Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA/JOSÉ JORGE
Governo Lula só se compara ao de Collor em corrupção
Vice de Alckmin diz que Lula é chefe de esquema de irregularidades e que, se for reeleito, haverá um novo mensalão porque "eles não se arrependeram de nada'
JOSÉ JORGE , 61, é candidato a vice na chapa de
Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa pela
Presidência e tem a responsabilidade de desferir as críticas mais duras ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na entrevista abaixo, afirma
que a diferença entre Lula e o ex-presidente Fernando
Collor foi o apoio político que "o presidente Lula tinha
e o Collor, não" e que, se Lula for reeleito, haverá um
segundo mensalão.
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Escolhido para disparar os
ataques mais ácidos na campanha presidencial pelo lado da
oposição, o senador José Jorge
(PFL-PE), 61, vice na chapa do
tucano Geraldo Alckmin, diz
que aprendeu a fazer oposição
com o PT e que o governo do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, pela quantidade de escândalos, só pode ser comparado à gestão de Fernando Collor
de Mello (1990-92), que terminou em impeachment.
O pefelista acusa o presidente de ser o "chefe" do esquema
de corrupção que desencadeou
a crise política e diz acreditar
que haverá um segundo mensalão caso Lula seja reeleito. "Eles
não mudaram em nada os métodos, aparentemente não se
arrependeram de nada."
Leia a seguir trechos da entrevista com José Jorge.
Folha - Como o sr. caracteriza o governo Lula?
José Jorge - Um governo tem
que se caracterizar por três fatores. Em primeiro lugar, por
ser um governo que se comunica com a população dizendo a
verdade. Segundo, tem que ser
um governo que mostre competência na execução dos trabalhos. E terceiro, tem que ser
honesto e usar o dinheiro público da melhor maneira possível. Um governo para ser reeleito teria que ter essas características e o governo Lula não tem.
Folha - Como a campanha vai vincular o presidente aos escândalos?
Jorge - Tenho convicção de que
ele sabia e que era o chefe. O
presidente Lula não é um simples qualquer, é uma pessoa
que tem uma carreira no PT.
Folha - O sr. está preparado para
ouvir que foi o "ministro do apagão"?
Jorge - Eu fui o ministro que
apagou o apagão. Houve uma
crise energética e, quando cheguei ao ministério, montamos
um plano para que não houvesse apagão e não houve. Houve
um racionamento que conduzimos num período de oito meses
para que fosse superado.
Folha - O PFL critica os gastos do
governo mas, na Câmara, insiste em
votar uma MP que concede reajuste
de 16,67% aos aposentados. Isso
não é contraditório?
Jorge - Aquilo foi uma questão
política. Existe uma certa contradição nisso se olhar simplesmente pelo lado administrativo. Mas o presidente Lula fez
uma série de promessas que
não está cumprindo, inclusive
de atualizar os valores das aposentadorias. Ele concedeu aumentos mínimos e no último
ano deu um aumento maior em
função eleitoral. Os partidos de
oposição geraram uma posição
de que o presidente Lula não
cumpriu suas promessas.
Folha - Em entrevista à Folha, o vice-presidente José Alencar disse que
Alckmin partiu para uma "linha pefelista" e faz "apelações grosseiras".
Como o sr. responde a isso?
Jorge - A primeira questão é a
linha do PFL que, na oposição,
é propositiva. Temos que propor aquilo que queremos para
modificar a qualidade de vida
das pessoas, tudo aquilo que o
governo não fez, e criticar aquilo que foi feito. Isso não é radicalismo, é parte do papel da
oposição. Quem deu uma lição,
inclusive ao PFL, de fazer oposição, foi o PT, que fez oposição
muito mais radical do que fizemos ao governo Lula.
Folha - Alencar disse que daria nota dez para o comportamento ético
do governo Lula. E o sr. ?
Jorge - Infelizmente, dou nota
zero. Nem no governo Collor,
que o presidente foi colocado
para fora por impeachment,
houve tantos escândalos como
o governo Lula, do mensalão,
dos dólares na cueca, da quebra
do sigilo do caseiro. Há dezenas
de escândalos financeiros e éticos que o governo do presidente Lula e o PT realizaram durante apenas três anos.
Folha - Ao comparar o governo Lula ao governo Collor o sr. quer dizer
que a oposição deveria ter se mobilizado pelo impeachment?
Jorge - A diferença do presidente Lula e do presidente Collor foi a questão do apoio político que o presidente Lula tinha e
o Collor, não. O presidente Lula
foi eleito por um partido grande, que tem uma estrutura de
deputados, senadores e uma inserção social muito maior do
que o partido do presidente
Collor na época. Mas motivos
para que houvesse um processo
de responsabilização política e
impeachment existiram, o que
não existiram foram as condições políticas para isso.
Folha - O sr. foi muito criticado, até
pelo PSDB, por ter dito que o presidente Lula abusa de bebidas alcóolicas. O sr. se arrependeu?
Jorge - Não me arrependo porque foi dito no contexto de um
comício. Eu não fui o primeiro
a dizer isso, uma semana antes
o Ronaldo [jogador de futebol]
falou não só ao Brasil, mas ao
mundo inteiro. Porém esse não
é um tema importante na campanha.
Folha - O sr. acha que se o presidente Lula for reeleito haverá um segundo mensalão?
Jorge - Acho que sim. Eles não
mudaram em nada os métodos.
Tanto que o PT não puniu nenhum dos parlamentares que a
CPI acusou, que o Conselho de
Ética também acusou e que foram absolvidos com o auxílio
da base do governo na Câmara
e do próprio presidente Lula.
Não vejo arrependimento.
Folha - O episódio do mensalão
não mudou a forma de relacionamento do governo com sua base?
Jorge - Agora mesmo os Correios, uma empresa que ficou
muito marcada porque foi onde
começaram as denúncias, foram entregues ao PMDB como
moeda de troca para apoio eleitoral. Não houve nenhum arrependimento e não tenho dúvida que, se o presidente Lula for
reeleito, se não houver o mensalão, vai ter algo parecido.
Folha - Como a campanha vai tratar da questão da segurança?
Jorge - O governo Lula não
cumpriu as suas promessas na
área da segurança, não liberou
os recursos, não fez nada daquilo que poderia fazer. O presidente Alckmin vai assumir para
ele a questão da segurança pública no Brasil e vai trabalhar
em conjunto com o Estado.
Folha - O candidato Alckmin prestou contas à população sobre a crise
na segurança no Estado?
Jorge - Claro que ele assumiu,
mas a questão não pode ser assumida só pelo governo de São
Paulo. Os índices de criminalidade no Estado foram reduzidos pela metade, mas o Estado
aumentou muito o número de
presos. O presidente Alckmin
tem uma vantagem de que, como ex-governador, tem grande
experiência e o sentimento daquilo que o governo federal deveria ter feito e não fez.
Folha - O que um governo Alckmin
mudaria na política econômica?
Jorge - O país tem que crescer.
Não só no governo Lula, mas
mesmo antes, não teve a taxa de
crescimento que deveria. É verdade que no governo Lula houve um grande movimento internacional e todos os países
cresceram. Já o Brasil só cresceu mais que o Haiti. É a hora
de se tomar as medidas efetivas
para o país voltar a crescer.
Folha - O que sr. faria diferente do
vice José Alencar?
Jorge - O maior acerto foi ocupar a posição de uma forma discreta, responsável e, apesar das
críticas aos juros, sempre procurou colaborar, chegou a exercer o Ministério da Defesa. O
maior defeito foi concordar
com essas questões éticas do
governo Lula e do PT. Acho que
dizer que a ética no governo é
nota dez é demais.
Texto Anterior: Em território gaúcho: Candidata do PSOL à Presidência faz caminhada em parque de Porto Alegre Próximo Texto: Perfil: Pecha de ministro do "apagão" surgiu no governo FHC Índice
|