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JANIO DE FREITAS
As santas coincidências
Enquanto Delúbio Soares e
Marcos Valério lançam nova
versão de escapismo pessoal, logo
em seguida à viagem sorrateira do
primeiro ao encontro do segundo
em Belo Horizonte, aumenta a articulação para fazer do próprio
Delúbio o responsável solitário pelas ordinarices financeiras constatáveis no núcleo que empalmou o
PT. Já aparecia ontem, no jornalismo governista, a expressão "esquema financeiro de Delúbio",
que Marcos Valério apenas "operava". Para os demais, do governo
e do PT, passíveis de comprometimento ativo ou passivo com a engrenagem da nova corrupção, são
as santas coincidências que já os
"blindam", segundo a expressão
da moda.
Alguns exemplos do poder da fé
nas santas coincidências podem
começar pela Secretaria de Comunicação. Misto de tesouro e fortaleza do ministro Luiz Gushiken,
com domínio sobre mais de um
bilhão, vai passando ao largo da
CPI dos Correios, apesar de sua
interferência na licitação em que
uma empresa de Marcos Valério
foi dada na estatal como vencedora.
Para relembrar: a Secom de
Gushiken determinou a redução,
de R$ 3 milhões para R$ 1,8 milhão, do capital exigido das empresas concorrentes, o que permitiu a inclusão de Marcos Valério
na licitação. E, dos cinco julgadores, três foram indicados pela Secom. Em nota oficial recente, a Secom se afirma como minoria na
comissão da licitação. O fato, porém, de que um dos seus três indicados, entre os cinco, já estivesse
nos Correios, não o tornou menos
indicado nem menos representante da Secom.
Mais importa nessa interessante
concorrência, no entanto, uma relação de datas que está relegada.
A indicação dos representantes da
Secom, entre os quais o marido de
uma funcionária importante de
Marcos Valério, deu-se no dia 5 de
agosto de 2003. Por uma das santas coincidências, menos de 24 horas depois de Lula e Luiz Gushiken editarem o decreto que concedia à
Secom maioria nas comissões licitatórias de publicidade das estatais.
Mas nenhum dos dois tem nada
a ver com aquela e com outras licitações, muitas delas valendo fortunas, de publicidade e patrocínio
promocional das estatais e ministérios.
Lula definiu como "golpe baixo"
e desrespeito à sua privacidade o
noticiário sobre a sociedade feita
pela Telemar com um dos seus filhos e, ainda, dois filhos do seu
compadre e velho protegido Jacó
Bittar. Entre seus mais de 40 "produtores de conteúdo" para celulares, o único de que a Telemar se
tornou sócia foi o que viabiliza a
empresa dos três jovens, aportando-lhe R$ 5 milhões -o capital da
empresa é de R$ 5,2 milhões. Se
houve golpe nessa história, não foi
do noticiário.
À notícia inicial da nova sociedade, seguiu-se a resposta mentirosa de que a Telemar ignorava
quem eram os outros sócios da
empresa a que se associava. Caída, por excessivamente estúpida,
essa desculpa, a Telemar explicou
o sigilo da sua associação, com o
qual transgrediu uma exigência
legal, por motivos "de cunho operacional e estratégico". Mas logo
se contradisse, ao argumentar que
a operação financeira foi "absolutamente irrelevante". "Estratégica" ou "irrelevante"? A motivação
estratégica, reconheçamos, não é
difícil imaginar.
Há pouco, Lula fez a nomeação
de um novo desembargador do
Tribunal Regional Federal da Segunda Região. É de justiça, para
com o nomeado, registrar que figurou em uma lista tríplice de indicados por duas seccionais da
OAB. A ética de governo, porém,
não se modifica. E não ampara o
ato em que Lula nomeia o gerente
jurídico da Telemar, tão poucos
meses depois da estranha sociedade empresarial, para o TRF da região em que a mesma Telemar é
suscetível das suas questões judiciais mais expressivas.
Claro que não passam de coincidência fatos como a presença de
José Genoino em reuniões com
Marcos Valério, como em documentos financeiros, e depois o
transporte de meio milhão por um
assessor do irmão de Genoino.
Coincidências todas, as citadas e
as que tomariam muito mais espaço, de responsabilidade única
do onipotente e onipresente Delúbio Soares. Os canais do governo
que orientam o destino de verbas
imensas e os canais do PT que comandaram a distribuição de tantos milhões são, todos, santos como as suas coincidências.
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