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MUDANÇA MINISTERIAL
FHC surpreende os governadores Covas e Jereissati e os ministros Serra e Paulo Renato
Presidente cede em parte aos tucanos
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso fez a reforma ministerial por pressão dos tucanos,
que tinham três objetivos: afastar
o ministro Clóvis Carvalho da Casa Civil, tirar o ministro Renan
Calheiros (Justiça) do governo e
assumir o controle do Ministério
do Desenvolvimento.
FHC cedeu em parte, surpreendendo os governadores Mário
Covas (São Paulo) e Tasso Jereissati (Ceará) e os ministros José
Serra (Saúde) e Paulo Renato
Souza (Educação) com uma solução híbrida: Carvalho sairia da
Casa Civil, mas permaneceria no
governo indo para o Desenvolvimento.
Os tucanos reagiram, pois queriam Carvalho longe de Brasília e
o senador Paulo Hartung (PSDB-ES) no Desenvolvimento. Nem
FHC quis ser tão radical com Carvalho nem o ministro Pedro Malan (Fazenda) aceitou o nome de
Hartung, identificado com Serra e
com o ex-ministro Luiz Carlos
Mendonça de Barros, apelidados
de "desenvolvimentistas".
Em conversa com tucanos, FHC
comunicou que Carvalho iria
mesmo para o Desenvolvimento:
"Ou é isso ou ele fica na Casa Civil". Os tucanos insistiram, e FHC
deu a palavra final: "É o preço. Ele
sai do Planalto, mas vai para o Desenvolvimento".
Estava selada a sorte do ministro Celso Lafer, que assumiu o
Desenvolvimento depois de afastada a nomeação de Mendonça de
Barros, para quem a pasta havia
sido feita sob encomenda.
A conversa decisiva de FHC
com os tucanos foi na terça-feira.
Naquela mesma noite, o ministro
Celso Lafer foi chamado ao Alvorada. Sete meses depois de ter deixado um confortável posto em
Genebra, estava fora do governo.
Dez dias antes, num jantar em
Brasília, FHC havia declarado para pelo menos cinco atentos ouvintes: "Há cinco anos dizem que
Malan (Pedro Malan, da Fazenda)
vai sair do ministério e ele continua lá. A mesma coisa vai acontecer com o meu amigo Celso Lafer".
Não foi bem assim. Como também não foi bem assim com Bresser Pereira (Ciência e Tecnologia), outro ministro que é amigo
de longa data do presidente.
Desde o primeiro mandato,
Bresser sobrevive a um bombardeio incessante. No início, no Ministério da Administração. Depois, no da Ciência e Tecnologia.
Ontem, finalmente, despediu-se
do governo.
Num jantar na quinta-feira,
Bresser contou com certa mágoa
que passara o dia inteiro assistindo, pelas agências de notícias, rádios e televisões, a um verdadeiro
leilão de sua pasta. Foi assim, por
exemplo, que ficou sabendo que o
desconhecido deputado Luiz Bittencourt, do PMDB de Goiás, era
um dos cotados para a vaga. Um
entre vários outros.
Aos convidados do jantar, repetiu o que havia dito aos amigos ao
longo do dia: "Não sei de nada.
Ninguém me telefonou, ninguém
me avisou de nada". Mas adiantava que teria uma conversa definitiva com o presidente. Assim foi.
Por volta do meio-dia de ontem,
quando FHC deveria estar anunciando a reforma, os portões do
Alvorada abriram-se para Bresser. A conversa não foi fácil.
"As pressões são muitas, está difícil resistir", disse-lhe o presidente, propondo que ele esperasse
seis meses até uma definição de
sua posição no governo. Bresser
foi incisivo: "Ou eu fico ou eu não
fico. Você decide".
FHC decidiu. Ontem à tarde, já
em São Paulo, Bresser recebeu
um telefonema do futuro chefe da
Casa Civil, Pedro Parente. Foi ele,
não FHC, quem o demitiu.
Foi o próprio FHC, porém,
quem convidou seu substituto, o
embaixador Ronaldo Sardenberg, que vai acumular a nova
pasta com seus projetos do Ministério de Assuntos Extraordinários. Além dos amigos, FHC pode
ter desagradado a própria mulher, Ruth Cardoso, e assessores
diretos que defendiam enfaticamente a permanência de Lafer.
Ruth não gostou do desfecho.
Os íntimos do presidente não
perdoam o advogado Manoel Alceu Affonso Ferreira, cujo nome
foi sugerido a FHC pelo velho
amigo comum José Gregori, secretário de Direitos Humanos.
Ferreira conversou com o presidente por telefone na quarta-feira, aceitando o convite para o Ministério da Justiça. Na quinta,
com seu nome já circulando, recuou, justificando que sua segunda mulher simplesmente se recusara a morar em Brasília. "Um papelão", lamentou Gregori com
amigos.
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