São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
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MUDANÇA MINISTERIAL
FHC surpreende os governadores Covas e Jereissati e os ministros Serra e Paulo Renato
Presidente cede em parte aos tucanos

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso fez a reforma ministerial por pressão dos tucanos, que tinham três objetivos: afastar o ministro Clóvis Carvalho da Casa Civil, tirar o ministro Renan Calheiros (Justiça) do governo e assumir o controle do Ministério do Desenvolvimento.
FHC cedeu em parte, surpreendendo os governadores Mário Covas (São Paulo) e Tasso Jereissati (Ceará) e os ministros José Serra (Saúde) e Paulo Renato Souza (Educação) com uma solução híbrida: Carvalho sairia da Casa Civil, mas permaneceria no governo indo para o Desenvolvimento.
Os tucanos reagiram, pois queriam Carvalho longe de Brasília e o senador Paulo Hartung (PSDB-ES) no Desenvolvimento. Nem FHC quis ser tão radical com Carvalho nem o ministro Pedro Malan (Fazenda) aceitou o nome de Hartung, identificado com Serra e com o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, apelidados de "desenvolvimentistas".
Em conversa com tucanos, FHC comunicou que Carvalho iria mesmo para o Desenvolvimento: "Ou é isso ou ele fica na Casa Civil". Os tucanos insistiram, e FHC deu a palavra final: "É o preço. Ele sai do Planalto, mas vai para o Desenvolvimento".
Estava selada a sorte do ministro Celso Lafer, que assumiu o Desenvolvimento depois de afastada a nomeação de Mendonça de Barros, para quem a pasta havia sido feita sob encomenda.
A conversa decisiva de FHC com os tucanos foi na terça-feira. Naquela mesma noite, o ministro Celso Lafer foi chamado ao Alvorada. Sete meses depois de ter deixado um confortável posto em Genebra, estava fora do governo.
Dez dias antes, num jantar em Brasília, FHC havia declarado para pelo menos cinco atentos ouvintes: "Há cinco anos dizem que Malan (Pedro Malan, da Fazenda) vai sair do ministério e ele continua lá. A mesma coisa vai acontecer com o meu amigo Celso Lafer".
Não foi bem assim. Como também não foi bem assim com Bresser Pereira (Ciência e Tecnologia), outro ministro que é amigo de longa data do presidente.
Desde o primeiro mandato, Bresser sobrevive a um bombardeio incessante. No início, no Ministério da Administração. Depois, no da Ciência e Tecnologia. Ontem, finalmente, despediu-se do governo.
Num jantar na quinta-feira, Bresser contou com certa mágoa que passara o dia inteiro assistindo, pelas agências de notícias, rádios e televisões, a um verdadeiro leilão de sua pasta. Foi assim, por exemplo, que ficou sabendo que o desconhecido deputado Luiz Bittencourt, do PMDB de Goiás, era um dos cotados para a vaga. Um entre vários outros.
Aos convidados do jantar, repetiu o que havia dito aos amigos ao longo do dia: "Não sei de nada. Ninguém me telefonou, ninguém me avisou de nada". Mas adiantava que teria uma conversa definitiva com o presidente. Assim foi. Por volta do meio-dia de ontem, quando FHC deveria estar anunciando a reforma, os portões do Alvorada abriram-se para Bresser. A conversa não foi fácil.
"As pressões são muitas, está difícil resistir", disse-lhe o presidente, propondo que ele esperasse seis meses até uma definição de sua posição no governo. Bresser foi incisivo: "Ou eu fico ou eu não fico. Você decide".
FHC decidiu. Ontem à tarde, já em São Paulo, Bresser recebeu um telefonema do futuro chefe da Casa Civil, Pedro Parente. Foi ele, não FHC, quem o demitiu.
Foi o próprio FHC, porém, quem convidou seu substituto, o embaixador Ronaldo Sardenberg, que vai acumular a nova pasta com seus projetos do Ministério de Assuntos Extraordinários. Além dos amigos, FHC pode ter desagradado a própria mulher, Ruth Cardoso, e assessores diretos que defendiam enfaticamente a permanência de Lafer. Ruth não gostou do desfecho.
Os íntimos do presidente não perdoam o advogado Manoel Alceu Affonso Ferreira, cujo nome foi sugerido a FHC pelo velho amigo comum José Gregori, secretário de Direitos Humanos.
Ferreira conversou com o presidente por telefone na quarta-feira, aceitando o convite para o Ministério da Justiça. Na quinta, com seu nome já circulando, recuou, justificando que sua segunda mulher simplesmente se recusara a morar em Brasília. "Um papelão", lamentou Gregori com amigos.


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