São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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ELEIÇÕES/CAMPANHA

Mulher de José Matias da Silva reclama que, ao contrário de candidato, não pôde entrar na unidade de tratamento intensivo

Morre paciente visitado por Maluf em UTI

LILIAN CHRISTOFOLETTI
VIRGILIO ABRANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O paciente que conversou com Paulo Maluf (PP) durante a incursão do candidato a prefeito de São Paulo a uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) morreu na madrugada de ontem de infecção generalizada.
José Matias da Silva, 46, era motorista de ônibus e estava internado desde o dia 12 de julho, quando foi ferido por um tiro durante uma tentativa de assalto.
A visita ao Hospital e Maternidade Voluntários, no bairro de Santana (zona norte de SP), ocorreu anteontem e fazia parte da agenda de campanha.
Maluf e um grupo de 30 pessoas, entre assessores, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas, ficaram cerca de 15 minutos na UTI, onde 30 pacientes estavam internados em estado grave.
"Moça, eu não entendi nada que aconteceu. Não pude visitar o meu marido porque só deixam entrar na UTI uma pessoa por paciente. Deixei meus filhos e não entrei. Mas, por que o Maluf entrou e eu não?", disse ontem Maria do Socorro Gonzaga de Sousa, 52, casada com Silva.
Ela afirmou não ter visto os jornais, mas disse ter ficado "nervosa" ao saber por amigos da foto do marido, em um leito da UTI, ao lado de Maluf. "É estranho porque de manhã, antes de o Maluf chegar, um médico disse que meu marido estava melhor, que era o melhor dia dele", disse Maria.
Na foto, Maluf segura o pulso esquerdo de Silva, que está com um respirador. Foi o próprio paciente que chamou o ex-prefeito, que passava próximo ao leito nas dependências da UTI. "Mate os bandidos, mate os bandidos", disse quando o candidato se aproximou. "Com Maluf na prefeitura, a Rota vai para as ruas", respondeu o ex-prefeito, apesar de a Rota (unidade de elite da Polícia Militar) ser de responsabilidade do governo do Estado.
Maluf afirmou ontem à Folha que entrou na área a convite da direção do hospital. Durante a visita à UTI, um dos seus assessores pediu ao dono do hospital, Francisco Tortorelli, que informasse até onde poderiam seguir.
Tortorelli não quis conversar ontem com a imprensa. Anteontem, havia dito que a equipe de Maluf entrara na UTI sem permissão e que não pôde impedir.
O diretor comercial do hospital, Alexandre Pestana, afirmou que o motorista morreu em decorrência de uma infecção generalizada e que, no dia da visita de Maluf, os médicos já não tinham esperanças de salvá-lo.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo informou ontem que abriu um expediente para apurar a responsabilidade pela "invasão" na UTI. "É pouco provável que a entrada do grupo tenha ocasionado a morte do motorista", disse o diretor de comunicação do conselho, Nacime Salomão Mansur, para quem foi "absurda e irresponsável" a entrada de Maluf na unidade.

Motorista
Silva deixou Pernambuco há aproximadamente 22 anos para tentar a sorte em São Paulo. Trabalhava como motorista, era casado e tinha três filhos (um rapaz e duas moças).
"Ele vivia para trabalhar e sustentar a família", disse Maria.
A família mora em uma casa de quatro cômodos (dois quartos, cozinha e banheiro) e paga cerca de R$ 350 de aluguel.


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