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Doações de planos à bancada da saúde aumentam 757%
Na eleição, 62 empresas fizeram repasses legais de R$ 7,2 milhões para campanhas
Dos 29 deputados eleitos que receberam doações do ramo, 9 integram comissões que tratam de assuntos relevantes para os planos
ANGELA PINHO
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com uma série de projetos
que afetam seu funcionamento
tramitando no Congresso, os
planos de saúde injetaram
757% a mais nas últimas eleições em relação às de 2002 e
ajudaram a praticamente dobrar a bancada que encampa
seus interesses: de 17 para 31
parlamentares.
Na eleição passada, 62 empresas que atuam na área de
planos de saúde fizeram doações legais de R$ 7,2 milhões
para campanhas de eleitos e
não-eleitos pelo país. Financiaram parte das campanhas de 29
deputados federais e dos senadores Álvaro Dias (PSDB-PR) e
Francisco Dornelles (PP-RJ).
O levantamento das 62 empresas do ramo que financiaram campanhas eleitorais será
divulgado hoje, em Salvador,
pelos pesquisadores Mário
Scheffer e Lígia Bahia, do Centro Brasileiro de Estudos da
Saúde, ligados a entidades médicas. A partir desses dados, a
Folha fez um cruzamento com
as doações dos planos de saúde
em 2002, que constam do Tribunal Superior Eleitoral. O resultado mostra que apenas 15
das 62 empresas fizeram doações legais naquele ano, num
total de cerca de R$ 839 mil.
O aumento de repasses do
setor segue a lógica dos demais
ramos. No geral, o volume doado abertamente para campanhas subiu de 2002 para 2006,
contrariando a expectativa de
que a eleição após o escândalo
do mensalão seria mais modesta. A campanha do presidente
Lula, por exemplo, recolheu
133% a mais em 2006.
Apesar de já contar com 16
deputados e um senador na legislatura anterior, a bancada ligada a esse ramo é considerada
nova. A lista das principais matérias de interesse do setor no
Congresso inclui, entre outros,
um projeto que permite aos
planos limitar a cobertura de
atendimentos. Outro projeto
desagrada ao setor ao prever
que todas as empresas teriam
que reembolsar consultas com
médicos não-conveniados.
Dos 29 federais eleitos que
receberam doações do ramo, 9
integram comissões que tratam de assuntos relevantes para os planos -seis estão na Comissão de Seguridade Social e
três na Comissão de Defesa do
Consumidor. Quatro participaram, em 2003, da CPI dos Planos de Saúde, criada para investigar as empresas.
As doadoras
As maiores doadoras são as
Unimeds (cooperativas de médicos). A campeã é a Federação
das Unimeds de São Paulo: desembolsou R$ 2,9 milhões.
Campeão de doações do ramo na Câmara, com R$ 363,2
mil, Dr. Nechar (PV-SP) votou
contra o projeto que tornava
obrigatório o pagamento de
despesas de acompanhantes
para crianças e idosos na Comissão de Seguridade Social.
Médico eleito deputado, Dr.
Ubiali (PSB-SP) trabalha contra a cobrança de impostos como PIS e Cofins de cooperativas médicas. A Federação das
Unimeds doou R$ 178 mil a ele.
Autor da Lei de Incentivo ao
Cooperativismo Paulista, de
2005, quando era deputado estadual, Arnaldo Jardim (PPS-SP) recebeu R$ 178 mil da federação na campanha. Ele diz que
não tem ligação com planos de
saúde, mas que atua na frente
parlamentar em defesa do cooperativismo. "O principal ponto, agora, é que as cooperativas
estão sofrendo bitributação."
O deputado Luiz Carlos
Hauly (PSDB-PR) é autor de
projeto de lei que prevê a criação de um Fundo Nacional de
Financiamento da Saúde para
que os estabelecimentos possam quitar suas dívidas. Ele recebeu R$ 3.500 da Unimed Maringá. "Se houvesse a expansão
dos planos de saúde, maior
acesso à população, isso geraria
sobrecarga menor ao sistema
de saúde pública."
A disputa das empresas pelos
planos de saúde do funcionalismo público chegou ao Legislativo. O deputado Barbosa Neto
(PDT-PR) fez parecer em comissão pela suspensão dos convênios dos ministérios e autarquias federais com o fundo de
autogestão GEAP, defendendo
a contratação dos planos por licitação. O senador Álvaro Dias
defende o mesmo. A Unimed
do Paraná fez doações para os
dois congressistas. Foram
R$ 50 mil para o deputado, e
R$ 400 mil para o senador.
Procurados pela Folha, os
deputados Dr. Nechar e Dr.
Ubiali e o senador Francisco
Dornelles não ligaram de volta.
Licenciado, o senador Álvaro
Dias não foi localizado.
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