do hospital,
Alexandre Pestana, afirmou que o
motorista morreu em decorrência de uma infecção generalizada
e que, no dia da visita de Maluf, os
médicos já não tinham esperanças de salvá-lo.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo informou ontem que abriu um expediente para apurar a responsabilidade pela "invasão" na UTI. "É
pouco provável que a entrada do
grupo tenha ocasionado a morte
do motorista", disse o diretor de
comunicação do conselho, Nacime Salomão Mansur, para quem
foi "absurda e irresponsável" a
entrada de Maluf na unidade.
Motorista
Silva deixou Pernambuco há
aproximadamente 22 anos para
tentar a sorte em São Paulo. Trabalhava como motorista, era casado e tinha três filhos (um rapaz
e duas moças).
"Ele vivia para trabalhar e sustentar a família", disse Maria.
A família mora em uma casa de
quatro cômodos (dois quartos,
cozinha e banheiro) e paga cerca
de R$ 350 de aluguel.
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