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Renan busca limitar perícia; oposição reage e cobra pressa
Presidente do Senado diz que não recorrerá ao STF, mas tenta restringir investigação da PF
Sob vigilância e pressão da oposição, Mesa Diretora se reúne hoje para decidir se haverá aprofundamento nas apurações da polícia
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na véspera da reunião da
Mesa Diretora, o dia ontem foi
de articulações políticas no Senado. A oposição se mobilizou
para garantir o envio hoje, à Polícia Federal, de pedido de
aprofundamento da perícia em
documentos apresentados por
Renan Calheiros (PMDB-AL).
Já o presidente do Senado se
empenhou na reconstrução de
sua base de apoio na Casa.
Renan ligou para os demais
membros da Mesa -seis titulares e quatro suplentes- e negou que esteja articulando para
atrasar o processo que enfrenta
no Conselho de Ética. Disse
ainda que não pretende recorrer ao STF (Supremo Tribunal
Federal) para anular os trabalhos do conselho. "Não estou
pensando nisso, não", afirmou.
Renan mandou ontem ao
plenário ofício em que se declara impedido de tomar decisões
relativas ao processo contra
ele. No texto, pede ao presidente do conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), que passe
ao vice-presidente da Casa,
Tião Viana (PT-AC), correspondências referentes ao caso.
A perícia da PF é a principal
linha de investigação do conselho. Renan é suspeito de ter
despesas pagas por um lobista
da Mendes Júnior. Ele nega e,
para provar que tinha rendimentos, declarou ter ganho
R$ 1,9 milhão com venda de gado nos últimos quatro anos.
Ignorando acordo feito entre
líderes partidários e membros
da Mesa, Renan adiou para hoje
-véspera do recesso- a reunião do colegiado, que estava
prevista para quinta passada.
Em outra frente, ele articulava para que o senador Magno
Malta (PR-ES) pedisse vista do
pedido de perícia, o que jogaria
a decisão para agosto. "Renan
nunca me ligou nem me sugestionou", disse Magno Malta.
A estratégia de Renan agora é
tentar limitar as investigações
da PF. Seu advogado, Eduardo
Ferrão, que deve participar da
reunião da Mesa, deve tentar
excluir algumas das 30 perguntas a serem encaminhadas à PF.
O objetivo da perícia é verificar se as operações de venda de
gado declaradas por Renan
ocorreram. O senador quer limitar a análise à autenticidade
dos documentos, impedindo
uma investigação fiscal. No entendimento do senador, a PF
precisa de autorização do STF
para aprofundar as apurações.
Em laudo preliminar, a PF
apontou inconsistências nas
notas fiscais apresentadas.
A oposição reiterou a ameaça
de paralisar o Senado se não for
enviado à PF o requerimento
de aprofundamento da perícia
e avisou que vai monitorar os
passos da reunião da Mesa.
Crítica à mídia
O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), acusou
a mídia de tratar de modo diferenciado o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso
(PSDB, 1995-2002).
"Pergunto a vocês se já compararam a situação do Renan
Calheiros com a do Fernando
Henrique Cardoso, que teve
um filho com uma colega nossa
[uma jornalista]. Nunca foi entrevistada, o filho nunca apareceu no jornal. E essa colega
nossa foi para Portugal às expensas de uma empresa de comunicação, conhecida no Brasil inteiro como TV Globo", disse o governador, depois de um
encontro com Paulo Bernardo
(Planejamento), no Planalto.
FHC teria tido uma filha com
uma jornalista quando era senador. Nenhuma das partes envolvidas confirma, porém, a veracidade da história, nem se
mostra disposta a levá-la a público. A política da Folha tem
sido a de considerar que tais situações devem permanecer na
esfera particular enquanto não
houver indício de que interfiram na administração pública.
No caso de Renan, suspeita-se que o dinheiro do pagamento de pensão judicial ao filho
nascido de uma relação extraconjugal pudesse pertencer a
uma empreiteira. Renan alega
que o lobista Cláudio Gontijo,
da Mendes Júnior, apenas intermediava os pagamentos -e
que o dinheiro era dele, Renan.
O Senado investiga o caso.
Questionado, Requião disse
que ambos os casos são "exatamente a mesma coisa". "Do
ponto de vista ético e moral, é a
mesma coisa. Ou não, porque o
Renan disse que quem pagou a
moça foi ele mesmo", disse o
governador. "O Renan está
sendo fuzilado e o FHC foi protegido à exaustão", completou.
A Central Globo de Comunicação disse, por meio de nota,
que "este tipo de comparação
não procede, pois, como empresa de comunicação, a TV
Globo não cuida da vida privada das pessoas e sim de temas
de interesse público. Como
empresa, ela paga salários aos
seus funcionários e não pensão". O ex-presidente FHC disse por meio de sua assessoria
que não iria comentar o caso.
Colaboraram a Folha Online e a Sucursal do Rio
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